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Água!!!

Detesto “Social Influencers“. Detesto. Sei que são uma realidade no mundo atual, seguidos por bilhões de pessoas nas mídias sociais e, pior, seus seguidores realmente são influenciados por eles, como uma maleável massa de manobra comportamental, sem questionamentos, independente do conteúdo que publicam, mas apenas por ter sido publicado pelo seu ídolo. A etimologia das expressões usadas é perfeitamente adequada: “influenciadores” e “seguidores”.

Explorar a imagem de celebridades é a ferramenta de comunicação mais antiga e consolidada usada pelo marketing. Desde sempre se usa o recurso de aproveitar a imagem de famosos para alavancar a imagem e vendas de um produto ou serviço. Só ficando no campo do esporte, temos inúmeros exemplos, ao longo do tempo.

O que me incomoda, particularmente no caso atual, é que as redes sociais exponenciaram a penetração e o alcance desta ferramenta, a ponto de banalizar a relevância e a adequação do “influencer” em relação ao anunciante ou ao conteúdo do post patrocinado.

Budapeste, 14 de junho de 2021:

Água. É o elemento químico mais importante do universo. Para os astrofísicos e exobiologistas, sua existência é condição necessária para um planeta ter ou não condições de abrigar vida.

Água. É este elemento que pode ter marcado uma mudança de paradigma histórica esta semana, na segunda-feira, dia 14 de junho de 2021.

Cristiano Ronaldo, o ser humano com mais seguidores nas redes sociais do planeta , totalizando quase 500 milhões, protagonizou a seguinte cena, na entrevista coletiva na véspera do jogo contra a Hungria, pela Eurocopa.

Ao sentar-se na bancada, fez questão de afastar do enquadramento da imagem 2 garrafas do refrigerante de um dos patrocinadores da competição, que estavam lá por razões contratuais de exposição da marca, serviu-se da garrafa de água mineral que, diga-se de passagem, é do portfólio da mesma empresa, e brindou os jornalistas presentes, explicitando sua preferência pela bebida natural.

Cristiano Ronaldo é um esportista com um propósito. Desde o início da sua carreira, resgatando entrevistas antigas, declarava seu desejo, ou melhor, seu objetivo, de tornar-se o melhor jogador do mundo. E, nunca deitou eternamente em berço esplêndido esperando este objetivo cair no seu colo, como uma certeza indiscutível, por sua qualidade técnica.

Cristiano Ronaldo é engajado: suou, suou muito, para alcançar este objetivo. Estabeleceu metas e as cumpria, inicialmente aproveitando sua performance física naturalmente excepcional e a aprimorando ainda mais, lapidando a parte técnica. E, ao longo da carreira, manteve a disciplina de vida regrada , nos aspectos de alimentação, treinamento e outros dos fatores que influem na parte física , para poder estender pelo máximo de anos sua elevada performance. Hoje, aos 36 anos, tem um preparo físico ainda muito acima da média para o esporte.

“Propósito”, “engajado” são palavras que soam como música aos ouvidos dos anunciantes. São os valores mais procurados atualmente para atingir as motivações, desejos e necessidades dos consumidores Millenials (25 a 40 anos) e da Geração Z (10 a 25 anos).

Resumindo e generalizando, os millenials se preocupam com questões ambientais e sociais, enquanto a Geração Z vai além e acrescenta o ativismo, diversidade e inclusão.

Após a entrevista, a grande mídia deu mais ênfase à quantificação da consequência do fato, do que à importância e simbolismo da causa.

As manchetes erradamemente destacaram a consequência: “CR7 causou um prejuízo de 4 bilhões de dólares à Coca-Cola“, baseadas na queda de 1,6% no valor das ações da empresa após a entrevista. “Prejuizo” nada, foi apenas uma flutuação normal para um dia, em qualquer empresa de capital aberto, que pode ser recuperado logo nos pregões seguintes. Só constitui prejuizo para acionistas que realizassem a perda, as vendendo por um valor abaixo do que foram comprada.

Esses 4 bi não são nada, comparado com o que virá a reboque do ato prosaico do CR7 ao empurrar 2 garrafas pra lá e erguer uma garrafa de água. Foi apenas o primeiro tremor de algo que tem energia acumulada para provocar um terremoto nas estruturas caríssimas e cientificamente planejadas de marketing das corporações transnacionais que patrocinam mega-eventos como a Eurocopa.

No zeitgeist do interesse das novas gerações por questões sociais, ambientais e políticas, em que não basta ser o melhor, precisa parecer o mais engajado, o posicionamento claro de um esportista com 500 milhões de seguidores espontâneos pelo mundo, contra o produto patrocinador do evento, tem mais peso que os milhões de euros investidos pelos patrocinadores no torneio.

Os anunciantes levaram um xeque-mate, porque se resolverem retaliar e fazer valer os termos do contrato de exposição das marcas, para evitar a replicação de atos semelhantes, como o jogador francês Pogba já fez no dia seguinte, afastando a latinha da cervejaria que também patrocina a competição ( como seguidor da religião muçulmana, não consome álcool) , a intensidade da resposta dos consumidores será exponencial, com poder de provocar um estrago de branding em que aquela queda das ações da Coca-Cola parecerá … parecerá … troco de Coca?!

Epílogo:

Uma das melhores métricas empíricas de sucesso é a quantidade e qualidade dos memes que organicamente viralizam e contaminam os nossos grupos de WhatsApp.

É irresistível fechar o texto com este que parece ser o favorito dos brasileiros:

Gui

Sou o Gui. Fiz arquitetura, pós em marketing, MBA em comércio eletrônico. Desde criança , quando adorava ler Julio Verne, eu gosto de explorar, descobrir novidades. Aqui no Papodeboteco vou conversar contigo sobre descobrir como podemos explorar nosso tempo livre.

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