Brasil

Por que vou torcer muito pelo Brasil na Copa…

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Vou torcer muito pelo Brasil na Copa, a despeito de todos os desmandos que proliferaram na preparação para recebê-la. Precisamos separar uma competição esportiva, arraigada que está em nossa cultura, dos problemas que enfrentamos, desde sempre. Está muito em voga o discurso de que se a seleção brasileira triunfar, ganha o governo. Discordo. Na Copa das Confederações, as manifestações e vaias não impediram a torcida de evocar o hino nacional a plenos pulmões, empurrando o time. Ali, separava-se o joio do trigo.

Também remo contra a maré quando dizem que o fiasco na organização seria determinante para a derrocada do governo nas eleições e o contrário seu catalisador. A Copa termina em um mês, mas os nossos problemas ficam. É com eles, ou sua ausência, que a população votará em Outubro. Por que um sujeito determinaria seu voto influenciado por uma competição esportiva ocorrida três meses antes? É possível que nos tempos do regime militar, o triunfo do tricampeonato tenha sido usado politicamente, mas vivíamos em uma ditadura, o acesso à informação era restrito, a censura reinava soberana e a população era muito menos educada do que é hoje. Não há termos de comparação. Em 2002, o pentacampeonato não evitou uma mudança de governo. A euforia por um possível hexacampeonato duraria uma semana, não mais que isso.

torcida2Ninguém vive de Copa, a não ser a FIFA. Trata-se apenas de um megaevento esportivo. É uma extraordinária responsabilidade organizá-la, pelos milhares de holofotes que atrai por todo planeta. Estima-se que o jogo da estreia e a final congreguem cada um mais de 2.5 bilhões de espectadores. O Brasil dificilmente sediará um evento dessa magnitude pelos próximos 50 anos (as olimpíadas são focadas em uma cidade). Um fiasco na logística e organização não seria uma derrota do governo, mas do país. Esse raciocínio não coloca panos quentes sobre as promessas quebradas, as obras superfaturadas e atrasadas, a vergonhosa falta de planejamento e a burocracia irritante que emperram tudo que é feito por aqui. São mazelas do nosso dia a dia que não surgiram com a Copa, esta apenas as expôs como ´nunca antes na história´. O lado positivo é que esses temas, normalmente ignorados por uma sociedade outrora extremamente apática, tornaram-se manchetes dos meios de comunicação e das redes sociais. Tal qual aconteceu com o Mensalão, onde a corrupção e a impunidade foram para o centro do palco, aqui também tivemos uma dose cavalar de exposição, como se o país tivesse que se olhar no espelho todos os dias e encarar sua dura realidade. Se não houvesse Copa, provavelmente não estaríamos falando de obras superfaturadas, atrasos, falta de mobilidade urbana, com o mesmo tom crítico observado hoje. E isso não significaria que teríamos melhor educação saúde, serviços públicos. Bem ou mal, a Copa serviu para aguçar o espírito crítico dormente na maioria da população. Ganhamos alguns anos em noções de cidadania. Só por conta disso, já valeu a pena.

Precisamos de um basta nessa conversa fiada camuflada de protesto, o já famoso ´não vai ter Copa´.  Teremos Copa, e já sabíamos disso há muito tempo. De que adianta reclamar às vésperas do evento, que dura não mais que trinta dias? Oxalá esse sentimento cívico persista após o mês de Julho, terminado o torneio, quando nos depararmos com os problemas que ficarão conosco, ainda à espera de uma solução ou de uma luz no fim do túnel que os encaminhe. A hora de protestar com  veemência chegará em breve, diante de uma urna.

E se chegamos até aqui, com os percalços de sempre, temos que fazer o melhor possível. É masoquista quem deseja ver o Brasil em situação vexatória por conta de má gestão do evento. Ninguém ganha com o lema ´quanto pior, melhor´. A Copa não pertence a um partido político. A maioria esmagadora  das milhares de pessoas que estão trabalhando nas diversas frentes relacionadas a ela não são filiadas a nenhum deles, são gente comum, como eu e você, fazendo o seu trabalho. O êxito de uma Copa sem sobressaltos, se ocorrer, deverá ser creditado a eles e não poderá ser atribuído aos oportunistas de plantão, sempre à espreita para panfletar em causa própria.

torcida3No aspecto político, já perdemos, e de goleada. Só o fato de termos 40% das obras prometidas finalizadas a tempo (e a um custo muito maior) é a prova irrefutável de que não nos emendamos nessa área, e aqui as críticas cabem a todas as esferas da ineficiente administração pública, não somente ao governo federal. Mas isso não se mistura com a organização do evento em si. Como já foi dito, periodicamente temos chance de acertar as contas com essa turma, cabe a nós não desperdiçar a oportunidade…

E que o Brasil jogue bola, e bem. O futebol, além de ser parte indissociável da nossa cultura, é um dos poucos motivos de orgulho nacional, por estarmos muito bem posicionados no panteão das grandes potências. No futebol, o brasileiro é competitivo, busca eficiência, organização, talento, criatividade. O dia que esse nível de exigência transbordar para outras áreas, o país dará um salto inquestionável de qualidade. Ninguém tem o direito de sequestrar o futebol dos brasileiros. A Copa está aí, vamos fazer o melhor dela, e ganhá-la!

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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3 Comentários

  1. Boa Victor!Concordo em 100%!! Temos que resolver os nossos problemas nas eleições e não durante a Copa quando teremos convidados estrangeiros que merecem ser bem recebidos por nós, brasileiros.

  2. Absolutamente, totalmente de acordo com você, Vitor. Estava pensando em uma mensagem para postar nos meus blogs e pages, procurando fotos e encontrei o seu blog.
    Perfeita lucidez, por mais que eu tentasse não conseguiria expor meus pensamentos como você o fez, brilhantemente. Tudo puro, limpo, claro, verídico.
    Vou compartilhar (se tiver algo contra, por favor me avise, que excluo o link, ok?)
    Estou na França, de verde e amarelo, por dentro e por fora. Há muito tempo, os canais daqui exibem reportagens sobre o Brasil, cada uma com 1 hora no mínimo de duração, e está claro para a França que todos os movimentos que acontecem tem uma única origem, o desgoverno do poder público, e se mostram 100% do lado do direito do povo se manifestar. Mostraram coisas ruins, como a falta de estrutura, a falta de compromisso e seriedade com as obras, mas em momento algum, sugeriram que isso é problema do povo brasileiro. Souberam muito bem atribuir a responsabilidade a quem de direito. No entanto, a maior parte das matérias focou no povo, os moradores das comunidades que trabalham e por mérito próprio, começaram a melhorar de vida. A abordagem da vontade de fazer e crescer, a força do trabalho do Brasileiro é sempre muito bem explorado. Geralmente fecham a câmera no sorriso dos mais humildes trabalhadores brasileiros, que apesar de morarem em condições indignas, não perdem a força, o otimismo de ir em frente para o sucesso. Isso é o Brasil verdadeiro. Fico muito feliz quando vejo um país como a França reconhecer o nosso valor, falta a vez de nós mesmos fazermos isso.

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