Opinião

2022: Lula vem aí?

Esse artigo tem 2 partes:

A primeira aborda o cenário atual, estendendo para 2022, a segunda revive alguns momentos do PT e do Lula.

O fato disparador é que Lula vai virar ficha limpa

Com a iminente liberação das pendências judiciais de Lula, tudo indica que ele, se puder e quiser, concorrerá à sucessão de Bolsonaro contra o próprio Bolsonaro, nas eleições presidenciais de 2022 no Brasil.

Tenho bastante convicção que o STF vai manter em plenário, independente da forma, a anulação dos julgamentos que condenaram Lula em 2 processos, incluindo o processo referente ao sítio de Atibaia, com sentença proferida pela juíza Gabriela Hardt.

O motivo alegado da decisão do ministro Edson Fachin nesse sentido, não foi a suspeição do Moro, mas a pretensa incompetência da vara de Curitiba de julgar esses processos, que não seriam ligados diretamente à Lava Jato.

Essa decisão já poderia ter sido tomada muito antes, mas ela aconteceu só agora, dentro de uma aparente estratégia do Fachin de esvaziar o julgamento da suspeição de Moro. Parece que as leis passam longe dessa decisão.

Aparentemente, esse foi um tiro que acabou saindo pela culatra, porque Gilmar Mendes decidiu, de todo o modo, julgar a suspeição de Moro na segunda turma.

Os processos (Triplex e Atibaia) deverão retornar para a primeira instância lá em Brasília, o que certamente irá levar à prescrição dos crimes, agora reduzida pela metade porque Lula tem mais de 70 anos.

Desse modo, o Lula estará livre e desimpedido para concorrer às eleições de 2022 com o Bolsonaro.

Dado o fato, quem ganha as eleições de 2022?

Se o Bolsonaro, acha que isso o coloca em vantagem, tenho sérias dúvidas disso.

Se, de um lado, isso reaviva a polarização PT versus Bolsonaro, de outro, pulveriza qualquer pretensão de outros candidatos de ganhar o protagonismo no primeiro turno. Acredito ainda que isso irá gerar até desistências dentre os nomes que estão sento ventilados.

Conhecendo a vaidade humana, acho muito difícil que se chegue a uma candidatura de consenso para se colocar diante dessa polarização insana, reavivada com toda a força para as eleições de 2022 no Brasil. Ou seja, votos antipolarização terminarão se dividindo entre vários candidatos.

Portanto parece meio barbada que essa dupla deve ir para o segundo turno e, estando lá, será muito difícil o Bolsonaro ganhar porque tudo indica que o Brasil estará muito longe de estar em um mar de rosas, do ponto de vista econômico.

Não há indícios, a principio, que a ajuda emergencial vigorará ate as eleições de 2022, então teremos apenas a Bolsa Família e um cenário provável de deficit primário, já recorrente, ainda presente, junto com uma pressão inflacionária e também uma tendência de elevação da taxa de juros.

Já estamos pior do que muitos países da América Latina no prêmio de risco do país e com o dólar as alturas, mesmo quando comparado a outros países.

Pode ser uma imagem de texto
Dólar no Brasil comparado a outros países.

Previsões são feitas para errar, mas eu tenho a minha… E não tem nada a ver com torcida. É o que eu acho que vai acontecer.

Quem elege de fato são os mais pobres

Em termos do eleitorado, quem decide a eleição são as classes C, D e E.

A maioria de nós está em uma bolha e, por vezes, não nos damos conta dessa verdade, ainda que evidente.

O FGV Social computou que cerca de 87,4% das pessoas estão em domicílios com renda inferior a 2 salários mínimos, que praticamente bate com o somatório das classes C, D, e E.

A maioria das pessoas tem renda muito baixa

Um levantamento antigo cruzando pirâmide etária com classe social indica que, na classe A/B, 74% das pessoas tenham 20 anos ou mais contra 68% na classe C e 57,5% nas classes D/E.

Pessoas mais humildes têm mais filhos.

Ignorou-se aqui a antiguidade dos dados e a questão do voto facultativo (16 e 17 anos, analfabetos, 70 anos ou mais), adicionou-se uma estimativa de pessoas com 18 anos e 19 anos e ponderou-se pelo percentual de cada classe social ( 14,4% classes A/B, 50,3% classe C e 30,3% classe D/E).

Considerando isso se chega a uma estimativa de 61,5% * 30,3% (D/E)+ 72%*50,3% (C) = 54,9% versus 77% * 14,4% = 11,1% (A/B).

Ou seja, 17% do eleitorado tem melhores condições e o restante (83%) representa a massa que tem poucos recursos e, provavelmente, pouca informações e condição de assimilá-las.

A que tudo isso leva?

No lado mais perto da elite e dos formadores de opinião, o mito tem bastantes fãs e uma parcela que é mais antipetista do que qualquer outra coisa. No entanto, acredito que, nesse segmento, o antibolsonarismo já é mais forte.

Muito dificilmente o Bolsonaro irá sobrepujar o cacife e o carisma de Lula: afinal, dessa vez, não será o poste do Haddad, é o Lula em pelo.

Vejam que Bolsonaro ganhou do Haddad em 2018, mas a diferença foi de apenas 9,77%, o que é pouco em uma época que o mito representava ainda tanta esperança para uma parte relevante da população e Haddad se portava como o menino de recados do Lula, então preso.

De lá para cá, Bolsonaro perdeu muitos adeptos e fãs (ainda que sobrem muitos), veio a pandemia, e estamos em uma crise, que não me parece que irá clarear o suficiente até 2022, ainda que a COVID-19 esteja controlada.

Só que Lula não é Haddad: ele é carismático, sabe conversar, enquanto o mito de 2021 não é mais o mesmo de 2018. Um debate entre os 2 não será a molezinha que era Meirelles, Álvaro Dias, Alckmin, Marina e mesmo o Ciro, com sua retórica de tecnocrata falastrão.

E as redes sociais?

Em 2022 teremos novamente uma antevisão do poder das redes sociais. A maioria dos brasileiros se informam principalmente por manchetes, memes e fofocas. 2018 trouxe para o holofote da noite para o dia figuras até então desconhecidas como o Witzel, que hoje frequenta as páginas policiais.

Então será uma guerra. onde os 2 lados são fortes.

Lula, com certeza, usará a Dilma como bode expiatório, em parte, evocando os bons tempos até 2010, quando ele estava à frente do governo, e o desastre da gestão e do equilíbrio fiscal ainda não tinha dado seus sinais.

Além disso, Lula irá usar a abusar do “atestado”de inocência outorgado pelo STF, ainda que seja falso como uma nota de 3.

Fatos não deixam de sê-los, apesar da guerra de versões

Qual o pior lado do governo do PT?

O início do governo Lula foi auspicioso pois Palocci manteve o famoso tripé econômico do FHC (câmbio flutuante, meta fiscal e meta de inflação), mesclado com medidas de diminuição de desigualdades (aumento real e paulatino do salário mínimo e expansão do bolsa-família)

O grande desastre e legado, no final da era PT, foi econômico, agravado pela corrupção, que passou a campear.

Os principais fundos de pensão, além de estatais não bancárias (Petrobras, Eletrobras, Infraero e Correios) foram literalmente dilapidados.

Com o Guido Mantega, e a posterior guinada decorrente da Nova Matriz Econômica, tudo mudou, especialmente a partir da Dilma em 2011.

No final, houve grande aumentos dos gastos correntes, investimentos vultosos, mas ineficientes (via BNDES e por programas como PAC I, PAC II etc: alguns estádios para a Copa do Mundo de 2018 são perfeitos símbolos vivos dessa ineficiência), aumento do envidamento, controle de preços e controle do câmbio.

Por menos que se goste do Bolsonaro, muito do que vivemos hoje, do ponto de vista econômico, é mesmo uma herança maldita.

Afinal, os gastos correntes consomem quase todos os recursos do estado brasileiro e não são fáceis de cortar, além da dívida galopante.

Lula é mesmo inocente?

Ao contrário do que algumas mídias de esquerda espalharam aos 4 ventos, tais movimentos do STF são mais políticos do que jurídicos e estão muito longe de evidenciar a inocência de Lula.

Ainda que a requerida imparcialidade de Moro tenha ficado abalada com a divulgação de suas conversas, a divulgação delas foi ilegal e não deveriam, em um estado de direito, ser usadas como base de nenhuma decisão jurídica.

Além disso, nada do seu conteúdo, ainda que não republicano, caracteriza qualquer tipo de trapaça e adulteração de provas.

Existem uma chuva de indícios nos dois processos em que Lula foi condenado, que não cabe aqui revisitá-las, mas vale destacar abaixo 3 pontos mais levantados pelos defensores do Lula.

Não há prova cabal

Os lulistas sempre bradaram isso: só que se trata de um engodo. Raramente existe prova cabal em um processo criminal., particularmente em um crime de colarinho branco, que não há local, vítima e hora determinados.

Mesmo em crimes de assassinato, o DNA de alguém no corpo de uma vítima pode ser decorrência de circunstâncias alternativas que o explique, inclusive a partir de atos de incriminação.

O que existe, via de regra, é um conjunto de indícios que são consoantes, complementares e relativamente independente. Esses indícios podem ser testemunhais, lógicos, factuais, documentais etc.

Um indício sozinho não é uma prova cabal. No entanto, quando tudo é tomado em conjunto, torna-se praticamente o mesmo que a tal mítica prova cabal, justamente pela multiplicação das probabilidades individuais: por exemplo, se há 5 indícios com 50% de chance de demonstrar a culpa, tomados em conjunto como independentes entre si, eles perfazem 97% de chance do réu ser culpado. (1 – 0,5 ^ 5)

O bem (triplex ou sítio) não está no nome do Lula

Óbvio! Sabem por quê?

Porque o crime de Lula se enquadra ao crime de ocultação de bens (Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998), que foi alterado em 2012.

Desse modo, nunca aparecerá a prova em cartório da propriedade do Lula, assim como não aparecia as inúmeras propriedades do Pablo Escobar, que estavam em nome de diversos laranjas.

Todo ilícito gera dinheiro sujo, que precisa de laranjas para transformá-lo em bens. Meramente guardar o dinheiro em ouro ou dólar dentro de colchões ou em cofres, não costuma ser uma boa ideia. Ainda mais quando se quer, algum dia, quem sabe, usufruir os bens.

Depois, para que o dinheiro fique legalmente disponível é preciso levá-lo à luz do dia.

Para isso pode se usar consultorias fictícias, palestras inventadas (ou não), negócios de fachada (como as chamadas “lavanderias” dos chineses), compras subfaturadas de empresas ou participações etc.

Outra maneira de esquentar o dinheiro é pegar o dinheiro ilícito, comprar imóveis subfaturados e depois vender pelo preço cheio. Paga-se muito imposto sobre o lucro, mas se esquenta o dinheiro, sendo que a parte paga por dentro precisa ser justificada.

Se isso lembra o filho de um certo presidente, não é minha culpa.

O triplex é troco perto de outros escândalos por aí

Sim, fato, só que isso vale mesmo para o valor do triplex comparado a outras histórias do mesmo Lula.

Os peixes grandes nunca vieram à tona de verdade.

A relação enorme de palestras dadas pelo Lula em diversos países, pagas a peso de ouro, por empreiteiras favorecidas com obras no exterior. Muitas delas eram meros almoços do Lula com autoridades e empresários dos países em questão.

Outra fonte enorme de recursos, advindo em grande parte de construtoras beneficiadas, foi desviado do Instituto Lula, que nunca fez nada de fato pela memória de Lula, exceto desviar para contas particulares.

Conclusão

Tudo indica que o segundo turno das eleições presidenciais no Brasil será rico em escolhas: Lula ou Bolsonaro. Será que a minha previsão sobre o resultado final irá se realizar? E, depois, o que acontecerá com o que sobrar da Economia?

Paulo Buchsbaum

Fui geofísico da Petrobras, depois fiz mestrado em Tecnologia na PUC-RJ, fui professor universitário da PUC e UFF, hoje sou consultor de negócios e já escrevi 3 livros: "Frases Geniais", "Do Bestial ao Genial" e um livro de administração: "Negócios S/A". Tenho o lance de exatas, mas me interesso e leio sobre quase tudo e tenho paixão por escrever, atirando em muitas direções.

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