Opinião

Bolsonaro x Lula: a escolha possível

É cada dia maior a responsabilidade de se manifestar nesse espaço. Os artigos são sobre os temas mais diversos, mas sempre tem em comum a qualidade de seus conteúdos e autores.

Assim como em outros grupos que frequento, trago aqui minha percepção mais prática, a de cidadão, não a de um acadêmico que pretenda esgotar um tema ou fazer uma abordagem mais analítica. É opinião. Faço esse registro apenas com a pretensão de compartilhar minha visão, como alguém que usa um megafone tentando ampliar o alcance de sua voz.

Meu pai era um homem simples, autodidata e apaixonado por política, talvez por uma percepção mais intuitiva do que formal de que tudo passa por ela.

É nesse sentido que me manifesto, de forma resumida, recuperando uma linha do tempo tendo minhas memórias (de alguém apaixonado pela política) como fonte primária.

Assim repito, não há a seguir um texto que seja produto de intenso trabalho de pesquisa, sequer algo perto disso, mais justo seria entendê-lo como um manifesto, talvez até mais como um desabafo.

Nasci em 1967.

Logo no ano seguinte seria decretado o AI-5, quando foram “às fafas todos os escrúpulos de consciência”.

AI-5: Quando os escrúpulos foram esquecidos.

Eu não tenho tempo e vontade para discutir o período da Ditadura Militar no Brasil.

Sim, Ditadura, não havia eleição direta para Presidente, Governadores e Prefeitos das capitais, havia censura e tortura como acontece nas ditaduras, vide o que ocorre HOJE na Venezuela e em Cuba.

A esmagadora maioria de quem se opunha à Ditadura não era de democratas, ao contrário, queriam apenas uma “ditadura do proletariado” para chamar de sua.

Dos 12 para 13 anos, lembro do clima de festa por conta da Anistia (ampla geral e irrestrita), “da volta do irmão do Henfil e de tanta gente que partiu num rabo de foguete”.

Anistia ampla, geral e irrestrita. O Brasil havia feito um grande pacto político, a escolha de seguir em frente, curar as feridas e trazer para o tabuleiro político (onde deve ser) a disputa pelo poder.

Semana Nacional de Arquivos tem exposição online sobre Anistia - Secretaria da Cultura
Miguel Arraes, Brizola e Betinho, foram alguns dos exilados que voltaram para o Brasil com a aprovação da Lei da Anistia.

Junto com milhões de brasileiros, aos 17 anos no Vale do Anhagabaú, eu pedia por eleições para Presidente, nas manifestações pela “Diretas Já”. A Emenda Dante de Oliveira não foi aprovada, a eleição foi indireta no Colégio Eleitoral onde Trancredo Neves, candidato de oposição derrotou Paulo Maluf, candidato do PDS partido do governo.

Trancredo ganhou, mas não assumiu, adoeceu e morreu antes de sua posse. Assumiu seu vice José Sarney que sem sucesso tentou combater à inflação que foi recorde ao final de seu governo, abrindo caminho para a eleição do caçador de maraj´ás, Fernando Collor.

Collor impôs um terrível e mal sucedido confisco que redundou em seu processo de Impeachment.

Quem elege também derruba, e lá estava eu de volta ao Anhagabaú pedindo pelo Impeachment de Collor.

11 de agosto de 1992: o impeachment de Fernando Collor - Valério Arcary - Brasil 247
Collor: contra tudo e contra todos, sua tropa de choque não foi suficiente
para lhe manter no poder.

Veio a eleição de FHC, privatizações, estabilização da economia, grandes passos, mas que também sem dúvida, poderiam ser ainda maiores.

Fragilizado por uma aliança política da qual se tornou refém, desgastado por um cenário econômico desafiador, FHC não fez seu sucessor e Lula finalmente depois de três derrotas se tornava Presidente. Contou com meu voto. Hoje, o maior arrependimento de minha vida.

Naquele momento, de alguma maneira, ter um Presidente eleito vindo de origem tão humilde, parecia sinalizar que no Brasil havia uma mobilidade social, que se somava à uma desejável (e depois revelada enganosa) alternância de poder.

Bons ventos sopravam no mundo. O “boom” das commodities permitiu ao Brasil um bom momento econômico e rendeu a Lula (mais por sorte do que por competência) bons dividendos políticos, popularidade recorde e liberdade para roubar como nunca se havia visto. Mesmo sob acusação de um grande esquema de corrupção, ainda assim fez sua sucessora: Dilma Rousseff.

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A volta dos que não foram…

O que veio depois ainda está fresco na memória, condução desastrosa da economia, fraude nas contas públicas e lá estava eu novamente nas ruas, dessa vez na Avenida Paulista pedindo o “Impeachment” de um Presidente.

O país vinha tão distante do bom senso, do básico, do elementar, que mesmo um representante legítimo da rasteira política brasileira nos serviu de bálsamo, fazendo até com que muita gente boa esqueça quem é Michel Temer.

Recordar é viver: tem que manter isso aí…

Num grito de basta à corrupção, numa negação da política nacional, com uma nova linguagem, com uma nova arrumação dos meios de comunicação e com grande peso para as redes sociais, de deputado exótico do baixo clero, sem nunca ter sofrido nenhuma acusação de corrupção mesmo depois de 28 anos de vida pública, o Brasil disse não a tudo que estava posto e elegeu Bolsonaro para a Presidência da República.

Essa sucessão de eventos poderia ser descrita como “natural”, dada a juventude de nossa Democracia. Oscilações, idas e vindas, fricções, embates, movimentos pertinentes em um país que buscas consolidar sua vocação para a construção de um modelo constitucional de prevalência do desejo majoritário e de respeito às minorias. Contudo, o que vemos hoje, cada dia mais e de forma estarrecedora, é a Casa que deveria ser Guardiã da Constituição se tornar um palco político onde magistrados atuam cada vez mais à margem da lei, por vezes lhe ignorando por completo, não no papel de julgadores mas sim de operadores de grupos de interesses políticos-partidários, capazes de transformar Lula de corrupto notório em candidato à Presidência da República.

Nosso sistema de pesos e contrapesos está débil, com o Poder Judiciário avançado sobre o Executivo anulando atos que lhe são próprios e sobre o Legislativo lhe subtaindo a função de legislar. Por conta de um Legislativo fraco, disfuncional, composto em geral (e com raras exceções) por políticos de natureza criminosa e sem espírito republicano o STF tem produzido decisões arbitrárias levando o Presidente da República a fazer as vezes que deveria se do Legislativo, de tentar colocar um freio no que se desenha ser (cada vez mais) uma Ditadura do Judiciário.

Antes: Cleptocracia desmascarada pela LavaJato
Depois: Homenagem emocionada ao advogado de Lula.

De perseguição à jornalistas até censura à deputado, existem inúmeras situações que chamam atenção pela voracidade por poder dos magistrados e ao mesmo tempo sua absoluta indiferença sobre o que diz nossa Constituição Federal.

Não há hermenêutica que justifique condenar um Deputado por falar, ou que permita que se coloque uma suposta vítima também no papel de julgador.

Há que se convir, mesmo jogando dentro das regras do jogo, mesmo tendo que fazer alianças das quais não há como se orgulhar, Bolsonaro incomoda quem sempre esteve no poder. Manifestação da vontade soberana popular, a eleição de Bolsonaro nunca foi aceita por aqueles que se colocam acima da Democracia, como se fossem portadores da “luz”, do “bem”, da “verdade”.

O “ódio do bem”

Recorrentemente grosseiras e inconvenientes, especialmente para quem ocupa a Presidência da República, com falas francas e a postura beligerante Bolsonaro enfrentou grupos de interesses não somente na política, mas nas universidades, no meio artístico e na imprensa, se transformando assim no Presidente mais sistematicamente atacado de nossa História.

Não defendo um voto sem crítica, ao contrário e ´é preciso ter muita clareza quanto a isso. Especialmente no que tange a sua comunicação durante a Pandemia, assim como seu posicionamento em relação as vacinas, a postura de Bolsonaro foi deplorável com falas inaceitáveis.

Da mesma forma, seu governo foi modesto, para não dizer pífio, face as tão esperadas reformas administrativa e tributária. Se passa pelo Congresso a aprovação de mudanças estruturais, cabe ao Governo fazer essa provocação assim como criar as condições políticas para tal.

Se cabem críticas e cabem muitas, não cabe colocar Bolsonaro e Lula (assim como seus governos) em pé de igualdade. Enquanto em um governo as empresas públicas foram vilipendiadas, no outro apresentaram resultados recordes, enquanto um foi recheado de escândalos, no outro (revirado do avesso) nada parecido com a esteira de corrupção do PT foi detectado, enquanto um prega controle social da mídia e das redes sociais, o outro se posiciona em defesa da liberdade de expressão, enquanto um apoia ditaduras vizinhas, o outro as repudia. De novo, ainda que não se trate de uma escolha ideal, existem claras diferenças que não podem ser ignoradas.

Pesquisa eleitoral: Lula tem 46% e Bolsonaro 39% em um segundo turno | Exame
Bolsonaro x Lula: a escolha possível.

Enfim, em breve teremos que fazer uma opção na eleição presidencial. A polarização está dada, não há 3a. via alternativa. Estaremos diante de uma escolha que não será sobre aquilo que é ideal (afinal nunca é) mas como sempre sobre aquilo que é possível.

Será optar por se voltar ao tempo de um jogo de cartas marcadas, ignorando toda corrupção promovida por Lula e PT em seu nefasto projeto de poder, ou (sem falsas ilusões) dizer o NÃO possível, tentar oferecer ao país, aos nossos filhos e netos, um outro norte, um qualquer que não seja colocar novamente no cargo mais importante da República o maior criminoso da História do Brasil.

Há uma escolha a ser feita, uma responsabilidade a ser exercida, não há que se abrir mão de críticas que são muitas e justas, mas é preciso dizer com clareza que não toleramos quem ataca a Democracia, quem paga mesada para deputado, quem vilipendia empresa pública para desviar recursos para financiar um projeto transnacional de poder.

Não há como se omitir. Quem cala consente. Eu que nunca me calei, não irei calar. E você?

Marcelo Porto

Gênio do truco, amante de poker, paraíba tagarela metido à besta, tudólogo confesso que insiste em opinar sobre o mundo ao meu redor. Atuando no mercado financeiro desde 1986, Marcelo Porto, 54, também é Administrador de Empresas e MBA em Mercado de Capitais.

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2 Comentários

  1. Parabéns pelo excelente texto. Sou um pouquinho mais velho do que você, pois nasci em 1963, mas vivi e vivencie todos esses momentos históricos muito bem descritos nesse texto, e coaduno com o seu posicionamento.

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