Trabalho remoto rendeu para Portugal €1,7bi em 2024. Entenda como isso é ruim… (ironia)

Qual é a “polêmica”?
O trabalho realizado de forma remota a partir de Portugal para outros países em 2024 geraram €1,7 bi (€1,7 mil milhões para os amigos portugueses), €7,7 bi em 4 anos e meio, em salários e pagamentos de serviços. Uma excelente notícia por diversos ângulos.
Porém logo se gerou uma polêmica no LinkedIn com portugueses criticando e falando nos “perigos e riscos” de profissionais estarem em Portugal faturando para fora.
Só no meu feed foram três diferentes posts criticando com pontos de vista que eu tive muita dificuldade em entender. Coloco aqui alguns exemplos com respostas óbvias:
- Os ganhos mais elevados do que a média da população destes profissionais encarece produtos e serviços.
- A velha máxima de salários mais altos geram inflação.
- Há uma concorrência desleal com empresas portuguesas estabelecidas que pagam impostos em Portugal.
- Para receber os profissionais recolhem imposto de renda e pagam a segurança social, no mínimo para satisfazer o compliance dos contratantes quanto fiscalização portuguesa.
- Essas empresas prestam serviços para empresas portuguesas?
- Talvez a maior concorrência seja mesmo salários de 30% a 40% superiores que os pagos em Portugal.
- Transferência de tecnologia para fora.
- Esse eu não entendi, afinal o profissional que possui o conhecimento está em Portugal e poderá ser contratado por uma empresa portuguesa a qualquer tempo.
- As empresas portuguesas vão desaparecer, bem como os bancos estão sendo comprados por espanhóis.
- Como assim? Estamos falando de serviços prestados para fora, não de atuações para o mercado nacional.
Como é o mercado português?
Diversas empresas acordaram para o fato de Portugal possuir uma infraestrutura de invejável de Internet e profissionais qualificados com inglês fluente, e partiram para trabalhar para clientes de outros países, principalmente Europa central, Reino Unido e EUA.
Essa tendência tem sido reforçada por conta do pequeno mercado português e pela falta de cultura das médias empresas em investir em soluções tecnológicas ou de serviços considerados “sofisticados.”
Em um raríssimo momento comercial em Portugal, o valor da hora de trabalho em business intelligence e data analytics, foi comparado com o do soldador da fábrica, que gerava valor.
Ou seja, as próprias empresas portuguesas já vêm em um processo de atuação nearshore para a Europa há anos!
O mercado global que assusta
Nos últimos anos aconteceu o crescimento exponencial de plataformas que permitem que um profissional atue para empresas no mundo todo de forma remota e sem burocracia.
Citando eu mesmo como exemplo, em 2024 eu encerrei meu vínculo com uma consultora portuguesa e escolhi o caminho comum de muitos profissionais: criei um perfil na plataforma Upwork e comecei a enviar propostas para empresas em diversas partes do mundo. pouco mais de um ano depois, atuo para empresas nos EUA, Reino Unido, Alemanha e Holanda. Sou requisitado e já filtro as oportunidades.
E é toda essa simplicidadeque assusta.
As empresas de Portugal, sejam portuguesas ou estrangeiras que vieram para cá em busca de mão-de-obra qualificada barata, estão sentindo o impacto e tem tido cada vez mais dificuldade em contratar profissionais seniores.
Para piorar, muitas defendem a volta do trabalho presencial.
Claro que a grande diferença está nas garantias legais do contratado, como subsídio de férias e Natal (em Portugal as férias são de 100% do salário e podem ser tiradas já no primeiro ano, caracterizando 14 salários por ano), a dificuldade enorme que uma empresa tem para demitir e os possíveis benefícios oferecidos.
Mas como seduzir alguém que trabalha 100% remoto, por taxas hora altas e no volume que desejar?
O mercado se acomodará, como sempre
Apesar de estarem assustados e com medo, a reação de setores da economia portuguesa a esse fenômeno demonstra imaturidade e desconhecimento de como funcionam as forças do mercado.
É sempre bom lembrar que sempre haverá profissionais que preferem a falsa sensação de tranquilidade dada pelo contrato assinado com uma empresa, poder desfrutar de férias pagas e não ter que se preocupar em ter um seguro para situações adversas.
Da mesma forma, haverá sempre aquele que quer a emoção de conquistar novos clientes, que trabalhará aos finais de semana em períodos de alta para fazer caixa e sofrerá em silêncio enviando propostas quando um projeto grande acabar.
Não há caminho certo ou errado aqui, a não ser para os posts irracionais que brotaram no meu feed.
Emanuel,
O mundo do trabalho deu uma reviravolta grande. A insegurança gerada devido as mudanças traz angustias pela falta de visibilidade futura. Alguns acreditam que os empregos voltarão a ser como eram e outros apostam na total liberdade de trabalhar, fazendo os próprios horários, com pouca contribuição através de impostos para o Estado. Os próprios governos encontram-se “embasbacados”com tantos desafios. Uma coisa parece certa: tudo se acomodará e aí veremos o resultado final da equação.