Brasil

Impeachment: teatrinho e o inevitável desfecho

Tal qual na queda de um avião, o impeachment de um presidente, evento gravíssimo em um país democrático e com instituições funcionando razoavelmente bem, somente acontece a partir de um conjunto de circunstâncias presentes ao mesmo tempo.

São elas:

1 – Economia em frangalhos;

2 – Governo tremendamente impopular;

3 – Governo sem base de apoio parlamentar;

Havendo as três situações acima, basta encontrar um crime de responsabilidade.

Na hipótese de haver um crime de responsabilidade, e na ausência de pelo menos um dos três componentes acima, dificilmente um processo de impeachment prospera.

Ou alguém acredita que um país com a economia em ordem proporcione clima para que seu chefe de governo seja impedido? Na hipótese de uma economia combalida, caso o governo preserve algum resquício de popularidade, também é quase impossível o encaminhamento do impedimento. Agora imagine um país com economia fraca e governo impopular, se o mesmo ainda tiver apoio parlamentar, não há como fazer o processo andar. Havendo 1,2 e 3, o crime de responsabilidade é apenas um detalhe. O mais improvável nisso tudo, verdade seja dita, é a presença da tempestade perfeita.

Vamos ao caso da nossa diva de vermelho, em vias de ser afastada definitivamente do cargo: o Brasil enfrentava a pior recessão de sua história, perdendo quase 8% do PIB em 2 anos, o governo também era o mais impopular de todos os tempos, com índice de aprovação na faixa de um dígito, e debilitado, assistia inerte ao derretimento de sua base parlamentar dia após dia, incapaz de aprovar qualquer tipo de emenda, sofrendo sucessivas derrotas no Congresso.  Formada a tempestade perfeita, achou-se o crime de responsabilidade: no caso, foram as pedaladas fiscais, foco da discussão teatral dessa semana no Senado. Mas, alto lá: qual a importância disso à luz dos três ‘pré-requisitos’? Baixa. Não fossem as pedaladas, o menu de possíveis crimes de responsabilidade é bastante amplo.

E quem criou o ambiente que proporcionou esse desfecho? Ele não surgiu do nada, tampouco foi plantado pela débil oposição. Foi a nossa Pinóquia a força motriz da tempestade perfeita. Foram as decisões equivocadas que ela tomou em seu primeiro mandato que lançaram a economia no abismo. Sua extraordinária impopularidade pode ser creditada ao estoque infindável de mentiras contadas a partir do período pré-eleitoral e não vamos nos esquecer que a ex-gerentona originalmente possuía uma das mais esmagadoras maiorias já constituídas no Congresso. Sua aversão à política e o insaciável desejo petista pelo monopólio de poder jogaram o PMDB no colo da oposição.

O governo Dilma perdeu completamente o rumo e a condição de governar, por isso foi deposto. As intermináveis discussões sobre a ‘causa mortis’ que tomaram conta do plenário da Câmara e agora do Senado são protocolares. Ou alguém em sã consciência ainda crê que a nossa diva pode voltar? Na remotíssima hipótese disso acontecer, seria o ‘apocalipse’; o Brasil lançado por dois anos e meio no olho de um furacão grau cinco.

Calma. Já acabou, e pelas razões descritas acima. Resta-nos assistir aos próximos dias de encenação teatral. Tudo correndo conforme o planejado, na próxima quarta-feira nos livraremos dos restos mortais da pior gestão que esse país já experimentou. Sobrevivemos todos, vida que segue.

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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2 Comentários

  1. Devo lembrar que infelizmente nem todos sobrevivemos. Por conta da péssima gestão dos recursos públicos e do abandono da sociedade à própria sorte, muitos foram vítimas de violência e da falta de recursos hospitalares – perdas evitáveis, não foram acidente.
    Não houve pedaladas, houve fraude fiscal. Valores altíssimos durante um tempo absurdo, obrigando os bancos públicos a cobrir o rombo. Basta ver os gráficos comparando esse fato em governos FHC, Lula e Dilma. É grave. Sem contar que o Cunha deixou muitas outras evidências de fora do processo (Petrolão, fundos de pensão, tentativa de blindar o Lula, etc). Por enquanto nos livramos de uma pequena parte do problema pois o Estado continua aparelhado, o Stf é suspeito, as universidades estão criando esquerdistas em série, a mídia se prostitui, o país está dividido e somos extremamente desorganizados. Ainda não termos urnas auditáveis, nem candidatos que nos representem minimamente e que tenham alguma chance de emplacar. Os prejuízos dos últimos 14 anos são impagáveis, a exacerbação do mal trouxe à superfície o que temos de pior. Calma nada. Precisamos nos unir em torno de grupos liberais e conservadores, trocar idéias e reagir enquanto é tempo. Uma das iniciativas é salvarmos publicações que espelhem a realidade pois com certeza precisaremos contestar a maneira como a História será contada adiante. Por exemplo: acusam golpe mas… a presidente viaja e deixa espontaneamente o golpista assumir a presidência / o processo dura meses obedecendo as etapas previstas e com amplo direito de defesa / a presidente afastada continuou fazendo uso de moradia e recursos públicos.
    Muito trabalho, informação, pressão sobre os poderes constituídos e articulação apartidária pela frente.

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