
Dada a condição brasileira de eterna promessa nunca materializada, o país do futuro que nunca chega e sua posição medíocre em rankings globais importantes que medem a qualidade e as condições de vida oferecidas à sua população (educação, produtividade, liberdade econômica, segurança, entre outros), aliadas ao vício quase incurável do patrimonialismo que nos tornam um país extremamente injusto e desigual, temos o hábito de criticar as coisas do Brasil e os brasileiros, em geral com uma visão um tanto ácida da nossa realidade.
Essas críticas são verdadeiras, mas algumas vezes seu nível de intensidade faz sombra aos aspectos positivos que podemos vivenciar por esse mundão tropical.
Eu nem farei menção às belezas naturais, por que elas podem ser encontradas por todo mundo, não é um privilégio nosso e a atribuição do que é melhor é algo bastante subjetivo.
A comida, por exemplo, também é algo que pode carregar um certo viés cultural, aquela preferência construída pela nossa história e a maneira como fomos criados, Não me refiro à gastronomia em si, mas aos hábitos alimentares do cotidiano, que eu particularmente gosto demais e não vejo equivalência fora do país, mas isso pode ser consequência dos costumes. É verdade que muitos gringos vêm para cá e ficam maravilhados com a diversidade, fartura e qualidade da nossa comida de rotina, mas não é esse o ponto que eu gostaria de destacar.
Um diferencial nesse caldo cultural brasileiro e que eu considero único no mundo é difícil definir, mas tentarei fazê-lo da malhor maneira possivel nas próximas linhas. Trata-se de uma ‘vibe” positiva nas relações pessoais, algo que mistura cordialidade, bom humor, otimismo com uma pitada de calor humano e uma vontade maior que o usual de apreciar o momento presente.
Essas características trazem vantagens em algumas situações. O ambiente de trabalho por aqui geralmente é mais leve (ou menos sisudo) e proporciona muitas vezes que você traga amizades do mundo corporativo para sua vida pessoal, algo mais raro no hemisfério norte.
Nossas festas são as melhores e mais animadas do planeta, “não tem para ninguém”. E isso é verdade mesmo quando falamos de grupos menores (um “Happy Hour”, por exemplo).
Frequentemente ouvimos elogios de artistas estrangeiros maravilhados com o “calor humano” do público brasileiro em seus shows, também uma derivada dessa característica que condensa todos os elementos que eu citei acima, que vou chamar de “brasilidade”, pela ausência de uma definição objetiva no dicionário.
Muitos contestarão com algum nível de rabugice que essa “brasilidade” não é importante, pois trata-se de assunto secundário em nossas vidas. Eu discordo. É um elemento que traz maior leveza à rotina, seres humanos jamais escaparão de conviver socialmente com os seus, e esse conjunto de atributos típicos tornam a vivência mais agradável. Já imaginaram como seria um país com tantas mazelas e uma população ranzinza e de mal com a vida?
Essa é uma observação pessoal de quem tem viajado bastante nos últimos tempos, além de ouvir e ler opiniões de forasteiros, a “brasilidade” não tem a ver com educação, organização, senso coletivo ou objetividade, é algo provavelmente enraizado em nosso “DNA cultural” que transforma as relações pessoais em algo mais satisfatório.
Então, quando estivermos tecendo nossas críticas mais que justificáveis ao nosso país e sua longa história de “barbaridades, é importante não perder de vista esse ‘lado B do Brasil’, que é bom, B de” brasilidade”.
Loyola,
Tem razão em chamar a atenção para o Lado B, de Bom, do brasileiro. Ser cordial, amigável e que gosta de um bom papo. Vale ressaltar que se uma parte da elite empresarial, pública, da classe média etc, estivesse mais voltada ao país, com essa boa energia que temos, talvez, tivéssemos um país mais justo com menos violência e mais solidário. Infelizmente não temos um estadista a altura da boa energia que já temos. Somos mais de 200 milhões de brasileiros. Será que não temos um sonhador que pense, e planeje, num país melhor ?
Vitor, certa vez vi um comentário de uma senhora americana que morou uma temporada no Brasil e retornou aos Estados Unidos. Ela dizia sentir saudades do cheiro do alho sendo frito na hora do almoço, dos churrascos em que as crianças “desapareciam” ao invés de ficar numa mesa como se estivessem num almoço de negócios. E, finalmente, um hábito adquirido: as crianças nunca mais tomaram leite cru, só quente e com chocolate.