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Sobre a revolta dos banidos e a parcialidade do Facebook

Demorei para me manifestar a respeito do banimento que o Facebook executou para algumas páginas em sua plataforma, todas elas vinculadas a movimentos políticos de direita. O assunto é polêmico e está longe de um consenso. Depois de ler e refletir sobre as mais diversas opiniões, sinto-me finalmente apto a emitir a minha.

O Facebook alega que o fez para páginas que disseminavam noticias falsas ou que prejudicavam o debate de temas relevantes. Coincidentemente, todas elas situadas à direita do espectro político. Sem juízo de valor sobre o ato em si, é certo que veículos propagadores de notícias falsas existem aos montes, tanto à direita, quanto à esquerda. A medida higienizadora deixa transparecer a preferência ideológica de seus administradores.

Também não se pode questionar que enquanto empresa privada, o Facebook tem o direito de tomar as decisões que julgar adequadas em relação aos participantes da plataforma. Li aqui e acolá que houve censura. Discordo. Não há interferência estatal nesse caso, e os interessados em acessar as notícias dos portais banidos podem fazê-lo por Internet ou outros meios.

Também li que sendo o Facebook uma plataforma monopolista e de utilidade pública, deveria estar sujeita a algum tipo de regulamentação. Concordo. Ocorre que a mesma ainda não existe, então por esse aspecto o descontentamento não é legítimo.

Vi gente comemorando o banimento, notadamente simpatizantes da esquerda, como se fosse um ato de grandeza. Tenho certeza de que a maioria deles estaria bufando caso as páginas eliminadas fossem dos veículos do lado oposto. Para cada MBL, existe um Mídia Ninja atuando de maneira equivalente. Nesse caso, a torcida prevalece sobre a coerência. Nada surpreendente em tempos de máxima polarização. Os banidos e simpatizantes também estariam soltando rojões pela exclusão de um 247. Infelizmente, vivemos em tempos de pouca temperança.

Eu não me informo através desse tipo de site, muito menos compartilho notícias geradas por eles, que são facilmente reconhecíveis. Acho pouco provável que tenham efetividade eleitoral, uma vez que conversam com os ‘convertidos’. As notícias falsas existem desde os primórdios, não foram inventadas agora, e as redes sociais apenas turbinaram a sua velocidade de propagação. Há um certo exagero na avaliação das suas consequências. Quem as considera muito prejudiciais, subestima em demasia a inteligência do leitor, o que pode ser uma realidade, particularmente em país ignorante e com pouca instrução, mas aí estamos falando de um problema muito mais grave…

Por outro lado, a medida me parece inócua. Para cada página banida, podem surgir várias outras e os administradores do Facebook terão que gastar muito tempo e recursos em uma busca infinita, desgastando-se inutilmente com a opinião pública. Melhor seria que se preocupassem com a privacidade e uso dos dados dos usuários, situação que já lhes causou grande constrangimento nos EUA no recente caso da Cambridge Analytics.

Resumindo, o Facebook não é uma empresa neutra do ponto de vista político e manifestou sua preferência através do conteúdo das páginas que baniu. Por outro lado, o Facebook não é obrigado a ser neutro.

Por ser um monopólio que hoje trata de informações de interesse público, seria ideal que houvesse algum tipo de regulamentação sobre esse tipo de ação, de maneira similar ao que está sendo discutido sobre uso de dados pessoais. Seria ideal, mas hoje não existe.

Os incomodados sempre poderão banir o Facebook de suas vidas, ação improvável para quem está muito conectado. Ou então, seguir sua jornada, mantendo conteúdo de qualidade no ar. São incontáveis as páginas de viés liberal ou conservador que não se valem de notícias falsas ou de sensacionalismo barato para atrair seguidores. O Facebook sobrevive da quantidade de usuários ativos e para isso nunca poderá deixar que suas preferências políticas prevaleçam sobre a sustentabilidade do seu negócio, certamente há um limite sobre a intensidade de ações desse tipo, pois o risco de desagradar uma boa parte de sua ‘clientela’ é alto.

A verdade é que a platforma estaria sujeita a críticas em qualquer circunstância: se não fizesse nada e lavasse as mãos, seria alvejada pela postura passiva. Ao adotar o banimento como prática, é impossível agradar a gregos e troianos. Optou por um lado. Se não foi a medida mais justa, ao menos foi transparente.

Agora sabemos que o Facebook, em se tratando de política, tem um lado. O quanto isso vai interferir no resultado de eleições? Muito pouco, na minha opinião. Conforme eu escrevi, a empresa presta conta aos seus acionistas e vive do tamanho de sua base de usuários, fatos que estão acima de qualquer ideologia.

Outro dia, recebi uma reclamação ao publicar um dos meus artigos de que eu não era neutro. Não sou mesmo. E por que deveria ser? Tenho opinião, compromisso com a racionalidade e integridade dos fatos, mas jamais com a neutralidade, não sou jornalista. Analogamente, não consigo concordar com a obrigação de neutralidade do Facebook. Segue o jogo…

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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