Vida corporativa

Tempo (in)útil?

Já escrevi em outra ocasião sobre as diferenças entre a vida emprendedora e a corporativa, a partir de uma breve experiência com a primeira há alguns anos. Não pretendo chover no molhado, o foco desse texto será uma característica particular da jornada que abracei há um mês, um elemento transformador da qualidade de vida, para o qual não há equivalência em grandes empresas: a gestão do tempo.

À medida que as corporações se tornam maiores e mais complexas, aumenta a ineficiência na utilização das horas de trabalho de seus executivos. São comuns as reuniões com vários presentes, nas quais sua participação efetiva se resume a poucas frases, quando muito. Em outras tantas, você participa como ouvinte. Ao final de uma longa jornada diária, se o sujeito contabilizar quantas horas foram efetivamente produtivas e agregaram valor para o cumprimento de seus objetivos, terá a desagradável conclusão que boa parte de seu tempo foi para a lata de lixo, não serviu para nada.

Grandes corporações são engrenagens gigantescas que funcionam à revelia de seus colaboraddores e como mais uma peça do ecossistema, suas possibilidades de remar contra a maré são exíguas. É quase impossível rebelar-se, existe o risco de que a ‘máquina’ lhe transforme em um pária. Com o tempo vem o hábito, que torna sua percepção de desperdício nebulosa.

Nesse contexto, a sensação de ser dono de sua agenda é libertadora. Investir tempo no que realmente importa e não naquilo que a engrenagem recomenda traz um ganho espetacular na sua produtividade individual e consequentemente à satisfação após um dia de trabalho. Reuniões cansativas ou desagradáveis não estão excluídas, mas sim as inúteis. Esse escriba não é detrator da governança corporativa, obviamente indispensável e muitas vezes ausentes nas pequenas empresas, mas os excessos são nocivos. Livrar-se deles foi a melhor novidade nesse primeiro mês do resto de minha vida profissional.

Tenho a impressão que a baixa produtividade da agenda é algo inevitável nas grandes corporações, uma característica inerente à sua complexidade. Quanto à vida empreendedora, as agruras são distintas, temas para outros textos.

Não há dúvidas que seu tempo rende muito mais, o que é um deleite para quem o coloca como prioridade. Eis um presente que a vida de empreendedor oferece aos que a abraçam: tempo útil!

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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4 Comentários

  1. Muito bom o texto, como de hábito. Com a sua visão de negócio e a perspicácia em perceber detalhes do cotidiano, não será difícil para você transformar sua empresa num sucesso. São os meus votos! Em relação à vida nas grandes corporações e suas regras de sobrevivência, costumo dizer que gastei alguns anos nelas, improdutivas, inúteis e cansativas. Entretanto, graças a elas aprendi a desenhar, enquanto outros desfilavam seus objetivos difusos, verborrágicos, totalmente indiferentes às necessidades da empresa.

  2. A “old school” que frequentei (AT&T) e toda vertical de telecom, TI e consultoria empresarial ao transformarem objetivos (internos) em projetos tal como tratavam contratos (externos) como projetos, criavam uma cultura de Gestão do Tempo que permeava até o staff (administrativo) a despeito de serem exemplos clássicos de empresas “elefantes brancos”. A transição que veio junto com a TI pra gestão por processos (indicadores) não deveria anular essa conquista, por ser uma Habilidade, tal como é Tomada de Decisão, Resolução de Problemas, Gestão de Conflitos, etc. ainda mais diante da vida pós-internet, sw e apps. Desvios de atenção, baixo comprometimento, etc são comportamentos que minam as qualificações fruto do conjunto aptidões, habilidades, competências, conhecimento teórico e vivência e que sim, como bem sabe, se é este que determina a admissão, são os comportamentos que determinam a demissão (ou auto-demissão como bem relata). Vc sempre carregou consigo a mesma caixa com as ferramentas básicas (aptidões e comportamentos) que já tinha qdo estagiário então desenvolvendo habilidades, competências e tudo mais que veio com o expertise mas já evidenciava maturidade perante missões. O que vejo hj é apenas vc se empoderando mais ainda, escolhendo não mais usar aquela caixa básica num contexto de cultura corporativa que se distanciou das melhores práticas elementares de gestão o que te fez se sentir o “misfit” nessa fase natural de sua vida em que busca melhor equilíbrio, ser mais protagonista da sua jornada, mais “dono” da missão e por conseguinte, entre outros da agenda. Sem auto-comprometimento, por exemplo, não chegaria onde chegou no mundo corporativo e não chegará onde sabemos, irá como empreendedor. Esse comportamento vem da sua Inteligência Emocional, outro treinamento que as “dinos” faziam pra que não fossemos amoebas, sensíveis aos desvios de atenção, etc. que qdo combinado com outros tipos de Inteligência, geram essa persona que és, amigo. O timão sempre esteve na sua mão. Sail the winds!

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