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O hábito libertador de só ter opiniões baseadas em fatos (Resenha – Parte II)

No artigo anterior https://papodeboteco.net/cultura-princ/livros-princ/o-habito-libertador-de-so-ter-opinioes-baseadas-em-fatos-resenha-parte-i/, tratei dos cinco primeiros instintos (separação, negatividade, linha reta, medo e tamanho) enumerados no brilhante livro ‘Factfulness’, de Hans Rosling, agora abordaremos um detalhamento dos cinco últimos, tão importantes quanto os primeiros: instinto da generalização, do destino, da perspectiva única, de culpar e da urgência. Todos eles constituem o arcabouço que nos ilude e previne de entendermos o mundo a partir de fatos e não de narrativas falaciosas, informações incompletas ou superficiais. Conforme explicado no primeiro texto, o que segue é um apanhado de anotações extraídas diretamente do livro mescladas com pitacos do escriba que vos escreve.

INSTINTO DA GENERALIZAÇÃO

Generalizações e estereótipos enganadores funcionam com uma espécie de abreviatura para a mídia, fornecendo maneiras rápidas e fáceis de simplificar uma histórica e convencer as pessoas sobre alguma conclusão. Quando muitos se conscientizam de uma generalização problemática, ela é chamada de estereótipo. As generalizações bloqueiam nossa mente para diversos tipos de entendimento.

O instinto da separação divide o mundo entre ‘nós’ e ‘eles’ e o da generalização faz com que ‘nós’ pensemos que todos ‘eles’ são iguais.

Ao responder à pergunta do questionário sobre o percentual de crianças de até 1 ano já vacinadas no mundo, todas as plateias inquiridas por Hans erraram vergonhosamente e no topo dos equivocadas estava uma audiência formada por gestores de finanças em um encontro global de um dos maiores bancos do mundo. A resposta correta, que era 80%, foi assinalada por um % mínimo de respondentes, que obviamente optaram por opções piores (60 e 40%). A extrema privação que assistimos na mídia acaba estereotipando a maioria da humanidade.

O autor conta a história de uma jovem estudante de medicina que quase teve sua perna decepada ao tentar evitar que a porta de um elevador se fechasse em um hospital da índia, desprovido de sensor. O diretor do local surpreendeu-se com o autor, indagando como as pessoas poderiam assumir que haveria sensores em todos os elevadores do mundo. Eis o instinto da generalização.

Hans também exemplifica a situação em que se deu conta do próprio instinto de generalização, quando ainda estudante veterano de medicina, participou de uma aula em uma universidade em Banagalore, na índia, e arrogantemente esperava estar em um nível muito acima do que os colegas indianos, quando ao final da aula surpreendeu-se exatamente com o contrário. Estava lá novamente o instinto de generalização, dessa vez fazendo juízo de valor sobre o conhecimento científico nas universidades de países de terceiro mundo.

Para dirimir dúvidas em relação ao nocivo instinto da generalização, os autores criaram um site denominado dollarstreet.com, onde publicam fotos de cômodos das casas em diversos países, diferenciados pelos níveis 1, 2, 3 e 4 explicados no artigo anterior. Não se surpreendam com o fato de que os quartos de casal de pessoas pertencentes ao nível 4 são todos muito parecidos, independentemente do seu país de origem.

Algumas dicas importantes para evitar o instinto da generalização:

  • Tenha cautela em relação ao termo ‘maioria’, ele tanto pode significar 51% quanto 90%;
  • Tenha cautela em relação a exemplos excepcionais.

Algumas pessoas tem medo de todos os produtos químicos, por causa de exemplos pontuais de contaminação. Mas o que seria de nossa vida sem sabão, plástico, detergente, papel higiênico, antibióticos, etc, todos produtos químicos? Se você não tem problema em concluir que todos os ‘químicos’ são inseguros com base em um exemplo, porque não pode concluir que todos os químicos são seguros com base em outro exemplo que diga o contrário?

  • Aceite que as pessoas não são idiotas.

Na Tunísia, é muito comum ver casas inacabadas. À primeira vista, pode parecer descuido dos moradores, mas na verdade é uma opção para a população desbancarizada que não quer guardar dinheiro em casa, por razões de segurança. Elas investem em tijolo e reboco e aos poucos vão reformando a casa, em um projeto de longo prazo. É uma maneira de assegurar que não irão perder o seu dinheiro.

  • Tenha cuidado em ao generalizar de um grupo para outro.

Durante a II Guerra Mundial, descobriu-se que o índice de sobrevivência de soldados inconscientes era maior quando eles eram deixados deitados de bruços. Posteriormente, essa regra foi adotada para bebês dormindo, embora nunca fosse comprovado por números a diminuição de óbitos por mal súbito, pelo contrário. Até que pesquisadores em Hong Kong em 1985 descobriram que no caso de bebês dava-se exatamente o contrário, quando dormindo de bruços, as chances de morrer vítimas do próprio vômito era maior. De costas, normalmente os bebês tinham forças para inclinar-se lateralmente quando iam vomitar, o que não acontecia quando estavam de bruços. A boa nova demorou a ser assimilada em todos os países, uma prática que evitaria a morte súbita de dezenas de milhares de bebês nos anos seguintes, ao contrário da anterior, que deve ter proporcionado exatamente o contrário. A generalização de dois grupos distintos, soldados inconscientes e bebês dormindo, ceifou prematuramente milhares de vidas por décadas.

Não podemos impedir generalizações, mas devemos evitar generalizar incorretamente:

  • Procure por diferenças dentro de grupos;
  • Procure por semelhanças entre grupos;
  • Procure por diferenças entre grupos;
  • Tenha cautela em relação à maioria;
  • Tenha cautela com exemplos vívidos, que são exceção;
  • Aceite que as pessoas não são idiotas

INSTINTO DO DESTINO

É a ideia de que características inatas determinam o destino de pessoas, nações, religiões ou culturas. Esse instinto nos faz crer que as generalizações e as divisões (do instinto de separação), além de verdadeiras, são predestinadas, constantes e imutáveis. Historicamente ele ajudou em nossa evolução, pois os humanos viviam em ambientes que não mudavam muito. Aprender como as coisas funcionavam e assumir que continuariam daquele jeito provavelmente foi uma excelente estratégia de sobrevivência, concebendo também noções de propósito para clãs, tribos, nações e impérios.

Sociedades e culturas mudam. Ideias de que países ou determinados grupos não mudarão por seus valores não passam de sentimentos disfarçados de fatos. Tomemos como exemplo o continente africano: há cinco países cuja expectativa de vida é superior à média mundial de 72 anos: Tunísia, Marrocos, Egito, Argélia, Líbia. Encontram-se nesse momento no nível em que estava a Suécia em 1970. Nosso destino é progredir.

Outro exemplo contundente que contradiz o instinto do destino é a média de filhos por mulher, comparada entre os EUA, hoje em 1,9 e o Irã, um país islâmico, hoje em 1,6

A quantidade de filhos/mulher depende do nível de renda e não da religião, conforme ilustra o gráfico abaixo. Essa realidade é detratora do instinto do destino.

É importante não confundir nenhuma mudança com mudança lenta. Não despreze uma variação anual de 1%.

Esteja preparado para atualizar seu conhecimento.

Fale com o seu avô. Verifique opiniões públicas sobre determinado assunto em seu país há 30 anos.

Colecione exemplos de mudança cultura. Em 1996, 27% dos americanos aprovavam o casamento gay. Hoje são 72% e o número permanece subindo.

Reconheça que muitas pessoas, países, religiões, culturas parecem constantes apenas porque as mudanças estão acontecendo lentamente.

INSTINTO DA PERSPECTIVA ÚNICA

Formar sua visão de mundo confiando na mídia seria como formar sua visão sobre mim olhando apenas para a foto do meu pé. Ideias simples são muito atraentes: todos os problemas tem uma causa única e todos os problemas tem uma solução única. Nesse contexto, vale incluir duas ideia comumente formadores de seguidores com perspectivas únicas: livre mercado e igualdade.

Ser sempre a favor ou sempre contra qualquer ideia específica deixa você cego para informações que não se encaixam na sua perspectiva, o que geralmente é uma má abordagem se você pretende entender a realidade.

A perspectiva única muitas vezes é fomentada por especialistas. Esses são assim se definem, mas o são somente dentro de suas áreas. Pode ser difícil para eles admitirem, mas é a realidade. Ser inteligente, bom com números, até mesmo um prêmio Nobel não é atalho para o conhecimento factual.

Temos experimentado progresso em direitos humanos, proteção animal, educação de mulheres, conscientização do clima, etc. Talvez muitos ativistas tivessem impacto maior na área em que atuam se não seguissem uma perspectiva tão singular, se compreendessem o impacto dos progressos já realizados, talvez conseguissem maior disposição de engajamento daqueles que são alvo de suas campanhas.

‘’ Dê uma martelo a uma criança e tudo vai se parecer com um prego’’ .

Ter um amplo conhecimento sobre um assunto pode interferir na capacidade de um especialista enxergar o que realmente funciona. É sempre melhor enxergar o mundo de muitas maneiras diferentes.

Números não são a única solução.

O autor nos brinda com o exemplo de um ex-presidente de Moçambique, Pascoal Mocumbi, qu certa vez lhe disse que a situação em seu país melhorava consideravelmente. Indagado pelo autor de como ele poderia ter certeza disso, dado que as estatísticas sobre a economia do seu país não eram confiáveis, ele respondeu que através da qualidade dos sapatos das pessoas no desfile de 1/05, ocasião em que tradicionalmente todos se vestiam da melhor maneira possível, além do olhar para inúmeras construções e melhorias em andamento nas casas populares.

O mundo não pode ser compreendido sem os números, mas também não pode ser compreendido apenas com eles.

Medicina não é a única solução.

O autor expõe ume exemplo interessante de uma tentativa de erradicar a tuberculose em vilarejos da África, através de ônibus com médicos e enfermeiros capazes de efetivar testes e distribuir medicamentos, uma vez identificada a doença. Isso enfureceu a população, que não aderiu ao programa, por sentir-se furiosa pelas equipes serem incapazes de resolver problema banais de saúde que lhes afligiam muito mais. Medicina preventiva ou básica seria um remédio melhor.

Em países paupérrimos, o transporte aos hospitais é mais importante que a quantidade de enfermeiros e o acesso à eletricidade é mais importante que a quantidade de professores.

Para resolver um problema, tenha uma caixa de ferramentas e não somente um martelo. Tenha cautela com ideias e soluções simples.

INSTINTO DE CULPAR

O autor abre o capítulo fazendo referência à uma aula que ele proferiu onde comentou que as empresas farmacêuticas dificilmente fazem pesquisa sobre malária, doença incidente somente nos países mais pobres, ao que imediatamente um aluno retrucou dizendo que deveria socá-las. Aprofundando-se na sugestão do estudante, ele perguntou quem ele deveria socar, se os funcionários, executivos ou membros do Conselho das farmacêuticas. Depois de algum tempo, o aluno conclui que os acionistas delas é que deveriam ser ‘socados’ por exigirem sempre lucros a qualquer custo. Diante dessa resposta, Rosling respondeu que os maiores acionistas das farmacêuticas eram fundos de pensão, mais conservadores e atraídos pelos resultados contínuos e sem solavancos desse tipo de negócio. Pois bem, fundos de pensão são constituídos por aposentados e consequentemente, o aluno poderia se sentir à vontade para voltar para casa e socar seus avós.

Aparentemente, é algo natural para nós decidirmos que quando as coisas dão errado deve ser por causa de algum indivíduo com más intenções. Gostamos de acreditar que tudo acontece porque alguém quis, que indivíduos tem poder e influência. De outro modo, o mundo parece imprevisível, confuso e assustador. O instinto de culpar faz com que exageremos a importância de indivíduos ou grupos específicos e atrapalha nossa capacidade de desenvolver uma compreensão do mundo, rouba nosso foco enquanto nos obcecamos em encontrar alguém para culpar e bloqueia nosso aprendizado, pois desperdiçamos a chance de entender ou resolver um problema.

Jogar a culpa da queda de um avião em um piloto que dormiu não vai ajudar a prevenir acidentes futuros. Se pararmos de pensar nesse ponto (encontramos o culpado), não evoluímos. Temos que olhar para além do indivíduo, para o sistema. O mesmo instinto é deflagrado quando as coisas vão bem. Crédito vem tão fácil quanto a culpa.

Empresários malvados, políticos gananciosos, jornalistas, estrangeiros são usuais culpados pelos problemas do mundo.

Em 2015, 4000 refugiados morreram afogados no mar Mediterrâneo tentando chegar à Europa em botes infláveis. Quase em tempo real, a culpa foi atribuída a empresários gananciosos que exploravam as pessoas cobrando uma taxa de 1000 Euros por pessoa em embarcações nada confiáveis. Porém…alguém poderia se perguntar por que refugiados que tinham esse valor, não pagavam uma passagem aérea, mais barata. Bem, a diretriz do Conselho Europeu de 2001 determina que as companhias aéreas são responsáveis pelo custo de retorno de todos os imigrantes ilegais que tentassem entrar no continente. Como é impossível verificar em um check-in de 1 minuto quem é refugiado ou não, a consequência dessa determinação é que a viagem de avião para refugiados se tornou inviável, a menos que encarassem uma solicitação de visto que levaria 1 ano para ser obtida. Também por determinação da União Europeia, embarcações que levem imigrantes ilegais seriam confiscadas e não devolvidas, obviamente obrigando os proprietários a utilizar barcos sem muita confiabilidade, uma vez que teriam viagem única. Não restam dúvidas que a legislação europeia, endossada por todos os países, foi determinando no naufrágio que matou aquelas 4000 pessoas. A culpa atribuída aos empresários gananciosos foi uma resposta simples e equivocada ao problema.

Somente em breves períodos com líderes e conflitos excepcionalmente destrutivos, a trajetória do desenvolvimento social e econômico foi interrompida. Isso faz surgir a pergunta se líderes realmente tem tanta importância assim. Dois exemplos saltam aos olhos. Muitos atribuem o sucesso da redução de filhos/mulher na China à política de filho único adotada por Mao, mas na verdade a tendência de redução começou antes dessa imposição. Também no quesito ‘uso de anticoncepcionais’ pela população, algo desaconselhado pela Igreja Católica na figura do Papa, verifica-se que o percentual de uso não diferem em populações distintas, independentemente de sua religião.

Quando identificamos o vilão, paramos de pensar. Quase sempre a situação é muito mais complicada do que a mera ‘fulanização da culpa’ e temos múltiplas causas em interação. Se você quer mudar o mundo, precisa compreender como ele realmente funciona.

Procure causas e não vilões. Procure sistemas e não heróis.

INSTINTO DE URGÊNCIA

‘Você precisa fazer alguma coisa’’

O autor nos relata uma experiência passada pela qual ele se arrependeu durante toda vida. Em uma ocasião quando ele trabalhava em um vilarejo africano, uma doença desconhecida começou a se espalhar na comunidade. Na dúvida se era algo contagioso, o médico e o prefeito local bloquearam as estradas durante a noite. Sem ter como chegar de ônibus ao trabalho, muitas pessoas se valeram de jangadas para ir de um local a outro. Na data, o mar estava turbulento e houve uma tragédia, afogamentos com dezenas de mortes. A urgência em tomar uma medida, mesmo na incerteza, foi o fato causador do desastre.

Quando estamos com medo, pressionados pelo tempo e pensando nos piores cenários possíveis, nossa tendência é tomar decisões realmente estúpidas. Nossa capacidade de pensar analiticamente pode ser dominada pelo impulso de decidir rapidamente e sem demora.

Somos descendentes daqueles que decidiram e agiram rapidamente a partir de informações insuficientes. Hoje, ainda precisamos do instinto de urgência, quando por exemplo um carro aparece do nada à nossa frente, e precisamos tomar uma ação emergencial. Mas agora que eliminamos a maioria dos perigos imediatos, nos restam apenas problemas mais complexos e frequentemente abstratos e o instinto de urgência também pode nos atrapalhar quando se trata de compreender o mundo. Ele nos estressa, amplifica nossos instintos e os deixa difíceis de controlar.

Não temos instinto semelhante de agir quando nos confrontamos com riscos que estão muito distantes, no futuro. Diante desses riscos, somos bem indolentes. Por outro lado, com alguma frequência nos convencemos que um futuro risco incerto é um risco imediato garantido.

O autor cita uma interação com o ex-presidente americano, Al Gore, então ativista ambiental, onde ele de certa forma o pressionou para divulgar informações que despertassem o medo nas pessoas, em relação ao impacto futuro de mudanças climáticas, algo que o autor declinou educadamente.

Falar sobre o futuro envolve sempre um nível de incerteza, devemos ser claros e francos sobre isso. Não devemos considerar as estimativas mais dramáticas e mostrar o pior cenário como se fosse uma certeza. Devemos mostrar uma previsão média e uma gama de possibilidades.

Quando se é chamado para ação, a ferramenta mais útil que se tem são dados aprimorados, mas não se pode esquecer da incerteza dos mesmos sobre o futuro. As pessoas enviadas a campo para resolver um problema sempre vão requisitar mais fundos, não devem ser as mesmas que medem os avanços.

Dados sempre devem ser usados para contar a verdade e não para invocar uma ação, por mais nobre que seja a intenção. Eis uma afirmação que cai como uma luva para a situação envolvendo Al Gore.

Algumas dicas para evitar as armadilhas desse instinto:

Reconhecer quando uma decisão parece urgente e lembrar que ela raramente é.

Pare e respire. Raramente é agora ou nunca. Raramente é isso ou aquilo.

Insista nos dados: se algo é urgente e importante, deveria ser medido. Somente dados relevantes e precisos são úteis.

Desconfie de gente com bola de cristal. Qualquer previsão sobre o futuro é incerta, suspeite daquelas que não reconhecem isso.

Tenha cautela com ações drásticas.

RESUMO DA ÓPERA

Nem de longe tenho a pretensão de fazer com que essas breves duas resenhas substituam a experiência de ler o livro, muito mais profunda e enriquecedora. O objetivo era explicar os conceitos relativos aos dez instintos, presentes a todo instante em nosso cotidiano, atrapalhando interpretações, decisões e até relações humanas.

O instinto da separação sem dúvida é um dos mais presentes nesse insuportável mundo polarizado em que vivemos. É incrível como boa parte das pessoas é incapaz de perceber que o mundo não é binário e que uma posição contrária ou favorável a alguma causa, não significa que você está no lado diametralmente oposto da discussão. Noto esse fenômeno na interpretação de posts e notícias nas redes sociais. O que parece ser uma deficiência nesse tópico é na verdade uma influência nociva do instinto da separação.

O instinto da negatividade é algo presente na maneira como recebemos notícias desde que o mundo é mundo e particularmente no período da pandemia, nunca foi tão evidente. São frequentes os abusos de linguagem que tornam a situação sempre pior do que ela realmente é.

O instinto da linha reta talvez não seja tão frequente, apenas quando nos deparamos com previsões que esticam curvas, que sabemos, não se sustentarão. Colabora com esse fenômeno a ausência de habilidade matemática em boa parte da população, que consegue, quando muito interpretar uma regra de três.

O instinto do medo também se fez muito presente nesse período de covid, quando muita gente entrou em pânico com a possibilidade de morrer, mesmo sendo algo amplamente improvável. O medo de muitas pessoas em andar de avião, um dos meios de transporte mais seguros do mundo pelas estatísticas, também é alimentado por esse instinto.

O instinto do tamanho também é dos que estão muito presentes. Como damos importância à reações irrelevantes do ponto de vista estatístico ou a eventos que não tem a relevância com a qual o julgamos. Isso acontece a todo momento.

O instinto da generalização vem muito acompanhado da separação. Com ele asseguramos que todos os outros são iguais, o que simplifica enormemente nossa compreensão de mundo, de maneira completamente equivocada.

O instinto do destino, que considera que as coisas são imutáveis e que não se movem, e ignora pequenas mudanças, trata o mundo como uma rocha monolítica, estática. Muitas vezes é preconceito travestido de argumentação.

O instinto da perspectiva única talvez seja o mais nocivo nos dias de hoje. As pessoas costumam se fechar em seus dogmas e simplesmente evitar qualquer outra perspectiva que os desafiem. Ele normalmente está acompanhando pelo instinto da separação.

O instinto de culpar deriva da nossa necessidade de encontra vilões ou heróis e simplificar problemas complexos. Muito evidente hoje em dia, quando costumamos atribuir a culpa a um indivíduo o grupo sobre tudo que está errado. O mundo sempre é mais complexo que isso.

O instinto da urgência é aquele que nos conduz a tomar decisões no impulso, sem avaliar analiticamente as possibilidades. Nessas horas, fatalmente será uma decisão estúpida.

Tenho certeza de que você enxergou muitos desses instintos ao seu redor, ou até mesmos e viu influenciados por eles. O livro fornece elementos para evitar essas armadilhas. Trata-se de uma leitura não somente obrigatória, como prazerosa. Se você gostou dessa resenha, não viu nada. Vale a pena investir seu tempo em ‘Factfulness’.

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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