Opinião

A crise energética é fabricada e explico porque!!!

Introdução

O movimento de substituição dos combustíveis fósseis por fontes não poluentes é muito louvável.

Desde a Eco’92 no Rio de Janeiro, as nações estão se articulando para tal, tendo o aquecimento global como argumento inicial, e mais recentemente a mudança de discurso para mudanças climáticas.

A estes dois discursos, se soma agora o discurso ESG (do inglês Environmental, ambiental, Social, Social, e Governance, Governança), encabeçado pelas “mentes brilhantes” da elite econômica, representada pelo forum economico mundial, e suas famosas reuniões em DAVOS, Suíça.

ESG é muito mais que apenas substituição de combustíveis fósseis por energia renovável (Environmental).

ESG é uma narrativa linda, que inclui o Social (relações entre empresas e funcionários, sem esquecer as minorias, e suas bandeiras identitárias, propondo resolvê-las), chegando numa robusta conclusão de que a solução dos itens anteriores, o ES, é bom para as empresas, e portanto para economia, traduzindo-se como boa Governança (G do ESG), ou seja, é fator decisivo para empresas se tomarem mais valiosas, com valorização das suas ações nas bolsas de valores.

Que fantástico, que proposta de valor excepcionalmente simples e poderosa, né?

Tudo certo? Tudo amarradinho?

Desenvolvimento

Então….

Vamos começar a análise:

O Environmental

As escolhas para substituição dos combustíveis fósseis, feitas há mais de 20 anos, por fontes energéticas renováveis recaíram sobre o vento [Eólica], solar [Fotovoltaica] e água [Hidroelétrica/Hidroeletricidade].

A fonte Hidrelétrica (construir usinas hidroelétricas em locais com quedas d’água) é fantástica, porém tem probleminhas: (a) o recurso água é muito mal distribuído na face da terra, e é essencial para todos os seres vivos, ou seja, a água tem uso múltiplo e não dá para priorizar seu uso para geração de energia elétrica: uma barragem que abre e fecha, sendo a lógica de geração de energia elétrica, e princípio de manejo da água. O que sobra (social e ambientalmente corretos) são as hidroelétricas sem reservatórios, chamadas de a hidrelétricas a fio d’água, que estão 100% a mercê dos fluxos de água dos rios, fluxos estes sujeitos a frequência intermitente das chuvas;

(b) os recursos vento e sol, que, por definição, também são intermitentes.

Ou seja, todas as fontes de energia escolhidas para substituição das fontes fósseis, consideradas poluentes na iniciativa ESG, são intermitentes!

O que isto significa?

Significa que quando usamos estas fontes, em substituição, ou completar, às fontes fósseis (as usinas termoelétricas alimentadas com combustíveis fósseis, poluentes mas bem estáveis) não temos certeza se – quando ligarmos o interruptor de uma lâmpada ou equipamento eletrodoméstico – teremos energia suficiente para atender toda a demanda de energia elétrica, reforçando que todas as escolhas ESG, feitas para geração de energia elétrica, são virtualmente intermitentes.

Mas tem mais.

Nestes últimos 20 anos, os países mais ricos e desenvolvidos, iniciaram um movimento legislativo intenso no sentido de banir as fontes fósseis (poluentes) de suas matrizes energéticas, movimentos estes traduzidos por leis ambientais mais rigorosas, aumento de impostos, e grande quantidade de comunicação midiática negativa para aqueles que persistissem no uso de fontes fósseis (poluentes porém estáveis), para geração de energia elétrica, inclusive elétrica.

O ESG está sendo eficaz em endereçar a prioridade pelo ambiente, e conseguiu reduzir tremendamente os investimentos em toda cadeia produtiva de combustíveis fósseis, da exploração ao refino, chegando a sua utilização na geração de energia nas formas térmica e elétrica.  

Claro que esta redução foi acompanhada de redução tremenda de investimentos de capitais financeiros, e também da redução do capital humano (gente treinada).

Mas há um lado desta história muito pouco comentado pela mídia: 6/7 da população do globo vive em países pobres, ou começando agora a se desenvolver. Esta população não tem dinheiro suficiente, sequer para saneamento básico, comida, saúde e educação, o que dirá para investir em pesquisa, desenvolvimento e produção de tecnologias de geração de fontes de energias sustentáveis. E estes países não estão recebendo nenhuma ajuda financeira ou técnica – zero – dos países desenvolvidos, para se proverem de geração sustentável da energia elétrica, a níveis mínimos para suas necessidades energéticas básicas. Ha países que não têm energia elétrica sequer para suas crianças estudarem, e fazerem suas lições de casa, depois do pôr do sol, e são obrigadas a fazerem uso de lamparinas a querosene, inalando gases da queima deste combustível fóssil, muito frequentes na Índia e África subsaariana.

O protocolo de Kyoto, que previa – que os países ricos iriam transferir recursos para os países pobres poderem também desenvolverem suas fontes renováveis – nunca foi implementado de fato, com base em narrativas de que os pobres não seguem a risca determinados condicionantes, que eles, em verdade, não têm como seguir, simplesmente porque pobre vive o agora, e da mão para a boca. Esta realidade parece ser muito difícil de um rico entender. Será que realmente querem entender? A Índia e o Brasil, acima da multidão de pobres e em desenvolvimento, gritam esta realidade, a todo pulmão, de que os ricos não têm interesse, ou será empatia, para entender.

Continuando

Então veio a pandemia e, por dois anos, a atividade econômica global foi deprimida pelos lockdowns massivos, ênfase dada aos países ricos, e a demanda de energia abaixou junto com o nível de atividade econômica (assim é, energia e atividade econômica são muito ligadas uma a outra), e o problema energético pode ser deixado em segundo plano, enquanto a atenção da saúde pública foi priorizada.

E daí a pandemia saiu de cena, e a economia mundial começou a se movimentar novamente, e junto com ela o aumento da demanda de todas as formas de energia, incluindo energia elétrica.

Bem, mas esta movimentação se deu no contexto de centenas, milhares, de termoelétricas desativadas, desmontadas; de usinas nucleares fechadas, principalmente nos países ricos, onde a agenda ESG avança a pleno vapor, com suas restrições a combustíveis fósseis e nucleares.

E daí bum!

Começa a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, do nada, depois de conflitos limitados que se arrastavam desde 2014, quando a Rússia invadiu a Ucrânia anexou uma parte dela, Chamada de Criméia,  afetando o fluxo de energia para Europa, sem opção de novas fontes a curto prazo, pega virtualmente de calças na mão: Além de Rússia e Ucrânia serem produtores de petróleo (ênfase dada a Rússia),  pelo território da Ucrânia passa grande parte dos gasodutos que levam o gás da Rússia para Europa, gás este que a Europa é muito dependente para tudo. Uma guerra extemporânea, sincronizada com o fim da pandemia, com motivos muito estranhos. 

E os Estados Unidos?

O país era pressupostamente autossuficiente em energia.

Daí, o Presidente Biden vai a TV, e implora para as petroleiras do oriente médio, e até a Venezuela aumentarem suas produções.

Daí, a Rússia desvia cada dia mais gás e petróleo, (que antes supria Europa, países ricos) a para China e Índia, pois a Europa passa a boicotar a Rússia por sua guerra sem motivo contra a Ucrânia.

Lógico, neste caos, o petróleo sai de 40 dólares o barril para quase 130 dólares.

A conclusão

A conclusão é que esta crise de energia é sim fabricada, (i) ou por erro de condução das políticas de energia, sob a égide de um movimento “fofo”, “naive” chamado ESG, sem a mínima empatia por 6/7 da humanidade, (ii) ou pior, propositadamente para gerar o caos, com visitas a ganhos, com o árbitro ao acesso a fontes energéticas.

E o Brasil nessa história?

Hoje, 30% da matriz de geração energia elétrica brasileira ainda depende de fontes fósseis (se pensarmos em todas as formas de energia como um todo, chega a mais de 60%), que têm seus preços/custos de geração arbitrados, de forma direta, pelo preço do barril do petróleo.

A EPE [Empresa de Pesquisa Energética], vinculada ao MME [Ministério das Minas e Energia], e que dá apoio técnico a ANEEL [Agência Nacional de Energia Elétrica] na previsão dos preços de geração de energia elétrica – que é base no custo de geração termoelétrica, a combustíveis fósseis (barril de petróleo equivalente) – em sua última previsão, logo antes da guerra Rússia e Ucrânia, indicava que o preço futuro do barril de petróleo em dezembro de 2027 poderia ser algo como 60 a 70 dólares. Hoje, junho de 2022, já está a 110/130. Isto explica por que as bandeiras tarifárias (dinheiro extra exigido para produzir energia elétrica, devido ao risco, ou melhor, percepção de risco, de falta de água) acabou de subir em média 64%.

Mais um tempo e teremos um aumento extraordinário das tarifas de energia elétrica, devido a eventual, aliás muito provável, necessidade de mais energia elétrica decorrente da melhora da economia.

Assim, só uma recessão brutal nos salva de aumentos da tarifa de energia.

Pensando melhor, talvez nem uma recessão nos salve.

Barnabe da Silva Jr

Brasileiro, paulista de Santo André, Casado, um filho. Engenheiro (Escola de Eng. Mauá), MBA em MKT pela FGV, mestre em Engenharia (planejamento energético) Poli/USP , e doutorando Engenharia (planejamento energético) pela Poli/USP (um dia acabo). Executivo de empresas nacionais de TI até 2017, pesquisador em energia (atualmente armazenamento de energia elétrica me chama a atenção), e professor convidado, de pós graduação apenas, até o início da pandemia. Desde dezembro de 2019, sou sócio de uma empresa de consultoria soluções em energias renováveis, com ênfase em regulação energética e na análise de viabilidade técnico-econômica de projetos de geração distribuída de energia. Desde o início da pandemia (março de 2020) moro em um sítio afastado da cidade de Mogi das Cruzes, onde por sorte consegui, as minhas custas, por um link de internet banda larga, assim posso desenvolver a maioria de minhas atividades em home-office. Não pretendo voltar morar na cidade: Só visitas pessoais e profissionais. Meus hobbies: Leitor voraz de livros (a maioria digital, amazona Kidle), fã de ficção cientifica (filmes, series e livros), prático em habilidades manuais que me deixem mais independente da infraestrutura das grandes cidades: Aprendendo a fazer facas artesanais; planto 60% dos alimentos que como, frutas, verduras, legumes e plantas medicinais, e plantas alimentícias não comerciais. Acabei me tornando especialista em fungos, mais conhecidos com cogumelos comestíveis, ênfase champignon e shimeji: Tenho 7 estufas de porte comercial, onde atualmente planto shimeji. Cristão protestante praticante.

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