Esporte

Pelo fim dos pontos corridos!

Dos 14 anos de pontos corridos com 20 times na Série A, por 12 vezes, o campeão já estava colocado entre os 4 primeiros no meio da competição. Não precisamos de returno, precisamos de mata-mata.

Os pontos corridos vieram como solução para “injustiças” que ocorriam no mata-mata. Solucionava também o calendário, garantindo 38 datas com jogos para os clubes.

Mas chegamos sempre no meio da competição com apenas 2 ou 3, às vezes 4 times ainda lutando pelo título.

O resto, 16 a 18 times, à despeito de vender ilusões aos torcedores, estão, na realidade, jogando para cumprir tabela, ou lutando contra o rebaixamento.

Essa história de G4 para chegar à Libertadores, G6 para Pré-Libertadores, ou até G12 para Sul-Americana foi uma forma da mídia vender o produto futebol, mas não há emoção nisso.

Acaba criando absurdos, como um time lutar contra o rebaixamento durante todo o campeonato, e, em 3 rodadas finais, classificar para um torneio continental, que é a Sul-Americana.

O torcedor sofredor, acostumado a conviver com seu time na parte baixa da tabela, passa 19 rodadas em agonia, sem um mínimo de motivação em assistir futebol. E, se ainda continua acompanhando seu time, é na base da raiva e remédios para pressão, nada prazeroso. A alegria do futebol, que é a essência do esporte, e como cresci assistindo ou jogando, se perde durante longos meses. E o nível, naturalmente baixo, só faz irritar ainda mais qualquer torcedor, seja torcedor do time em agonia, seja o famoso torcedor-raiz, que foi tema de um post anterior, aquele que gosta de assistir XV de Piracicaba x Bauru, diretamente de Limeira.

Torcedor raiz, desesperado no primeiro rebaixamento do Vasco em 2008.

Enfim, não há justificativa para se manter 19 rodadas, com times zumbis jogando sem pretensão alguma no campeonato. Os discursos já decorados de que “vamos em busca de algo maior” se perde na realidade.

E o argumento de que o mata-mata não premia o melhor time, não é o que o brasileirão demonstrou enquanto teve os confrontos finais, senão vejamos os 14 campeonatos brasileiros antes da introdução dos pontos corridos em 2003, e os 14 campeonatos brasileiros de 2006 a 2019, quando tivemos efetivamente 20 times disputando a série A:

ANO TIME CAMPEÃO Posição na fase inicial
1989 Vasco
1990 Corinthians
1991 São Paulo
1992 Flamengo
1993 Palmeiras 2º geral
1994 Palmeiras
1995 Botafogo 2º geral
1996 Grêmio
1997 Vasco
1998 Corinthians
1999 Corinthians
2000 Vasco
2001 Atlético – PR
2002 Santos

Em 6 campeonatos, o líder da fase inicial, foi o campeão, e em outros 4 campeonatos, o time campeão estava entre os 4 primeiros na fase inicial.

Finalmente, em outros 4 campeonatos, o time campeão estava entre 5º e 8º lugar na fase inicial.

Agora vejamos como foram os campeonatos em pontos corridos com 20 times:

ANO TIME CAMPEÃO Posição na 19ª Rodada Distância (Pontos) para Líder
2006 São Paulo
2007 São Paulo
2008 São Paulo 8
2009 Flamengo 8
2010 Fluminense
2011 Corinthians
2012 Fluminense 1
2013 Cruzeiro
2014 Cruzeiro
2015 Corinthians
2016 Palmeiras
2017 Corinthians
2018 Palmeiras 8
2019 Flamengo

Com a adoção dos pontos corridos com vinte times, a partir de 2006, ao final do turno, o campeão já liderava o campeonato em 10 oportunidades, e estava entre os 4 primeiros em 2 outras vezes.

Portanto, tiro as seguintes conclusões (polêmicas) mas que estão nos números:

O returno dos pontos corridos é limitado a 4 times disputando o título.

16 a 18 times só entram em campo, não tem motivo para estarem no campeonato.

O mata-mata não impede, na maioria das vezes, que o melhor time seja campeão. Ou, pelo menos, que o campeão saia dos 4 melhores da fase inicial, mantendo o que ocorre ao final do turno nos pontos corridos, como vimos na tabela. Com a enorme vantagem que, após a fase inicial, temos finalmente jogo que vale tudo, jogo de jogador grande, de craque, jogo para criar atletas de copa do mundo (desde o fim do mata-mata não vencemos mais).

Entendo até que a mudança de calendário deveria ser maior, que deveríamos regionalizar as disputas no brasileiro em fases iniciais, com campeões regionais, uma espécie de NFL (a liga de futebol americano), mas isso será tema de um post futuro.

Agora, primordialmente, acho fundamental termos mata-mata. Os confrontos diretos é que trazem emoção.

Em 2001, surgiram, nos confrontos diretos, Kléberson e Gilberto Silva. Felipão acreditou neles e foram fundamentais na Copa do Mundo 6 meses depois.

Atlético Paranaense, de Kléberson, Campeão Brasileiro de 2001

E esse ano?

O campeonato já está decidido, ou pelo menos quase.

Infelizmente, há diversos jogos a serem realizados para efetivamente termos o final do primeiro turno, mas já podemos eliminar mais de uma dezena de times.

Sport, Corinthians, Ceará, Atlético-GO, Botafogo, Bahia, Vasco, Coritiba, Bragantino, Athlético-PR, Goiás estão a mais de 8 pontos do líder, e nunca o campeão estava a mais do que isso na virada do turno, desde a implantação de 20 times nos pontos corridos.

Grêmio e Fortaleza também estão a mais de 8 pontos do líder, mas tem um jogo a menos, no entanto podemos eliminá-los da disputa sem muita conta, nesse confuso brasileirão de jogos adiados.

Palmeiras, Santos, São Paulo e Fluminense, em teoria, nesse ano, excepcionalmente mais equilibrado, ainda estão na disputa.

Então poderíamos ir de mata-mata para definir o campeão?

Semifinal do Campeonato Brasileiro de 1988, Bahia 2 x 1 Fluminense, recorde de público na Fonte Nova

Vamos passar um turno inteiro para descobrir que o campeão estava na virada do turno entre os 4 primeiros colocados nesse ano, aguardando que completemos os jogos que faltam no primeiro turno.

Portanto, para nós, torcedores-raiz, acostumados a assistir futebol com emoção verdadeira, queremos a volta do mata-mata já! Chega de justiça com tédio!

Edson, erguendo a Taça de Bolinhas para o Guarani, Campeão Brasileiro de 1978

Queremos ver o time ser campeão, e, ato contínuo, erguer a taça e dar a volta olímpica!

Sport, Campeão Brasileiro de 1987

E vocês? Gostam do campeonato arrastado, limitado a poucos clubes, time campeão recebendo a taça no “Bem Amigos” do SporTV, mas com justiça esportiva, ou, jogos finais com playoffs emocionantes, possibilidades de zebras e a volta olímpica triunfal?

Vinícius Perilo

Vinícius Perilo, 47 anos, é engenheiro civil apaixonado por todos os esportes. Tudo começou no Ursinho Misha em Moscou 80, e, a partir daí, acompanhando ídolos como Oscar, Hortência, Bernard, Jacqueline, Ricardo Prado, Joaquim Cruz. Ama futebol como todo brasileiro, faz parte da geração que chorou de tristeza a derrota de 82 e de alegria com o Tetra em 94. Realizou um sonho de criança e conduziu a Tocha Olímpica para a Rio 16. Ainda acredita no Brasil olímpico.

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