Opinião

Combater o racismo ou os racistas? (ou; a ascensão e queda de Carol Conká)

Em 1968 o racismo era institucional em diversas partes do mundo. Em muitos estados americanos, principalmente no Sul, ainda havia ônibus e banheiros específicos para pessoas brancas, por exemplo.

Esta situação injusta foi combatida por gente do nível do pastor Martin Luther King, que acabou assassinado por isto. Em um de seus mais famosos sermões, Luther King disse que tinha um sonho; que crianças brancas e negras pudessem crescer e conviver em paz e harmonia. E que nunca mais a cor da pele fosse um diferencial entre seres humanos.

Assim sendo, desde muito novo (eu tinha 16 anos quando Luther King foi morto), entendi que racismo era exatamente isto; tratar pessoas de forma diferente em função da cor da sua pele. E, ingenuamente, acreditei desde então que para combater o racismo bastava seguir o princípio de Luther King e tratar todos como irmãos, conforme já preconizava o Divino Mestre Jesus, dois mil anos antes de tudo isto.

O problema é que o século XXI trouxe uma nova visão sobre o assunto, em que, ao contrário da ideia de Luther King (ou mesmo de Jesus), não se deve esquecer o passado e construir laços de união para o futuro; é muito mais importante vingar o passado. Algo do tipo “o seu bisavô escravizou o meu e eu nunca vou esquecer, muito menos perdoar isto”. Neste cenário, pessoas agressivas (os “lacradores”) são mais prestigiados que os que propõem o diálogo.

E assim hoje qualquer frase que saia da boca de um branco (se for heterossexual, pior ainda) pode jogá-lo na fogueira dos inquisidores da Internet. Torquemada deve estar orgulhoso e feliz ao ver a ressurreição de seus métodos, tantos séculos depois.

Enquanto isto, no reino do BBB…

Carol Conká era uma militante festejada entre os “antirracistas” e também os “anti-um-monte-de-coisas”. Seu cartel de lacrações era brilhante. E quando se decidiu que o BBB-21 seria uma espécie de reedição da falecida “Casa dos Artistas”, do Sílvio Santos, ela apareceu logo entre os favoritos. Alias, perdão, “es favorites”, porque generalizar usando a forma masculina hoje deve dar cadeia, no mínimo. E aí o jogo começou.

Pausa para uma piadinha

Ouvi esta quando tinha uns dez anos. Um padre do interior resolveu consertar o portão da igreja. De repente, apareceu um garotinho e resolveu ficar por ali, observando o trabalho dele. E olhou de forma tão insistente que o padre não resistiu e perguntou:

– Meu filho, porque você não vai brincar com seus amiguinhos?

O garoto respondeu na hora;

– É que eu tô doido prá saber o que um padre fala quando dá uma martelada no dedo…

Certamente não seria algo do tipo “Senhor, tende piedade de mim”…

Quem com lacre lacra, com lacre será lacrado. Será?

Fechado o parêntese, voltemos à nossa simpática Carol. Vigiada 24 horas por dia (exatamente como os lacradores fazem com os tais “racistas”), ela não conseguiu evitar algumas marteladas em dedos alheios e nos próprios , e com uma linguagem e atitudes totalmente incompatíveis com o título de deusa do politicamente correto que até então ostentava, caiu em desgraça com seu público.

A reação dos ex-amiguinhos dela foi a que se esperava; de pedra, a moça virou vidraça. Afinal, para quem só sabe usar o martelo, todas as pessoas são pregos. De forma mais poética, o gênio Chico Buarque cunhou a frase “Você que inventou o pecado, esqueceu-se de inventar o perdão”, válida para qualquer ditadura, seja a militar ou a da internet. E tome pedrada!

No fim das contas, acho que devemos todos ser mais tolerantes, e talvez o perdão de Carol seja o primeiro passo neste sentido. Parodiando as palavras do Mestre Jesus no episódio bíblico da adúltera, eu diria que “Aquele que nunca soltou um ‘puta que pariu!’ quando martelou o dedo que atire a primeira pedra”.

E que racistas e antirracistas raivosos fiquem sabendo que apesar de vocês, amanhã há de ser, outro dia. Como sonhou Luther King. Como profetizou Chico Buarque.

Que assim seja.

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

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