Política

O sapo barbudo e o chuchu escorpião – uma fábula que pode se tornar real

Toda a vez que alguém faz uma parceria com um antigo inimigo, me vem à cabeça a fábula do sapo e do escorpião. Prá quem não conhece, o sapo se aliou ao escorpião para defender-se das cobras. Em troca, o sapo carregaria o escorpião nas costas toda a vez que houvesse enchente, porque o escorpião não sabe nadar. O final é previsível; na primeira vez que o sapo coloca o escorpião nas costas, este não resiste à tentação e mata o sapo com uma ferroada. E os dois morrem. Dá prá tirar várias conclusões disto.

Obviamente, a parceria entre Lula e o “companheiro” Alckmin pode se enquadrar no caso. Não sei quem achou que Alckmin seria capaz de atrair eleitores para Lula, mas tenho certeza de que errou redondamente. A credibilidade do Picolé de Chuchu já não era grande coisa antes, e agora derreteu de vez.

Fazendo um exercício de futurologia, entendo que, excetuando-se o milagre de uma terceira via aparecer e se firmar neste pouco tempo que resta até a eleição, vamos ficar entre Lula e Bolsonaro, mesmo. Sad but true.

Supondo que Lula confirme o favoritismo que os institutos de pesquisa lhe dão e vença, vai encontrar um cenário totalmente diferente do que teve em 2003; economia em frangalhos, cenário mundial muito ruim, e uma oposição forte e rancorosa (ao estilo do que o PT sempre fez quando era oposição). E o próprio Lula será diferente; 20 anos mais velho e com um histórico de tenebrosas transações que só os seus seguidores cegos insistem em não ver. Bem a propósito, não custa lembrar que, se eleito, Lula vai chegar ao final do mandato com 81 anos. Não desejo o mal para ninguém, mas a idade pesa prá todo mundo. Até para os salvadores da pátria.

Imaginemos então que, lá por 2024, incapaz de produzir “milagres” econômicos porque, certamente, é barbudo mas não é Jesus Cristo, Lula enfrente uma séria queda de popularidade. Não será difícil encontrar em sua biografia algum motivo para um pedido de “impeachment”. E aí a gente vê que quem vai assumir é uma figura neutra (eu quase disse “neutre”), um sujeito que pelo menos é articulado, e passa longe de um lunático como Bolsonaro e um populista enganador como Lula. Também com um passado comprometedor, é verdade, mas nada que se compare à Corruptocracia implantada pelo PT. Uma espécie de Temer, sem a Marcela.

E aí… Teremos 2015 em versão 2.0. É um cenário possível. Talvez ainda haja tempo para o PT reconsiderar e pensar num vice do MST ou algo parecido, que faça Lula parecer um cordeirinho. Enfim, são hipóteses.

Resumindo, entendo que a “malandragem” de Lula não deu certo (não conheço ninguém que vá votar nele porque se aliou ao Alckmin), e pode se tornar um problema grave no futuro. Afinal carregar um escorpião nas costas é sempre complicado. Mesmo que o sapo seja barbudo e o escorpião de chuchu.

Talvez Lula devesse escutar o sábio conselho do velho e bom Jorge Ben; se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem…

Ai ai caramba, Galileu na Galileia.

Quem viver, verá.

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

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