Opinião

Don’t panic: O Guia do Mochileiro da COP26 (ou A Resposta para Tudo é 1,5ºC)

Semana passada, a revista Veja publicou a reportagem Por ‘ansiedade climática’, os jovens estão optando por não ter filhos, com exemplos de comportamento como o relato de um casal de brasileiros que mora na California, 23 e 24 anos, Geração Z raiz, que entre os diversos fatores que levam em conta na vida sustentável a dois que pretendem levar, inclui: “Tentamos fazer nossa parte. Nós nos tornamos veganos e não queremos ter filhos, pois sabemos que isso aumentaria a pegada de carbono e contribuiria para o colapso mundial. Se em algum momento quisermos ser pais, pretendemos adotar. Assim estaremos ajudando não só o planeta como também a criança”.

VIDA A DOIS – Casais em parque de Nova York: as novas gerações têm receio de se tornar pais – Alexi Rosenfeld/Getty Images

Parece piada, colocar a preocupação com o clima acima do desejo biológico (ou religioso), do Crescei e Multiplicai.
Mas, este tipo de receio preocupa 48% dos jovens brasileiros.
E 43% dos australianos.
E 38% dos britânicos.
E 37% dos franceses.
E 36% dos americanos.

E, o mais engraçado nisso? Eles estão certos!
Já, já, conto porque… siga o post!

Teoria Populacional Malthusiana:

A população do planeta permaneceu mais ou menos estável durante mil anos. A seguir, teve um período de crescimento marginal até 1800. E, vive 220 anos de crescimento exponencial, desde então.

Em 1850, a população mundial era de 1,262 bilhões de pessoas. Hoje, 8 bilhões. Um aumento de 400%.

A “Ciência” no século 19, na figura de Thomas Robert Malthus (17661834), afirmava que a explosão demográfica inevitavelmente resultaria na fome como grande flagelo para a humanidade. Resumidamente, pregava que a população crescia em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos crescia em progressão aritmética. No limite, isso acarretaria uma drástica escassez de alimentos e, como consequência, a fome. Portanto, inevitavelmente o crescimento populacional deveria ser controlado.

O intenso crescimento populacional de 1800 até hoje se deve à vacinação e campanhas de saúde pública que reduziram doenças nos adultos e mortalidade infantil. Este processo, conhecido como transição demográfica, se caracterizou pelo declínio das taxas de mortalidade e fecundidade, com mais pessoas vivendo por mais tempo e menos crianças nascendo. A expectativa de vida aumentou em mais de 20 anos nas últimas cinco décadas.

Outros fatores foram a redução do número de filhos por mulher decorrente do uso de métodos contraceptivos; o tratamento de água; a incidência dos surtos de fome que vêm diminuindo em muitos países graças à revolução tecnológica no setor agrícola e o maior acesso aos serviços de educação e tratamentos médicos e remédios eficientes.

Atualmente, a população mundial de 8 bilhões de pessoas se divide conforme a seguinte pirâmide etária:

  • Baby Boomers – 60 a 80 anos – 0.9 bi
  • Geração X – 40 a 60 anos – 1.9 bi
  • Millenials – 25 a 40 anos – 1.85 bi
  • Geração Z – 10 a 25 anos – 1.9 bi
  • Alphas – 0 a 10 anos – 1.4 bi

Os jovens que citei no primeiro parágrafo deste post pertencem aos 3,75 bilhões da soma dos millenials com os da geração Z, e raciocinam:

Uma criança a menos no planeta contribui para reduzir o nível médio de CO2 na atmosfera em 58,6 toneladas por ano, mais do que outras três opções: viver sem carro (menos 2,4 toneladas), evitar viagens aéreas (menos 1,6 tonelada) e adotar uma dieta vegetariana (menos 0,8 tonelada).

Eles já começam errando por extrapolar a partir de dentro de sua bolha, sem entender que o resto do mundo não vice como eles: optar por não ter um filho em um país desenvolvido economizaria 58,6 toneladas por ano. Em países menos desenvolvidos, a pegada de carbono é muito menor, como o gasto por uma criança em Malawi: não mais do que 0,1 toneladas.

Estes jovens, preocupados com ecologia, meio ambiente, mudanças climáticas e o futuro do planeta, tem grande parte de seus representantes mais ativistas e militantes ecológicos vivendo nos degraus mais altos da Pirâmide de Maslow: Suas necessidades fisiológicas e de segurança já estão atendidas e garantidas, portanto se permitem focar sua atenção em aspirações mais altas, como a preocupação com o clima do planeta em 2050.

Tão modernos, tão millenials … só que se comportam como a versão hipster dos malthusianos do s´´éculo 19: Lêem os números passados e atuais, extrapolam para um futuro inevitavelmente apocalíptico a partir da realidade atual e entram em pânico, esquecendo a característica número 1 do Homo sapiens, que nos tornou a espécie dominante no planeta:

A capacidade humana de adaptação às novas situações e criação de inovações necessárias.

A temida teoria populacional malthusiana, que citei acima, simplesmente não se confirmou, porque em resposta ao desafio aconteceu a Revolução Verde : Intensiva utilização de sementes geneticamente alteradas (transgênicas), uso de novos fertilizantes e defensivos agrícolas, desenvolvimento da mecanização e tecnologia no plantio, irrigação e colheita, proporcionou um significativo aumento na produção agrícola a partir da década de 1960 no EUA e na Europa e, nas décadas seguintes, em outros países. Hoje, o volume de alimentos produzidos no mundo é suficiente e tem margem para crescer ainda mais, mesmo com a população atual sendo 400% maior do que era em 1850.

Vamos voltar a falar do Acordo de Paris …

No meu post Tudo que você não sabia que queria saber sobre a COP26 (Ou, “Carro elétrico , você ainda será obrigado a ter um…”), descrevi em linhas gerais o que será discutido na COP26, principalmente que a cúpula é o passo seguinte necessário para a implementação das metas definidas no Acordo de Paris, em que não foram detalhados cursos de ação sobre como o mundo alcançaria o objetivo principal do Acordo :

Alcançar, até 2050, o balanço de carbono neutro e manter um aumento de temperatura global máxima de 2,0ºC, de preferência 1,5ºC, em relação à 1850.

Por que 1850?

Por ser o ano a partir do qual se iniciou a revolução industrial, com o início da aceleração de emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, conforme o gráfico abaixo.

Uma análise feita pela Carbon Brief sugere que a pandemia de covid19 iniciada em 2020 pode ter causado um corte de emissões da ordem de 2 bilhões de toneladas de CO2 (BtCO2) ano passado. Essa estimativa é equivalente a 5,5 % do total global emitido em 2019.
Já a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) prevê um impacto maior, sugerindo que as emissões de CO2 poderão cair 8% nesse ano, cerca de 2,6 BtCO2. Esses cenários indicam que a redução desse ano seria 6 a 8 vezes maior que a observada na última recessão global.

Eles estimaram que, para manter o planeta no “caminho certo” e mantermos o aquecimento global abaixo do limite de 1,5°C até o final do século, o mundo precisaria que essa taxa de redução de emissões se mantenha. Citam:  “… a redução observada nesse ano é o tipo de redução que precisamos todos os anos para atingirmos zero emissão em 2050…”

Sim, você leu certo. Os impactos provocados pela pandemia na diminuição das atividades econômicas, circulação de pessoas, suspensão de aulas, desemprego, aumento da pobreza, óbitos foram comemorados como um bem para o planeta.

foram comemorados como um bem para o planeta???!!!

Mais um pouco de eco-história: Olhando com detalhamento a curva de emissão de CO2 de 1900 para cá, notamos que os breves períodos de diminuição de emissão do gás (Viva!!!) coincidiram com momentos de crises mundiais, que impactaram na economia e na qualidade de vida da população mundial.

Algumas linhas acima, escrevi que aqueles jovens que sofrem de ansiedade climática estavam certos em sua decisão de não querer ter filhos. Compare as duas curvas, de crescimento populacional versus a de emissão de CO2, nos últimos séculos :

Tripé da Sustentabilidade:

Em 1994, John Elkington criou o Triple Bottom Line ou Tripé da Sustentabilidade. O método incorpora a visão ecológica de uma empresas com base em três princípios: People (Pessoas), Planet (Planeta), Profit (Lucro), também conhecido como os 3Ps da Sustentabilidade. 

Vou me apropriar deste conceito para expôr a minha opinião sobre a COP26. Só trocando Profit (lucro) por Atividade Econômica.

É aqui que as 3 abordagens se cruzam.

A População vêm aumentando numa escala exponencial (400% de 1850 até hoje).
Fato.
O Planeta tem sofrido aumento exponencial da emissão de gases poluentes.
Fato.
A População tem suas demandas atendidas pela Atividade Econômica, através dos processos produtivos que geram poluição e consumo dos recursos naturais do Planeta.
Fato.

Preservação ambiental versus crescimento populacional e econômico sempre serão incompatíveis, em maior ou menor grau. Sempre. A tecnologia pode reduzir o grau de emissões, ou até mesmo criar soluções ambientalmente sustentáveis, mas serão mais caras, ou atenderão menos pessoas, que as atuais.

A “ciência climática” prega que o planeta precisa retornar ao nível de emissão de carbono de 1850, mesmo com bilhões de pessoas a mais no mundo e com todas as novas demandas atendidas pela tecnologia, indústria e alimentação de 2021, não as que existiam em 1850.

Esta conta, simplesmente não fecha. Gente polui. Viver polui. Mais gente vivendo mais polui mais. Ponto.

Os organismos multilaterais e governos de países desenvolvidos têm forçado as empresas a implementar uma transição rápida para o mundo verde. Do lado privado, a mudança no comportamento do consumidor de países ricos e o ESG também forçam na mesma direção.

Resumindo, a maior pressão vêm basicamente do mesmo público: eleitores ou consumidores millenials e da geração Z de países ricos . Contraditoriamente se dizem preocupados com “o mundo que deixaremos para nossos filhos e netos” ao mesmo tempo que evitam ter filhos hoje e fecham os olhos para as consequências que seus desejos resultarão para os habitantes atuais do planeta. Sendo cruelmente direto ao ponto:

Acham a biosfera do planeta, sua fauna e flora, mais importantes do que os seres humanos que o habitam.

Preservação do meio ambiente“, para os bilhões de miseráveis dos países mais pobres e super-populosos do mundo atual, não é manter a temperatura em 1,5ºC a mais do que em 1850. As pessoas que vivem no limite da sobrevivência não saberem ou darem importância para isso é mais do que compreensível. Não se pode esperar que quem não tem onde morar nem sabe como se alimentará amanhã se preocupe com o futuro da vida humana no planeta ou com os desastres climáticos.

Eles precisam ter saneamento básico hoje, despoluir os rios fétidos que atravessam suas cidades hoje, limpar e coletar o lixo de suas ruas hoje, ter energia e matéria prima para produzir bens de consumo que lhes faltam hoje, construir moradias dignas hoje. Ter áreas de agricultura e pecuária produzindo alimentos para os bilhões de pobres asiáticos, africanos, latino-americanos, por um custo que eles consigam pagar. Hoje.

Os ambientalistas argumentam que este é um preço baixo a pagar para salvar a humanidade da catástrofe das mudanças climáticas. Mas, não são os ambientalistas da ONU que pagam este “imposto verde”. Ao contrário dos pobres no Brasil e em países subdesenvolvidos, a população de países ricos pode se dar ao luxo de pagar mais caro. Pirâmide de Maslow, Lembra?

Os barulhentos ativistas ecológicos acampados em Glasgow, do lado de fora da COP 26, ao redor de sua profeta do apocalipse Greta Thunberg, temem o fim do mundo porque vêem as mudanças climáticas e os eventos extremos … acreditam piamente na ciência que crava que “a culpa é do aquecimento global” … olham para si mesmos e, neste espelho, não enxergam o que fez a humanidade chegar até aqui, repito, como a característica número 1 que nos tornou a espécie dominante no planeta:

O alarmismo ambiental despreza a capacidade humana de se adaptar e resolver problemas.

Citação do ativista climático Michael Shellenberger, em seu livro “Apocalipse Nunca”

Voltando a falar da COP26:

Imagine um prédio de 20 andares, que não têm relógios de consumo de água e eletricidade individualizados por apartamento. O prédio tem as seguintes características:

  • O apartamento da cobertura é responsável pela grande maioria do consumo total do prédio, só que lá fica a piscina aquecida, que todos os moradores do prédio usam;
  • Em cada apartamento moram famílias de 1, 2 ou 3 pessoas. Mas em um moram 15 pessoas e em outro, 10;
  • A maioria dos apartamentos não tem ar-condicionado. Mas, 2 deles climatizaram os andares inteiros;
  • O apartamento do penúltimo andar faz festas todos os finais de semana, convidando todos os apartamentos vizinhos, que usam o elevador pra chegar lá em cima.
  • O jardim com vegetação do prédio pertence ao apartamento do térreo, que o irriga e faz a manutenção das plantas, mas os demais moradores desejam frequenta-lo também.
  • O valor das contas de água e luz é dividido igualmente por 20 e se elevou muito nos últimos tempos, causando reclamação em todos os moradores.

A COP 26 é a reunião de condomínio deste prédio

Segundo a organização da COP26, os 4 pilares principais da cúpula são:

  • Mitigação
  • Adaptação
  • Finanças
  • Cooperação.

Vou reproduzi-los abaixo, como já os listei anteriormente em Tudo que você não sabia que queria saber sobre a COP26 (Ou, “Carro elétrico , você ainda será obrigado a ter um…”), só que acrescentando aos objetivos listados em cada pilar observaç˜ões que, se fosse numa reunião de condomínio daquele prédio, seriam feitas ao síndico, sobre as contradiç˜ões na maneira como esses objetivos podem ser alcançados e suas consequências na vida real das pessoas.

Mitigação:

Atualização das metas de redução até 2025 e 2030 de emissões de gases de efeito estufa (GEE) de cada país visando atingir balanço de carbono neutro até 2050 através da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC)

  • As posições assumidas por China, Índia e Rússia no encontro do G20 em Roma impediu que a declaração final do encontro de cúpula trouxesse a meta da neutralidade de carbono para 2050. A China, sozinha, polui mais do que todos os demais países da OCDE e a população somada deles equivale a 1/3 da total do planeta. Se 3 dos maiores poluidores do planeta já sinalizaram que não cumprirão a meta de prazo, do que valerá o esforço dos demais?
  • O mundo vive um período pós-pandemia, em que as economias foram fortemente abaladas. Seria o momento ideal para altos investimentos em objetivos de longo prazo, não na aplicação destes recursos limitados nas necessidades emergenciais?

Estabelecer data limite para acabar com o uso de carvão como fonte de energia em grande escala. Estimular investimentos em energias renováveis (solar, hidroelétrica, eólica, etc.)

  • China é o maior importador mundial de carvão, fundamental para sua matriz energética. Índia, Indonésia, Austrália dependem da exportação deste carvão para manter equilíbrio em suas balanças comerciais. Rússia, Nigéria (maior PIB da África) e países do Oriente Médio dependem das divisas obtidas pela exportação de petróleo. Com tantos bilhões de pessoas vivendo em países que dependem tanto da economia girando em função dos combustíveis fósseis , acha mesmo que há interesse real neles de fazer a transição energética?
  • Os ativistas que exigem energias limpas e renováveis, que não use combustível fóssil, são os mesmos que protestam contra o uso de eletricidade produzida por usinas nucleares ou contra a criação de represas de água para alimentar usinas hidrelétricas, por inundar florestas ou aldeias indígenas. A energia gerada por fontes eólicas ou solares sofrem do efeito da sazonalidade e gera apenas uma pequena fração da eletricidade consumida na calefação do rigoroso inverno europeu e norte-americano. Alguém vai dizer na cúpula que não existe almoço grátis?

Estabelecer período de transição para que todas as vendas de veículos novos sejam de zero emissões, como elétricos alimentados por energia proveniente de fontes renováveis

  • A União Européia pretende que, até 2035, todos os carros vendidos no bloco sejam elétricos, extinguindo a produção de veículos a combustão. Eles já fizeram o cálculo do quanto é necessário a mais de energia elétrica disponível pra alimentar esta maior demanda?
  • Os carros elétricos são muito mais caros que os equivalentes com motor à combustão, apesar de muitos países concederem subsídios nos impostos e terem pontos gratuitos de recarga. Ou seja, são brinquedos pra ricos, subsidiados pela arrecadação de toda a sociedade.
  • Se o proprietário mora em uma casa pode deixar o veículo recarregando durante a noite , como fazemos com um celular. Mas, e quem mora em edifícios, de garagem comum?
  • Quando pegamos uns 15 minutos de fila num posto de combustível, somados aos 5 ou 10 minutos para encher o tanque e pagar a conta, já consideramos uma espera excessiva. Como as pessoas reagirão ao saber que o tempo de mesmo num ponto de carregadores super-potentes é ainda maior (Saiba quais são os carregadores veiculares mais potentes do mundo clicando aqui e aqui )
  • O componente mais caro do carro elétrico são as baterias, que tem garantia e vida útil em torno de 8 anos. Isso praticamente inviabiliza o mercado de carros usados. Talvez isso implique na necessidade de mudança no modelo de negócios: ao invés de comprar o carro, optar por um sistema de utilização por assinatura.
  • Disponibilizar carregadores super-potentes pode ser uma oportunidade de negócios para atrair público, como lojas, shoppings, estacionamentos, etc.

Reduzir as emissões de metano, gás com 21 vezes o poder de aquecimento do dióxido de carbono

  • Mais de 100 países, incluindo o Brasil, responsáveis por 50% da das emissões de metano na atmosfera, anunciaram  que farão parte de uma iniciativa lançada por EUA e União Européia para reduzir as emissões de metano em 30% até 2030. China, Índia e Rússia, grandes poluidores, não fazem parte deste acordo. E aí, simplesmente não aceitam e fica por isso mesmo?
  • Lembrando que existe uma relação direta entre a pecuária como a emissão de metano de uma país. Aí, caímos novamente naquele ponto sobre o que é mais importante: alimentar os 8 bilhões da população atual com uma fonte de proteínas por preço acessível ou se preocupar com o aquecimento global de 2050?

Acabar com o desmatamento até o final da década e recuperação de áreas desmatadas, já que as florestas desempenham um papel crucial no sequestro de carbono da atmosfera

  • Brasil, China, Rússia, Indonésia, Congo e outros líderes de mais de cem países assinaram nesta terça a Declaração de Glasgow, prometendo deter e reverter o desmatamento e a degradação do solo em 2030. No total, esses países “reúnem cerca de 85% das florestas do mundo, uma superfície de 33,6 milhões de km2”, segundo a presidência britânica da COP-26. Acreditam mesmo que esta promessa será cumprida por todos estes países?
  • A área total da Amazônia representa mais da metade das florestas tropicais remanescentes no planeta e compreende a maior biodiversidade em uma floresta tropical no mundo (7 milhões de quilômetros quadrados, sendo 5,5 milhões de quilômetros quadrados cobertos por floresta tropical). A área pertence a nove países ( 60% da floresta no Brasil, 13% no Peru e partes menores na Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e França (Guiana Francesa). O desmatamento da floresta no Brasil era de 27 mil km2/ano em 2004, despencou para 4 mil km2/ano em 2012, subiu para 11 mil km2/ano em 2019 e manteve-se praticamente estável em 12 mil km2/ano em 2020. Numa conta de padaria, com este desflorestamento de 12 mil por ano, levaria 460 anos para se devastar a área remanescente florestal total (lembrando que o país Brasil, “descoberto” pelos europeus em 1500, existe a praticamente o mesmo tempo que isso, 521 anos) . Se o Brasil tem esta área tão extensa e relevante de florestas pro mundo, e o desmatamento ocorre numa velocidade tão menor do que EUA e Europa fizeram com suas florestas naturais, nosso país não deveria ser tratado com mais importância nas cúpulas internacionais e não deveríamos receber a justa remuneração anual pela conservação, em nosso território, de um bioma internacionalmente importante?

Adaptação:

Estabelecimento de medidas a serem adotadas para adaptar e proteger, com urgência, as comunidades e os ecossistemas que já estão sendo afetados pelas mudanças do clima

  • Meu pitaco: Deveria ser criado um Fundo global, financiado pelos países e empresas mais poluidores do mundo, para ser utilizado pelos países pobres, porém com superavit de sequestro de carbono, em ações compensatórias por desastres naturais que seus territórios sofram, acima da média histórica.

Ações para capacitar e incentivar os países afetados pela mudança climática a proteger e restaurar os ecossistemas, implementação de sistemas de alerta e adaptação da infraestrutura e agricultura para tornarem-se mais resilientes, a fim de evitar a perda de moradia, meios de subsistência e vidas

  • O Brasil tem 85% de sua energia elétrica gerada por fontes renováveis, contra uma média mundial de 23%. Na matriz energética total, incluindo petróleo e carvão, é 48%, contra 14% da média mundial. Brasil é o 3º país de energia limpa mais limpa do mundo, atrás somente da Islândia e Noruega. Mas isto não é reconhecido e somos criticados, por conta do outro lado da equação do balanço de carbono, o sequestro de carbono, em função do desmatamento. Falta termos a adequada postura nas negociações internacionais, para obter remuneração pela conservação desses biomas sumidouros de carbono.

Ações para enfrentar as consequências de eventos climáticos extremos (intensas ondas de calor; períodos prolongados de seca; enchentes causadas por chuvas torrenciais; maior ocorrência de ciclones, tufões e furações; incêndios florestais)

  • 50ºC no verão canadense, 40ºC no da Sibéria, contra -30ºC no vortex polar no inverno americano
  • Incêndios na California, na Australia
  • Recorde de focos de incêndios no Pantanal Sul-matogrossense e em seus vizinhos no Paraguai e Bolivia
  • Inundações recordes na Alemanha, secas recordes no sudeste brasileiro
  • Leandro Narloch publicou recentemente um texto chamado Clima nos apavora justamente quando conseguimos sobreviver a ele. Ele resume que “Luta contra o aquecimento global precisa de inovadores, e não de ativistas obcecados com o apocalipse” e destaca que “As mortes por desastres naturais diminuíram 87% desde a década de 1920 até os anos 2010 … A taxa em relação à população teve picos de 63 mortes por 100 mil habitantes em 1921, e 176 em 1931. Hoje está em 0,15. … a humanidade está apavorada com os infortúnios do clima justamente depois de conseguir sobreviver a eles … ao mesmo tempo em que emitimos muito (mas muito mesmo) carbono na atmosfera e causamos um grave problema de efeito estufa, também nos tornamos menos vulneráveis à natureza. Na verdade, proteger-se do clima foi um dos principais motivos para termos poluído tanto. … o alarmismo ambiental despreza a capacidade humana de se adaptar e resolver problemas … a Holanda, por exemplo, tornou-se uma nação rica mesmo tendo um terço de suas terras abaixo do nível do mar, incluindo áreas que estão nada menos do que sete metros abaixo do mar”

Finanças:

Regulamentação do artigo 6º do Acordo de Paris, sobre o mercado global de créditos de carbono

  • A regulamentação do mercado de carbono … será retroativa? A situação atual do planeta é resultado de emissão de poluentes desde 1850, e estima-se que 40% destas emissões de CO2 foram sequestradas neste período. Países como o Brasil, com suas florestas que são sumidouros de carbono, serão remunerados por estes 171 anos que sequestrou a emissão dos poluentes da Europa e Estados Unidos?

Implantar o valor combinado no Acordo de Paris de US$ 100 bilhões anuais, que as nações ricas concordaram em transferir para os países em desenvolvimento com o objetivo de reduzir as emissões de combustíveis fósseis, aumentar o sequestro de carbono e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas

  • Cem líderes mundiais reunidos COP26  anunciaram o Forest Deal, um fundo de US$ 19 bilhões de dinheiro público aportado por 12 países entre 2021 e 2025, para ações ligadas à preservação das florestas, combate a incêndios, reflorestamento e proteção de territórios indígenas, que tem como meta zerar o desmatamento no mundo até 2030. Mas, não era pra ser US$ 100 bi/ano ?
  • Comparado com os valores citados nos itens a seguir, na ordem de grandeza de trilhões de dólares, este montante de 100 bilhões de dólares anuais, das nações ricas e desenvolvidas, que já devastaram suas florestas naturais e emitiram mais CO2 nestes 2 séculos, para os países em desenvolvimento, que não poluiram e não polueem igual, com todo o respeito, é dinheiro de pinga

Viabilizar o financiamento necessário para garantir o balanço de carbono neutro, com o financiamento subsidiado para o desenvolvimento de tecnologia, pesquisas e inovação visando uma economia verde e resiliente ao clima. 

  • Estudos da Associação Internacional de Energia estimam em 5 trilhões de dólares por ano, em 2030, o volume de investimentos necessários para atingir o balanço neutro de carbono.

Subsídios voltados para eletrificação da frota de veículos e aumento das fontes de energia renováveis

  • A união Européia estima em 4 trilhões de dólares o investimento necessário em fontes de energia solar e eólica para atender a demanda mundial.
  • Adaptação para as condições específicas de cada país. O Brasil, por exemplo, não precisa “eletrificar” sua frota. Uma frota baseada em carros híbridos, movidos a etanol e eletricidade, com sistema de recuperação energética das frenagens regenerativas, como o usado pelo Toyota Prius, é muito mais racionalmente adequada para um país com nossas características.

Colaboração:

Finalização do Livro de Regras Detalhadas do Acordo de Paris, que o tornem operacional, com engajamento entre governos, empresas e sociedade civil:

Integração entre a recessão global causada pela pandemia e as questões climáticas urgentes, para que o mundo aproveite a janela de oportunidade de recuperação econômica que leve em consideração os desafios ambientais, numa base verde e ecologicamente sustentável ( a iniciativa European Green Deal, proposta pela Comissão Européia, pode se tornar um case de paradigma a ser usado como benchmark )

  • O pilar anterior, Finanças, mostra que a ordem de grandeza dos investimentos estimados pelos países desenvolvidos, na casa dos trilhões de dólares, basicamente são alocados em iniciativas com o objetivo de manter o estilo de vida de sua população. É como o equilíbrio calórico em um regime: para emagrecer, ou você queima mais energia se exercitando, ou fecha a boca para consumir menos calorias. Pelo que ando vendo, os países desenvolvidos exigem um tipo de atitude dos mais pobres, enquanto eles fazem a outra.

Para finalizar, vou adaptar uma citação do meu amigo Marcelo Guterman, colega daqui do Papo de Boteco :

Essa discussão sobre aquecimento global é como falar sobre desigualdade de renda: Todo mundo concorda que algo precisa ser feito, cobra dos governos alguma atitude, mas ninguém quer se mover um milímetro do seu lugar. O problema são sempre os outros.

Capa do livro best-seller de ficç˜ão cient´ífica, que inspirou o t´ítulo deste artigo

Gui

Sou o Gui. Fiz arquitetura, pós em marketing, MBA em comércio eletrônico. Desde criança , quando adorava ler Julio Verne, eu gosto de explorar, descobrir novidades. Aqui no Papodeboteco vou conversar contigo sobre descobrir como podemos explorar nosso tempo livre.

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