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ANITTA PRÁ PRESIDENTE?!! O FATOR ANITTA

O fato

Como mulher,  executiva  e conselheira certificada pelo IBGC e com alguns anos de experiência em conselhos, recebi com surpresa  a nomeação da Anitta para conselheira do Nubank. Assisti, pelas mídias sociais, as mesmas reações de surpresa de colegas conselheiros.

Mas, mais interessante para mim que a nomeação da Anitta, foram os passos que eu segui processando a notícia e algumas conclusões que cheguei (embora ainda com muitas dúvidas).  

Isso me fez perceber que a riqueza dessa conversa talvez não seja sobre caso em si, mas sim o que ele representa: uma empresa que não tem medo de desafiar o status quo. Pelo contrário, o faz como necessidade e rotina. Pergunto-me, não teríamos todos tal necessidade? E se a resposta é sim, nós executivos e conselheiros estaríamos à altura desse desafio como a Anitta parece estar?

A Anitta desse post não é uma artista, ou uma conselheira, é  um FATOR de transformação, que poderíamos chamar FATOR ANITTA. Como toda transformação, incomoda, faz pinicar a cadeira. Mas não nos dá outra opção a não ser pensar,  repensar, rever nossas crenças e nos abrirmos para a possibilidade dela dar bons frutos. Por que não? 

O processo –  EU1: Anitta?!!! EU2: Por que não Anitta?

Eu Bloco 1 – Anitta?

1. Ela tem as competências tradicionais para o cargo? Minha primeira reação foi:  não pode ser! Conselheiro tem que entender de finanças, riscos, contabilidade, ter tempo e como a Anitta tem tudo isso? Seria o mesmo que levar o Mick Jagger para o conselho de um grande banco inglês? 

2. Conflito de interesse? Boa prática? A segunda foi de dúvidas  éticas  – usar o conselho como plataforma de marketing é correto? Conselheiro agora ganha cachê e não remuneração? Como administrar o conflito de interesse de uma conselheira que tem possivelmente outros contratos com a empresa, como garota propaganda? Ela vai se sentir a vontade para contestar uma administração que a remunera em outros contratos provavelmente de forma milionária? 

Todas reações legitimas e ainda sem respostas, mas minhas terceira e seguintes reações foram as mais interessantes. 

Eu Bloco 2 – Por que não Anitta?

3. Ela não se contenta em ser vitrine e decidiu virar fábrica? Tem alguma coisa acontecendo ai. Um produto/serviço/ modo de trabalho novo? Uma artista que não se contenta em vender um produto mas quer fazer parte do desenho (e virando acionista)  dele é algo novo. Uma influencer que “não é vitrine, é fábrica”.   Um garota-propaganda-administradora. Show das poderosas.   Ponto para a Anitta.  

4. Eu, com preconceito? ! Tem algum preconceito de  classe, de gênero, cultural rondando meu julgamento? Bem eu que sou mulher, venho de uma família sem posses,  também caio nessa? Como  mulher deveria estar bem  feliz de ver mais uma Anit(ta) em um conselho de um banco tão importante, não deveria?   Ponto para a Anitta, para o Nubank e para as mulheres.

5. Eu, resistindo à mudança? Humana, esperada, mas prá lá de indesejada essa resistencia… Conselheiros, executivos deveriam ser mais abertos às mudanças, não? Acolhê-las, pensar sobre elas antes de rechaçá-las  de cara?   Ou estar aberto e se antecipar às mudanças e  riscos futuros não agrega valor? Óbvio que agrega.  

Poucos  conselheiros com perfil tradicional na Petrobras ou Vale viram riscos como corrupção  e rompimento de barragens chegarem e  dilapidarem sem piedade o  valor de suas empresas.  Isso sem falar que pandemia mesmo ninguém viu chegar em lugar nenhum do mundo.  (meu post passado é sobre issohttps://papodeboteco.net/opiniao-princ/pandemia-que-pandemia-mais-uma-intriga-dos-ecochatos-setembro-19/?_thumbnail_id=10430). 

E sem falar se, no conforto de nossas salas, estamos reinventando nossas empresas para adaptá-las à onda de economia verde? Ou ainda estamos olhando pro teto com balões de dúvidas e levantando sobrancelhas como se isso ainda fosse um problema burocrático do Depto do relatório de sustentabilidade e não nosso? 

Empresas de petróleo que não explorarão mais petróleo, empresas de carne que desenvolverão carnes não animais?!  Esse futuro já está nas nossas cabeças? 

Talvez o banco que não “esfole” os excluídos do sistema formal bancário já esteja na cabeça da Anitta. Se vai dar certo eu não sei, mas o desafio aqui é pensar.

Quem sabe não deveríamos mesmo rever nosso perfil ideal de conselheiros e reconectá-los mais ao mundo?  Quem sabe não esteja na hora  de derrubar os muros das  confortáveis salas de conselho, forradas de luxuosos revestimentos, servidas com permanente café quentinho e madeleines e deixá-la a céu aberto, quem sabe ao som de música funk/pop que é a música escutada pelo público da Anitta. Um público que é o seu, o meu, o nosso público (a não ser que voce seja representante do Fasano ou da Louis Vuitton) ?   Ponto para o Nubank.

6. Eu agrego valor? Essa sim foi a mais difícil do processo… A hora da verdade, Eu como conselheira ou executiva deveria me perguntar se no próximo conselho ou posto executivo, eu conseguirei agregar tanto valor como a Anitta agregou ao Nubank em dias? Todos os conselheiros /executivos deveriam estar se perguntando isso hoje. E sempre.  

E que tal, com humildade, checar também a lista ideal  ideal de competências como a proposta pelo IBGC? Ninguém é perfeito, eu ao menos não sou, por que a Anitta haveria de ser? 

Será que seu valor à empresa não compensa seus gaps? Será que as competências e deficiências dos membros de conselho se compensam, com talentos complementares como em qualquer time? Enfim, não sei. São perguntas, sem pretensão de dar respostas. E eu sigo pensando sobre mim…

Segue o “score tentativo” da Anitta como conselheira. Como disse, não conheço nem a Anitta, nem os detalhes do contrato, mas fica como ilustração.

Conclusão

Ainda tenho muitas dúvidas, de governança corporativa, não tenho detalhes sobre o contrato, sobre conflitos de interesse, mas isso não importa. O caso especifico da Anitta deixo para reguladores e acionistas do Nubank. 

Como disse, estou mais interessada do que ela provocou, NO FATOR ANITTA.  

Como conclusão, gosto muito mais das interpretações do FATOR ANITTA da  terceira reação em diante. A que agrega às competências tradicionais legalistas, de compliance, de governança, todas muito importantes,  outras  competências como as inovação permanente, de abertura para o novo, de curiosidade. Competências de quem não se contenta com a primeira resposta. De quem  gosta de se desafiar. De quem  escuta ativamente.  De quem é solidário com as diferenças e é  inclusivo. De quem  está aberto a mudar de opinião.  De quem não  resiste  à beleza e ao poder  das mudanças, apesar dos medos, e que reconhece o valor da permanente capacidade de se reinventar. De quem olha prá fora e não prá dentro.

 Talvez novos exemplos de qualidades e competências de conselheiros que deveriam entrar na lista do IBGC acima. Se eu fosse um head hunter de conselho pensaria nisso. 

Quem sabe também os 150 milhões de head hunters (eleitores)  não se abram para reinventar os critérios de qualificação para outros cargos do país?  Quem sabe o FATOR ANNITA seja uma útil ferramenta para sairmos dessa encruzilhada? E  quem sabe a própria Anitta? Anitta para presidente?

Calma, pense e repense antes de reagir…   Afinal, o problema do Brasil parece um pouco maior que o do Nubank e, em vez de 6 passos de reflexão, talvez uns 600 consigam dar conta do recado.

Julieda Puig

Julieda ... é a Julieda. Mãe de 2, companheira de 1, filha, irmã, amiga e, nas horas vagas, trabalha e é responsável por Compliance em um banco na terra da Rainha. Graduada e mestre em Economia pela USP e GV. Vive em Londres, “fisicamente” e, no Brasil, “virtualmente”, já que seu coração não se separa de lá. A ideia é visitar o boteco de vez em quando, como uma “correspondente 🗺” contar um pouco como é a vida por essas bandas do planeta. Às vezes vai falar séria e apaixonadamente (porque, afinal é boteco e porque senão não seria ela!) sobre ética, compliance, sustentabilidade, políticas públicas, corrupção e inclusão, seus temas preferidos. Mas a verdade é que a maior parte das vezes não pretende falar muito sério não... Já deixa claro que é bem livre na opinião, prá desespero dos carimbadores de plantão..

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2 Comentários

  1. A questão é classificar a Anitta como um símbolo de empoderamento feminino. Ela é mulher bem sucedida, sem dúvida, mas quantos estupros, gravidez precoce, sexo promíscuo a Anitta não provocou com seu trabalho? Poder feminino é se pendurar seminua em homens cheio de correntes douradas? O trabalho da Anitta incentiva isso! É muito fácil pra ela, com um segurança pra cada fio de cabelo, se exibir praticamente nua, com danças de conotações explicitamente sexuais como vimos recentemente num show com Léo Santana. O que acontece depois ou até durante seus shows, representa o enpoderamento que desejamos pra nossa juventude? Estamos num nível de educação que respeita o Não é Não? Sabemos que não. Por isso não recebo de maneira positiva a contratação da Anitta. Temos várias outras personalidades femininas bem sucedidas que representam o que desejamos para os jovens desse país. Pra finalizar, Anitta não representa meus valores.

  2. Creio que está na hora de aparecer uma geração de gestores incrivelmente nova, incrivelmente mesmo. Os Luciano(s) Huck, Danilo (s) Gentile e Anita(s)….e os Amauri(s). Já ouviram falar?

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