A estranha luta irracional entre o “Caudilhismo Brasileiro” e o “Caudilhismo do Brasil”
Nas terras acima do rio Mampituba, que nós, gaúchos, chamamos de “resto do Brasil”, a palavra caudilho talvez não seja tão conhecida. Explicando rapidamente, caudilhismo é um regime onde o foco está no líder (o caudilho). Segundo a definição de dicionário é normalmente caracterizado por ser autoritário, repressor e paternalista. De um modo geral a ideia é; ou você segue o líder cegamente, ou é considerado inimigo do regime. De um modo geral, a parte civilizada do mundo não tem registro de muitos representantes desta estirpe, mas aqui pelas bandas latino-americanas eles têm presença constante, desde Simon Bolivar até os dias de hoje.
Lula e Bolsonaro são dois típicos caudilhos; e a incapacidade de diálogo entre as torcidas é parte da nossa cultura brasileira, até no futebol. Infelizmente.
Para explicar o “brasileiro x do Brasil”, lembro meu pai. O velho sempre foi um crítico feroz da esquerda brasileira, e dizia que a maior prova da incapacidade intelectual deles era a existência de dois “Partidos Comunistas” no Brasil – o “PCB” e o “PC do B”, inimigos irreconciliáveis naquela época. “São meia dúzia e conseguem brigar entre eles”, dizia meu pai. Mesmo na minha fase esquerdista (que não chegou nem ao fim da adolescência), nunca consegui arrumar um argumento bom para contestá-lo.
Feita as apresentações, a triste conclusão é que o Brasil está dividido em duas seitas igualmente cegas; os Bolsonaristas e os Lulistas.
As pessoas que tentam diminuir o prêmio e o talento de Fernanda Torres apenas porque “ela apoia o Lula” agem de forma tão pouco racional quanto os que agrediram, nas redes antissociais, nossa maravilhosa Raissa Leal, a fadinha do skate e medalhista olímpica mais jovem da história, porque descobriram que a família dela era bolsonarista.
Podia ficar dando outros exemplos mas, confesso, não tenho mais saco prá isto.
Enfim, um dia a gente vai aprender a separar as coisas, e não as pessoas. Também não me interessa saber se isto começou no “nós contra eles” do Lula, o que eu quero saber é como vai terminar. Mais uma vez recordando do meu pai (que morreu em 2020, aos 96 anos, lúcido até o final), ele falava que o fanatismo contra e a favor do Getúlio Vargas, muito antes do Lula e Bolsonaro nascerem, era igualzinho (ele tinha até um “causo” engraçado sobre isto, que um dia eu conto). Enfim, acho que ainda precisamos evoluir como civilização. Usando uma imagem bíblica, ainda estamos mais próximos da fé cega nos falsos profetas do que da racionalidade da doutrina cristã de amor, perdão e aceitação do próximo. E o grande problema é que quando a fé é cega, a faca é amolada.
Vida que segue.