Brasil

Uma conversa sobre racismo em 6 partes

Não podia deixar de participar da treta da semana, com minha opinião sobre racismo.

1 – Não tenho nenhuma dúvida de que o Brasil é um país racista. E isso não significa que vivenciamos aqui o ‘ódio racial’. Quem nega o fato normalmente leva a discussão para esse lado, argumentando que situações de ‘ódio racial’ não existem, que somos um país miscigenado etc, etc. Dada a natureza cordial da cultura brasileira e o nosso estilo ‘futebolístico carnavalesco’ de encarar a vida, o racismo de fato passa desapercebido em muitas ocasiões e mesmo que não seja ‘raivoso’, está bem enraizado em nosso cotidiano. É velado, o que torna mais difícil sua identificação. ”Ah, o problema é a pobreza’. Se fosse só a pobreza, 53% dos pobres do Brasil seriam pretos ou pardos, mas eles correspondem a 3/4 desse segmento. Não admitir isso e fazer nada a respeito do assunto são as melhores maneiras de nunca resolver a situação;

2 – O fato de 1 existir não quer dizer que qualquer incidente de violência contra pretos seja motivado por questões raciais, longe disso. Vamos recordar que infelizmente o Brasil é um dos países mais violentos do mundo e deve se destacar em indicadores correlatos sobre qualquer segmento da população: pretos, brancos, mulheres, homens, gays, índios, etc. Essa é a nossa triste realidade. Somos um país cordial e violento, um tremendo paradoxo. É necessária muita ponderação para não colocarmos todos os crimes no mesmo ‘balaio’.

3 – Muita gente pega carona nos incidentes de violência para fazer ‘média’, ou utilizando a terminologia atual, lacrar. Eu perguntaria aos ‘lacradores’ o que eles tem feito para combater o racismo no Brasil. Estão contratando pretos para funções importantes ou ficam só no discurso? Vamos olhar nas redações dos jornais, nos bastidores das televisões, nas rádios, no comando dos partidos políticos, nos espetáculos teatrais, nas novelas, nos filmes, nos elencos de programas de TV, qual o % de participação de negros? Pois bem, mencionei áreas onde inclusive  é mais fácil encontrar profissionais negros qualificados, as ciências humanas e artes. Quem duvida haver uma gritante disparidade entre brancos e negros no entorno dos que lacram, que ao invés da retórica, poderiam utilizar a ação para combater o racismo? Lacradores  prestam um desserviço à causa toda vez que amplificam a retórica um tanto hipócrita apenas para fazer ruído e parecer bem na foto;

4 – Apesar de 3, entendo como muito importante falarmos sobre o assunto,, mesmo que seja derivado de episódios que não sejam motivados diretamente por racismo. O difícil nesse mundo polarizado é evitar os posicionamento radicais, tanto dos que desejam nada além da lacração ou pregam reações violentas, que nunca nos levarão a lugar algum, quanto dos negacionistas, que acham que o Brasil é o paraíso cordial na terra, um lugar onde pretos vivem felizes e nunca são discriminados pela cor da pele. Estamos falando de preconceito, racismo estrutural, e não de ódio racial. Infelizmente, o barulho causado pela turma que habita os extremos tem prevalecido;

5 – Apesar de tudo, entendo que houve progresso nesse assunto em relação à nossa realidade de 20,30 anos atrás, mas ainda é um avanço tímido vis a vis à imensa disparidade entre brancos e pretos existente no Brasil. Essa não deveria ser uma pauta de coloração ideológica, mas de todos. O dia em que você, que está lendo e discordando de mim, entrar em algum ambiente de ‘renda mais alta’ e notar que entre seus frequentadores há uma presença relevante de pretos ou pardos, sem que isso lhe cause surpresa, talvez tenhamos de fato atingido uma situação mais aceitável…ainda estamos longe dessa realidade;

6 – Se você é branco e nunca sofreu discriminação na vida por causa da cor de sua pele, pense bem antes de afirmar categoricamente que não existe racismo no Brasil, converse com aquelas pessoas que passam por isso com alguma frequência. Vai lá, um pouco de empatia não faz mal a ninguém.

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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