2026: Quem Vai Pagar a Conta do Brasil? – Parte 1: O Campeão Cansado e a Comanda Aberta

Uma Entrada na Série
O que você vai ler a seguir é uma tentativa de organizar a bagunça. É a minha leitura pessoal, a fotografia de hoje, da corrida presidencial de 2026. Em um país rachado, a neutralidade absoluta é uma utopia, mas procurei ser o mais honesto possível, deixando paixões de lado para focar nos fatos e nas estratégias em jogo. Esta análise será dividida em três rodadas, como um bom papo de boteco.
Na Parte 1, vamos direto ao ponto: entender por que o atual campeão, sentado na cabeceira da mesa, parece vulnerável. Na Parte 2, vamos conhecer a fila de herdeiros que se acotovela para pegar o cartão e pagar a conta. E na Parte 3, vamos descobrir quem são os verdadeiros donos do bar, o que os números frios dizem e qual o veredito mais provável. Aperte os cintos. A conversa vai ser longa, e ela diz respeito diretamente ao seu futuro.
Esqueça a política como um espetáculo distante. Em 2026, o show acabou e a conta chegou à sua mesa. Essa não é uma briga entre Lula e um fantasma, ou uma disputa de herdeiros pelo espólio de Bolsonaro. É uma decisão sobre o país que você vai viver nos próximos anos. A comanda está aberta, o garçom está esperando, e a caneta para assinar o futuro do Brasil estará na sua mão. O seu voto não será apenas um número na urna; será a sua resposta para a pergunta mais importante: quem vai pagar por tudo isso? A partir de agora, cada jogador nesse tabuleiro de bar será analisado, mas lembre-se: o juiz final é você.
O primeiro fato a ser colocado na mesa, junto com a porção de fritas, é o status legal do ex-capitão. Jair Bolsonaro está inelegível. Ponto. Especialistas em direito eleitoral são categóricos: as chances de reverter essa condição, imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), são “remotas”.[1] A esperança de Bolsonaro reside em uma aposta de longo prazo: futuras mudanças na composição de ministros do TSE que poderiam, talvez, criar um ambiente mais favorável a seus recursos.[2] Essa realidade jurídica, fria e implacável, é o tiro de largada para a corrida presidencial. Com o principal nome da direita fora do páreo, o jogo zera.
Enquanto a direita se digladia pela herança, Lula governa em uma corda bamba. Sua presidência não pode ser avaliada em um binário simples de “bom” ou “ruim”, mas como um exercício constante de equilibrismo entre pressões econômicas, uma opinião pública volátil e a ameaça iminente de uma oposição que, se um dia se unificar, se tornará formidável.
O Termômetro da Popularidade
Os números das pesquisas de opinião pintam o retrato de um presidente sem uma base de apoio confortável, lutando por cada ponto percentual. Não há um consenso, mas sim uma fotografia de instabilidade:
- AtlasIntel: Mostra uma aprovação resiliente, que em alguns momentos chegou a superar a desaprovação, indicando uma base sólida que resiste às crises.[3]
- Datafolha: Capturou os momentos mais sombrios para o governo, registrando quedas bruscas de aprovação e taxas de reprovação que chegaram a superar os 40%, um sinal de alerta constante no Planalto.[4]
- Quaest: Revela uma recuperação lenta e gradual na aprovação, impulsionada principalmente por seu reduto histórico, o Nordeste. Contudo, mesmo nesses momentos de melhora, a desaprovação em nível nacional continua majoritária, mostrando que o presidente ainda não conseguiu furar a bolha de seus apoiadores tradicionais.[5]
A narrativa que emerge desses dados é a de um mandato sem lua de mel, onde a força de Lula se concentra em seus nichos históricos — o Nordeste e as faixas de menor renda — mas com enorme dificuldade de dialogar com o restante do país.[5]
A Sombra da Economia
A popularidade de um governante, no Brasil, está umbilicalmente ligada à percepção da economia. A sensação no bolso do eleitor fala mais alto que qualquer discurso. E as projeções para o período que antecede a eleição de 2026 são, no mínimo, preocupantes para o governo.
- O “Tarifaço de Trump” e o PIB: O Fundo Monetário Internacional (FMI) já jogou um balde de água fria nas expectativas, rebaixando a projeção de crescimento do PIB brasileiro para 2026 para apenas 1,9%. A justificativa é explícita: o impacto das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos de Donald Trump sobre produtos brasileiros.[6]
- Inflação e Juros no Bolso do Povo: A inflação, o fantasma que assombra a mesa do brasileiro, continua sendo uma ameaça. As projeções de mercado para o IPCA em 2026 giram em torno de 4,28% a 4,29%. Para conter os preços, a projeção para a taxa básica de juros, a Selic, é de restritivos 12,25% em 2026.[7] Esses não são números abstratos. Significam crédito mais caro, prestações mais altas e um poder de compra que não decola, impactando diretamente o humor do eleitor.
O caminho de Lula para a reeleição é, portanto, estreito e perigoso. Ele depende quase que exclusivamente de criar uma percepção de melhora econômica que seja forte o suficiente para anular os prognósticos negativos. A eleição de 2026, para ele, será vencida ou perdida no supermercado e no contracheque.
A cerveja de Lula esquentou e a conta da economia parece que vai chegar alta em 2026. O presidente está na corda bamba, vulnerável como nunca. Mas para que o campeão caia, é preciso que um desafiante à altura suba no ringue. Com Bolsonaro fora do jogo, quem são os herdeiros que disputam a tapas o direito de sentar na cadeira vazia? De um governador “gestor” a um franco-atirador, passando por uma peça-chave que pode virar o jogo… Na próxima parte, vamos conhecer os concorrentes na batalha pela herança do bolsonarismo.
Referências
- DIAS, Joelson. Chance de Bolsonaro reverter inelegibilidade é remota, avalia Joelson Dias. ABRADEP, [s.d.]. Disponível em: https://abradep.org/midias/chance-de-bolsonaro-reverter-inelegibilidade-e-remota-avalia-joelson-dias/. Acesso em: 18 out. 2025.
- BOLSONARO acredita que mudança no TSE pode reverter sua inelegibilidade. Publicado pelo canal Jovem Pan News. 2025. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6T1UED7Abo8. Acesso em: 18 out. 2025.
- APROVAÇÃO de Lula supera desaprovação pela primeira vez em 2025, segundo AtlasIntel. Publicado pelo canal O POVO. 2025. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AYwev9s-SC8. Acesso em: 18 out. 2025.
- PESQUISA Datafolha: Aprovação de Lula despenca 11 pontos em 2 meses. Publicado pelo canal CNN Brasil. 2025. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-4lDMqJvvsQ. Acesso em: 18 out. 2025.
- QUAEST: aprovação ao governo Lula sobe e atinge maior nível em 2025. Congresso em Foco, 20 ago. 2025. Disponível em: https://www.congressoemfoco.com.br/noticia/111172/quaest-aprovacao-ao-governo-lula-sobe-e-atinge-maior-nivel-em-2025. Acesso em: 18 out. 2025.
- FMI melhora a projeção para o PIB do Brasil em 2025, mas corta a de 2026 por tarifaço de Trump. O Estado de S. Paulo, 14 out. 2025. Disponível em: https://www.estadao.com.br/economia/fmi-projecao-pib-brasil-2025-corta-2026-tarifaco-trump/. Acesso em: 18 out. 2025.
- PROJEÇÕES do mercado para inflação, PIB, Selic e dólar ficam estáveis. Agência Brasil, 22 set. 2025. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2025-09/focus-projecoes-do-mercado-para-pib-selic-e-dolar-ficam-estaveis. Acesso em: 18 out. 2025.