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Cenas de lutas ou de batalhas definitivas

Em pleno Havaí, em evento da empresa, naquelas horas em que os colegas foram fazer suas indefectíveis comprinhas, eu preferi entrar em um cinema vazio para assistir a um filme chinês, falado em mandarim, com legendas em inglês. Sim, sou estranho. Perguntei se alguém queria ir comigo, mas, não sei por quê, ninguém se habilitou.

O ano era 2000 e o filme era O Tigre e o Dragão, de Ang Lee. As cenas de kung fu desafiando a gravidade me deixaram impactado na poltrona do cinema. Parecia um sonho, um delírio, mas era um filme que me fez me apaixonar pelo gênero, que depois saberia se chamar wuxia. Dois anos depois, eu assistiria, em plena China, ao filme definitivo desse estilo: Hero, de Zhang Yimou. Definitivo é o termo preciso, porque, pra mim, suas lutas de espada pairando sobre telhados de templos, em bosques outonais de cores vivas, flutuando sobre o lago azul, em câmera lenta e preto e branco sob o som hipnotizante das cítaras chinesas, ou em meio a uma profusão de cores e tecidos, nunca mais foram igualadas. De certa forma, Hero “estragou” os filmes subsequentes do gênero.

Algo parecido se passou quando vi O Resgate do Soldado Ryan, do Steven Spielberg, em 1998. Aquela chocante cena inicial, do desembarque da Normandia no dia D, com direito a sangue espirrando na câmera, me deixando boquiaberto, arruinou todos os filmes de guerra depois. Os cineastas têm de dar cambalhotas para fazer algo novo, como Sam Mendes tentou no filme 1917, do ano passado, com o longa todo em um plano sequência, ou como Chris Nolan se esforçou em Dunkirk, em 2017, com pontos de vista poéticos. Mas não tem jeito, em termos de guerras, Spielberg estragou tudo, desde 1998, pelo menos pra mim!

Mas ainda resta uma esperança. Achava, por exemplo, que O Senhor dos Anéis tinha arruinado as cenas posteriores de embates medievais de fantasia, com suas pelejas sensacionais com elefantes, até assistir a batalhas como a de Black Castle ou a dos Bastardos, ou ainda as com participação dos dragões, em Game of Thrones. Que sequências maravilhosas, alternando o grandioso com o particular. Se repassassem esses episódios no cinema, eu já ia reservar a primeira fila no IMAX!

E agora? Será que essa carcaça que vos escreve ainda vai ser surpreendido com lutas ou batalhas que superem essas? Quem sabe, um dia, estarei eu, bem velhinho, numa viagem da melhor idade em um país exótico e, quando todo mundo se dirigir às comprinhas, eu notarei, em um obscuro cinema, um cartaz de um filme com título incompreensível, mas a imagem do poster me fará ter um palpite. Daí, sozinho, eu entrarei na sala escura e aí, gente, eu me maravilharei, às lágrimas emocionadas, com simplesmente a melhor sequência de luta ou de batalha que essas fatigadas retinas já teriam testemunhado. A ponto de dizer: “agora sim, já posso morrer!”. Ou então, pode ser que seja somente uma comediazinha romântica e eu, senil, estaria dessa vez só delirando mesmo, sabe-se lá!

Vladimir Batista

Vladimir Batista é escritor, professor e cinéfilo. Após 25 anos trabalhando como engenheiro em multinacionais de tecnologia, resolveu abraçar sua paixão de infância pelas palavras e por contar histórias e segue carreira na área de Letras e Literatura. Gosta de filmes e livros de gêneros variados, atendeu a vários cursos e oficinas de roteiros de cinema, de série e de técnicas de romance e tem um livro publicado pela Amazon: “O Amor na Nuvem De Magalhães”. Vladimir é casado, vegetariano e “pai” de cachorros resgatados.

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2 Comentários

  1. Hero é um filmaço, mesmo !
    E, filmes em IMAX eu assisto sempre na ultima fileira: é o jeito de conseguir enquadrar a tela inteira no meu angulo de visão…

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