Do rio ao Nobel?

Um plano improvável, uma trégua inesperada e o desconforto dos que preferem o conflito à paz.
Confesso que fiquei duplamente surpreso com a boa acolhida do plano de Trump para Gaza. Primeiro, entre as nações árabes — principalmente neste contexto de máxima tensão no Oriente Médio, em que o mundo muçulmano cogita criar uma espécie de “OTAN” anti-Israel. Segundo, com a concordância do Hamas, ainda que com algumas condições a serem negociadas.
Mais surpresos ainda devem ter ficado a turma da flotilha da selfie e, claro, os governos do Brasil e da África do Sul — dois novos atores no conflito que, para surpresa de ninguém, só se pronunciaram tardiamente (e com ressalvas), depois que o Hamas fez o primeiro aceno positivo à proposta.
Finalmente temos um plano. Se for realmente efetivado e provado seu sucesso nos próximos anos, o Nobel de Trump deverá ser o mais importante e justo de todos.
Ainda é cedo para comemorar, mas é óbvio que as forças israelenses, prestes a demolir o último bastião do Hamas, foram o “argumento” mais convincente para o grupo terrorista mudar, pelo menos por enquanto, sua postura inflexível. Só o tempo dirá se de fato é pra valer ou se é apenas para ganhar tempo e se reoganizar. Infelimente, continuo cético.
Ainda há muito o que ser discutido. Mas o fato de o novo líder do Hamas ter dado entrevista à Al Jazira agradecendo a Trump pelo esforço é algo impensável até bem pouco tempo. Fico imaginando a cara da Greta, do Lula, do Breno Altman e de todos os entusiastas “do rio ao mar” vendo isso.
Como era de se esperar, o Hamas reluta em ceder as armas e deixar totalmente o poder, tentando participar de alguma forma da administração de Gaza e, claro, opondo-se à presença de forças internacionais.
Ou seja, ainda há um longo caminho a ser percorrido — inclusive do lado israelense, cujos dois ministros radicais, que dão sustentação ao governo Netanyahu, ameaçam abandonar a coalizão assim que os reféns forem libertados.
Sim, há radicais de ambos os lados. Mas notem que até mesmo os ultra, mega, super-radicais judeus seriam considerados no máximo moderados se fossem medidos pela régua do Hamas. Afinal, seu “radicalismo” baseia-se no fato — até aqui incontestável — de que os radicais islâmicos jamais aceitarão a existência do Estado judeu.
Portanto, na impossibilidade de uma convivência pacífica, aos radicais judeus resta a vigilância permanente em Gaza e na Cisjordânia, o que, na prática, inviabiliza a criação de um Estado palestino. Ainda mais quando a maior parte do território desse eventual Estado se assenta nas terras da Samaria e de Judá — duas das doze tribos originárias de Israel —, onde fica a bíblica capital judaica, Jerusalém, a mesma cidade que os palestinos reivindicam para si como capital. Como mudar a mente de um religioso sobre algo milenar?
E por falar em moderação, vale ressaltar o tom “institucional” do líder do grupo terrorista, na entrevista à Al Jazira, apresentando-se como um ente democrático que submete suas decisões a um tal “consenso nacional palestino”!
Ora, ora, consenso com o Hamas! Do tipo jogar desafetos do Fatah de cima de prédios, como em 2006? Trocar tiros com facções rivais, como nesta semana? Ou atirar em palestinos que se aventuraram a buscar alimentos distribuídos pelos norte-americanos?
Claro que a jornalista da TV propagandista palestina não ousaria apontar essas incongruências ao líder do grupo terrorista, mas ainda assim o cutucou — lembrando que, no final, as respostas oficiais são sempre dadas pelo Hamas que, pasmem, na mesma entrevista afirmou, sem corar, ter concordado com todas as outras tentativas de cessar-fogo! O obstáculo, claro, teria sido sempre Israel.
Sim, ele disse isso! A cara de pau não tem limites. Os mesmos terroristas que praticaram os horrores do 8 de outubro cobram agora o fim do “genocídio” dos palestinos, que eles próprios usam como escudos humanos numa guerra que eles poderiam parar imediatamente com a devolução dos reféns.
Pois é. Nem mesmo a jornalista enviesada da Al Jazira engoliu tanto cinismo. Em determinado momento, após uma longa fala do terrorista colocando condicionantes ao acordo, ela cita pontos da proposta de Trump que o contradizem.
Como todos podem ver, o cinismo dos terroristas só encontra paralelo nos cínicos da flotilha — incapazes de pronunciar uma palavra sobre o assassinato de sete mil cristãos nesta mesma semana na Nigéria, ou de tantos outros massacres ocorridos em diversas guerras, mas sempre preparados para posar de “sequestrados” pelos israelenses!
Certamente estão torcendo pelo fracasso do acordo: afinal, dói menos neles ver os palestinos sofrerem como escudos humanos do que ver Trump entrar para a história como o promotor da paz entre palestinos e judeus.
Link da entrevista traduzida com a IA: https://www.youtube.com/watch?v=bEsCo02jAj4