Brasil

Um roteiro pouco aprazível até o fim de 2018

Aos poucos, o presidente prevaricador recupera forças e movendo uma peça e outra no tabuleiro dos poderes do Planalto Central, vai se reequilibrando no cargo. Já é possível enxergá-lo ao terminar seu mandato, tão odiado quanto foi o ex-presidente Sarney em seu tempo. Contrariando as opiniões de que sua queda era ‘uma barbada”, entre elas a desse escriba, Michel Temer já sinalizou ao osso que não o largará.

Gilmar Mendes pedirá vista do processo que julga a chapa Dilma-Temer no TSE. Como todos sabemos, Gilmar é hoje o maior defensor do ‘establishment’ e detrator da Lavajato. Fará o que estiver a seu alcance para proteger seus amigos tucanos e peemedebistas das garras da Justiça, mesmo que o efeito colateral de sua cruzada pró ‘status-quo’ seja beneficiar o petismo, ideologia de seus antigos desafetos. Mas isso é parte do passado. Gilmar, como Temer, advoga pelo Brasil velho, aquele em que gente poderosa precisa ser preservada das leis, que se aplicam aos outros.

Após falar por noventa minutos sobre o causo, Alexandre de Moraes pediu vista no processo que restringe o foro privilegiado para crimes praticados no próprio mandato, o que eventualmente poderia abrir novos flancos contra Temer e devolver muitos políticos para primeira instância imediatamante. Alexandre foi um falador ministro da Justiça até outro dia, ex-secretário de segurança de Alckmin e filiado ao PSDB. Por quanto tempo será que ele adiará a leitura do seu voto sobre o caso? Depois dele, ainda teremos Toffoli e Lewandosky, que também podem pedir vista. Sabe-se lá quando esse assunto vai desenroscar. Talvez nunca. E mesmo que aconteça, o Congresso dos trambiqueiros está tirando do forno uma nova lei que tornará missão impossível prendê-los.

Rodrigo Maia engavetará todos os processos de impeachment apresentados contra o prevaricador, que até agora já somam quatorze. Semana passada fez um caloroso discurso em defesa do presidente, de quem parece ser um leal aliado. Difícil crer em uma mudança de rumo nesse assunto, sem que haja um fato novo e comprometedor.

Esse fato novo pode ser uma possível delação do hoje ex-deputado Rodrigo da Rocha Loures, o homem que pegou uma mala de dinheiro e saiu correndo pela rua, e que teria muito a dizer a respeito de Michel Temer. Loures está sem foro privilegiado após uma atabalhoada troca de ministros patrocinada pelo chefe prevaricador, que demitiu Omar Serraglio da pasta da Justiça para colocar o até então desconhecido Torquato Jardim, ex-Ministro da Transparência e imbuído da missão de enfraquecer a Lavajato, para o deleite da politicalha. A Serraglio, cuja função de ministro abriu a vaga da Câmara para Loures, seria oferecido o Ministério da Transparência, mas faltou combinar com ele, que muito irritado com a maneira pela qual foi comunicado da saída, recusou o novo convite, destituindo então Loures do cargo de deputado e o enviando para a justiça dos cidadãos comuns.

Desesperado com a perspectiva de ser preso, Loures pode abrir o bico e isso seria munição letal para o inquérito em que o presidente está indiciado no STF. Nesse momento, esse parece ser o único caminho plausível para seu impedimento. Para o marido da Marcela, a solução seria nomear como ministro algum deputado da bancada do PMDB/PR e assim devolver o caso Loures ao STF, garantia de impunidade. É tentativa de obstrução de justiça, porém é mais fácil combater esse tipo de acusação do que outra delação bombástica. Michel corre contra o tempo.

Se ele resisitir, azar do Brasil que terá que conviver com um governo em estado de putrefação por mais um ano e meio, com muitas reformas urgentes, necessárias, mas impopulares a serem feitas. É provável também que as medidas de saneamento das contas públicas sejam fortemente desidratadas e a consequência disso será uma recuperação econômica ainda mais raquítica. A um governo muito mais frágil e impopular restam poucas alternativas além de abrir os cofres para ‘engajar’ a base em suas causas.

Nesse cenário, chegaríamos ao fim de 2018 com um governo a ponto de ser escorraçado do Palácio do Planalto, com uma fragilíssima recuperação da economia, reformas, quando muito, implantadas pela metade e sem o efeito esperado, e defendendo-se de escândalos de corrupção por todos os lados. Exceto o ambiente de inflação estável, lembra bastante o fim do período Sarney, também um vice original alçado à condição de presidente.

Todos sabemos o que veio depois de Sarney, um tal Fernando Collor, aventureiro encampado por parte da mídia e que assumiu o poder sem base parlamentar de apoio, envolto em esquemas de corrupcão que ao serem desvendados, resultaram em seu impeachment. Collor venceu as eleições mais fragmentadas da história, com 7 candidatos superando a marca dos 4% de votos válidos, e 12 a de 0.5%. Ele mesmo chegou ao segundo turno com meros 30% , enquanto o segundo colocado Lula atingiu 17%. Comparemos com 2014, onde os dois primeiros somados alcançaram 77% dos votos válidos e fica claro como aquela eleição foi pulverizada.

Tudo indica que ano que vem, teremos um cenário parecido ao de 1989. Mesmo ainda sem saber quem “estará” candidato. é possível cravar com certeza que serão muitos e todos bastante críticos em relação ao governo agonizante de plantão. Ninguém estará disposto a usar o prevaricador como cabo eleitoral. Com quase 30 partidos disputando as eleições, a formação do próximo Congresso será deferminante para o sucesso ou fracasso do novo governo.

Se repetidas as características atuais das casas, com personagens semelhantes, boa parte comprável e em busca de enriquecimento pessoal, já temos um roteiro pré-definido: o vitorioso (a) formará uma coalizão de alicerces fundamentados na distribuição de milhares de cargos espalhados em até três dezenas de ministérios. Chances de dar certo?

Urge uma reforma política. Mas quem a faria? Bem, ela se inicia com a eleição de bons parlamentares. Em meio à desgraça do cenário atual, um alento: o Brasil tem 18 meses para encontrar um novo caminho, e não me refiro a um salvador da pátria, que não existe, mas à eleição de um conjunto de cidadãos melhores do que esses que hoje nos representam. Para começar, que tal não elegermos gente envolvida em corrupção? O eleitorado é o maior responsável pela faxina, a ele cabe a tarefa de desalojar a bandidagem de Brasília e enviá-la aos procuradores e juízes da primeira instância. Vamos começar?

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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