Política

Israel e a ONU – Introdução

A ideia dessa série de artigos surgiu quando comecei a pesquisar sobre um assunto que particularmente me incomoda quando se critica Israel: o direito de regresso dos palestinos. Estaria, afinal, Israel negando um direito básico, que é o direito de propriedade? Teria Israel, no processo de formação de seu Estado, usurpado propriedades líquidas e certas de árabes da região? Até que ponto os palestinos não estariam certos em reivindicar suas propriedades?

Comecei a pesquisar o assunto, e, inevitavelmente, o escopo começou a aumentar, porque uma coisa puxa a outra, e é difícil discutir e analisar qualquer assunto sobre as relações entre judeus e árabes sem que tropecemos em vários tópicos entrelaçados. Na medida em que fui avançando em minha pesquisa, no entanto, uma coisa ficou clara: a ONU sempre tinha um posicionamento a respeito. Aliás, a ONU sempre teve um posicionamento a respeito de tudo o que se refere a esse conflito, a começar, inclusive, do próprio destino do Mandato Britânico na Palestina, o início desse imbróglio. Ficou claro, então, que as resoluções da ONU poderiam servir como fio condutor dessa história. Sendo documentos que refletem a história viva de cada época, essas resoluções são puro ouro quando se trata de entender o contexto em que ocorreram os acontecimentos que moldaram esse conflito.

Desde o início, ficou claro que a ONU não é uma espécie de ente angélico que determina o bem e o mal de maneira absoluta, mas apenas a soma das idiossincrasias de seus Estados-membros, que impuseram uma narrativa anti-Israel a partir da década de 70. Antes disso, o assunto “Palestina” pouco ocupou a atenção da ONU, merecendo um conjunto rarefeito de resoluções. Essa retórica virulenta ganha corpo em meados da década de 70 e explode na década de 80, o que não deixa de ser estranho, dado que a “Nakba” (“catástrofre”) que deslocou centenas de milhares de árabes para fora da Palestina ocorreu em 1948. É somente a partir da década de 70 que Israel passa a ocupar um espaço central nessa narrativa, e as resoluções da ONU são reflexo disso.

Já com esse trabalho adiantado, eis que o presidente Lula da Silva solta aquela pérola em que compara a guerra em Gaza com o genocídio cometido pelos alemães nos campos de concentração nazistas. Mas poucos se deram conta que, na mesma fala, ele diz outra coisa, reportada pelo Estadão. Vejamos:

Lula da Silva reclama que “Tel-Aviv não obedece a nenhuma decisão da ONU”. Bem, sabemos que a ONU não tem poder executivo, legislativo ou judiciário sobre quaisquer de seus Estados-membros. Portanto, essa crítica é descabida, como sói acontecer quando se trata de nosso presidente.

Mas o que vale destacar é que as “decisões da ONU”, traduzidas em suas resoluções, são, na verdade, as “decisões” de uma maioria de países que dominam as votações na Assembleia Geral. Enquanto Israel é somente um país, os países árabes, somados aos países com maioria muçulmana, somados aos países alinhados à Rússia e à China (antiamericanos) são legião. Assim, não é de se espantar que as “decisões da ONU” sejam, sempre, em desfavor de Israel. Por que, afinal, Israel daria bola para a opinião desse conjunto de países, travestida em resoluções supostamente isentas?

Não, a ONU não é uma instância isenta. As resoluções aprovadas são o resultado de votações dominadas por uma maioria de países hostis a Israel. Ao longo desses artigos, veremos vários aspectos dessas resoluções. A seguir, o índice de todos os artigos dessa série. Boa leitura!

1.       Visão geral das votações – o grau de alinhamento dos países a Israel

2.       O direito de regresso dos palestinos

3.       Os direitos inalienáveis dos palestinos

4.       A propaganda é a alma do negócio

5.       A UNRWA

6.       Israel, de amante da paz a pária internacional

7.       A condenação ao terrorismo

8.       A OLP e o Estado Palestino

9.       Jerusalém

10.   A busca pela paz

Marcelo Guterman

Engenheiro que virou suco no mercado financeiro, tem mestrado em Economia e foi professor do MBA de finanças do IBMEC. Suas áreas de interesse são economia, história e, claro, política, onde tudo se decide. Foi convidado a participar deste espaço por compartilhar suas mal traçadas linhas no Facebook, o que, sabe-se lá por qual misteriosa razão, chamou a atenção do organizador do blog.

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