Opinião

Uma análise desapaixonada da última pesquisa Quast

Saiu uma pesquisa da Quaest — um dos institutos em que menos confio e que historicamente mais favorece Painho — sem o nome de Jair Bolsonaro e com diferentes cenários envolvendo seu filho Flávio e outros candidatos de oposição. Não vou chover no molhado repetindo o que já está sendo amplamente comentado, mas chamar atenção para duas observações pouco mencionadas, que merecem ser acompanhadas quando saírem pesquisas de outros veículos :

Ratinho Jr. aparece melhor que Tarcísio tanto em intenção de voto no primeiro turno quanto em menor rejeição em praticamente todos os segmentos do eleitorado;

Quando Ciro Gomes entra em um dos cenários, ele desidrata fortemente a candidatura de Painho, que sai do patamar de 40% e recua para algo mais próximo de 30%.

A imprensa tem tratado Tarcísio como o nome mais forte fora do bolsonarismo raiz, quase como um consenso natural. Pelos números apresentados, porém, Ratinho Jr. — ainda na moita — parece até mais competitivo do que o governador paulista.

Também não convém descartar o veterano Ciro Gomes. Uma eventual candidatura seria a quinta (um recorde), e apesar do fiasco na última, ele ainda tem “recall” e capacidade de embaralhar o jogo, sobretudo do centro para esquerda.

Tanto Tarcísio quanto Ciro têm diante de si caminhos politicamente mais fáceis: disputar governos estaduais. No caso específico de Tarcísio, arriscar-se numa corrida presidencial — com chance concreta de derrota e ainda sob ataque da ala bolsonarista — parece uma escolha ruim quando comparada à reeleição praticamente garantida em São Paulo.

A pesquisa também sugere que Caiado e Zema não têm tanta musculatura eleitoral. Talvez fizesse sentido que os institutos testassem cenários sem eles, concentrando a direita em apenas dois nomes: Flávio Bolsonaro e mais um (Tarcísio ou Ratinho).

Bolsonaristas que normalmente desdenham de pesquisas estão usando esta para sustentar que Flávio Bolsonaro seria o nome mais competitivo da direita, por aparecer à frente dos demais. Essa conclusão é precipitada. Flávio é muito mais conhecido — carrega o sobrenome do pai — e o cenário eleitoral está longe de ser estático. A própria eleição de 2018 mostrou que é possível um candidato sair da casa de um dígito e ultrapassar a barreira dos 30% ou 40% ao longo da campanha.

O problema central de Flávio é a rejeição, maior inclusive que a de Painho. E, no segundo turno, sabemos: vence quem tem menos rejeição. Ele tem competitividade para chegar lá, mas em tese tende a perder fôlego nessa fase decisiva.

O desafio de um candidato de direita sem o sobrenome Bolsonaro é furar a bolha e chegar ao segundo turno, superando Flávio. Se conseguir, uma disputa direta contra Painho tende a favorecer o desafiante.

Qualquer prognóstico neste momento é chute. Só com a campanha de fato em andamento será possível enxergar com mais clareza eventuais inversões de posição. A única certeza é que teremos uma eleição acirrada, provavelmente decidida outra vez dentro da margem de erro, com Painho no segundo turno — a menos que ele não concorra por alguma razão extraordinária, o que considero improvável.

Vale observar com atenção os movimentos de Flávio, Tarcísio, Ratinho e Ciro. São, a meu ver, os personagens capazes de mover a engrenagem da oposição.

Meu cenário ideal?
Ratinho Jr. liderando a direita; Tarcísio disputando a reeleição em São Paulo; Flávio concorrendo à reeleição para o Senado no Rio; e Ciro Gomes entrando para atrapalhar Painho.

Infelizmente, sei que isso é quase impossível.

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

Artigos relacionados

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
Send this to a friend