Opinião

A estranha história do Reino de Bananas

O Reino de Bananas era habitado pelos Macunaimas, um povo muito interessante.

Depois de um período conhecido como “Treva verde-oliva”, os Macunaimas conseguiram readquirir o direito de escolher seus governantes. Só que o sistema, conhecido com Democracia Monárquica Compulsória, era bem peculiar; periodicamente, o povo era obrigado a comparecer às urnas para escolher quais famílias iriam virar nobres e enriquecer às suas custas nos próximos anos.

O primeiro governante eleito depois da redemocratização foi Dom Fernando I, o Alucinado das Alagoas, sucedido por Dom Fernando II, o Sociólogo da Sorbonne. Cansado de Fernandos, o povo deu uma chance a Dom Lula, a Santa Criatura. Inteligente, carismático e desprovido de caráter, três qualidades muito admiradas pelos Macunaímas, Dom Lula levou o povo ao delírio ao usar na economia o método da Pirâmide Madoffista Irracional, um sistema em que todo mundo fica rico de uma hora para a outra, até que um dia todo mundo acorda muito mais pobre do que era antes. Deu merda em todos os lugares onde foi aplicado, e por isto os Macunaimas acreditavam que ia dar certo em Bananas. Conforme eu disse, era um povo muito estranho.

E foi assim que os pobres lotaram o aeroporto, arenas foram construídas nos locais mais desertos do Reino, a Petrobananas bancou projetos faraônicos, domésticas foram para a Disney, enfim, uma farra completa. No auge da popularidade, Dom Lula conseguiu eleger seu cone, Dona Dilma, a Gerenta Competenta. Só que um dia a fatura do cartão de crédito chegou e, com a perspectiva da recessão, Dona Dilma acabou derrubada por seu sucessor, Dom Michel, conhecido como o Vampiro de Brasília, por se alimentar do sangue de jovens. Treinado por especialistas da Mídia Golpista, ele aplicou o golpe com tanta sutileza que o juiz Moro entendeu o lance como legal e mandou a jogada seguir sem nem consultar o VAR, apesar dos protestos do lado vermelho da força. Dizem que ao narrar a cena, Dom Galvão, o Eterno Chato, locutor oficial do Reino, soltou seu bordão preferido; “Pode isto, Arnaldo?”.

De saco cheio e afundado na merda, o povo apelou literalmente prá ignorância, e elegeu Dom Jair Messias, o Capitão Caverna. Diga-se que seus adversários na final, a dupla Habib e Manu, também não era lá grande coisa. Embora freqüentadores assíduos da igreja eram, na verdade, médiuns que só sabiam psicografar o que Dom Lula mandava dizer. Difícil escolher qual o menos pior.

Na verdade todos no Reino sabiam que quem mandava, mesmo, era uma estranha maçonaria chamada Centrão, cujos membros eram execrados por todos mas, estranhamente, sempre se reelegiam. Seu patrono era Dom José Ribamar, o Marimbondo de Fogo. O guia espiritual era Dom ACM, o babalorixá de Todos os Santos. Dizem que o símbolo do Centrão era um Modess, porque eles conseguiam ser aderentes a tudo e sempre estavam num lugar agradável, mas a piada era velha, machista e, provavelmente, mentirosa.

Acima do Centrão ainda existia uma entidade esotérica, também odiada por todos, chamada Rede Globo, um grupo que começou pequeno, fabricando biscoitos e água sanitária, mas virou uma potência. Os atos contra a Rede Globo sempre fracassavam porque os manifestantes saiam cedo para não perder o capítulo da novela e o BBB. Realmente, os Macunaímas eram um povo que devia ser estudado pela NASA.

Hoje, atacado pela pandemia, o Reino de Bananas vive mais uma contradição; parte do povo torce pelo coronavírus, na esperança de que ele só mate seus inimigos políticos, enquanto Dom Jair Messias, por mais que faça uma merda em cima da outra, está quase tão popular quanto Dom Lula foi um dia, porque aproveitou a passagem do vírus para fazer o que os Macunaímas entendem que é a obrigação de todo o governante; distribuir merrecas para todo mundo. Só que um dia o dinheiro acaba, e aí começa tudo de novo…

Realmente, um lugar muito estranho.

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

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Um Comentário

  1. Admira MUITO um homem de 68 anos, que viveu o período Militar chamar de treva.
    Foi um governo duro? Foi. Mas temos que lembrar que depois do ataque terrorista no Aeroporto de Guararapes que matou um jornalista e um almirante e feriu gravemente várias pessoas, os militares, tiveram que dar uma resposta dura. E a versão que isso só foi depois de 1968 não se sustenta. Desde 1961 havia grupos armados no Brasil, treinados na China, querendo tomar o poder. Recomendo ler COMBATE NAS TREVAS, de Jacob Gorender. Insuspeito, pois participou chamada luta armada. O Brasil saiu da 48s.posição no ranking econômico mundial para 8o. E para recordar….

    Páginas 26 e 27 do livro de Elio Gaspari “Ditadura Derrotada”:

    “A ditadura estava no seu oitavo ano, no terceiro general. Medici cavalgava popularidade, progresso e desempenho. Uma pesquisa do IBOPE realizada em julho de 1971 atribuira-lhe 82% de aprovação. Em 1972 a economia cresceria 11,9%, a maior taxa de todos os tempos. Era o quinto ano consecutivo de crescimento superior a 9%. A renda per capita dos brasileiros aumentara 50%. Pela primeira vez na história as exportações de produtos industrializados ultrapassara 1 bilhão de dólares. Duplicara a produção de aço e o consumo de energia, triplicara a de veículos, quadruplicara a de navios. A Bolsa de Valores do Rio de Janeiro tivera em agosto uma rentabilidade de 9,4%. Vivia-se um regime de pleno emprego. No eixo Rio-São Paulo executivos ganhavam mais que seus similares americanos ou europeus. Kombis das empresas de construção civil recrutavam mão de obra no ABC paulista com altos falantes oferecendo bons salários e conforto nos alojamentos. Um metalúrgico parcimonioso ganhava o bastante para comprar um fusca novo. Em apenas dois anos os brasileiros com automóvel passaram de 9% para 12% da população e as casas com televisão de 24% para 34%. O Secretário do Tesouro americano, John Connally, dissera que “os EUA bem poderiam olhar para o exemplo brasileiro, de modo a pôr em ordem a sua economia”.

    Criação de 13 milhões de empregos;
    – A Petrobrás aumentou a produção de 75 mil para 750 mil
    barris/dia de petróleo;
    – Estruturação das grandes construtoras nacionais;
    – Crescimento do PIB de 14%;
    – Construção de 4 portos e recuperação de outros 20;
    – Criação da Eletrobrás;
    – Implantação do Programa Nuclear;
    – Criação da Nuclebrás e subsidiárias;
    – Criação da Embratel e Telebrás (antes, não havia ‘orelhões’ nas ruas nem se falava por telefone entre os Estados);
    – Construção das Usinas Angra I e Angra II;
    – Desenvolvimento das Industrias Aeronáutica e Naval (em 1971 o Brasil foi o 2º maior construtor de navios do mundo);
    – Implantação do Pró-álcool em 1976 (em 1982, 95% dos carros no país rodavam a álcool);
    – Construção das maiores hidrelétricas do MUNDO: Tucuruí, Ilha Solteira, Jupiá e Itaipú;
    – Brutal incremento das exportações, que cresceram de 1,5 bilhões de dólares para 37 bilhões; o país ficou menos dependente do café, cujo valor das exportações passou de mais de 60% para menos de 20% do total;
    – Rede de rodovias asfaltadas, que passou de 3 mil para 45 mil km;
    – Redução da inflação galopante com a criação da Correção Monetária, sem controle de preços e sem massacre do funcionalismo público;
    – Fomento e financimento de pesquisa: CNPq, FINEP e CAPES;
    – Aumento dos cursos de mestrado e doutorado;
    – INPS, IAPAS, DATAPREV, LBA, FUNABEM;
    – Criação do FUNRURAL – a previdência para os cidadãos do campo;
    – Programa de merenda escolar e alimentação do trabalhador;
    – Criação do FGTS, PIS, PASEP; (**)
    – Criação da EMBRAPA (70 milhões de toneladas de grãos); (**)
    – Duplicação da rodovia Rio-Juiz de Fora;
    – Criação da EBTU;
    – Implementação do Metrô em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza;
    – Criação da INFRAERO, proporcionando a criação e modernização dos aeroportos brasileiros (Galeão, Guarulhos, Brasília, Confins, Campinas – Viracopos, Salvador, Manaus);
    – Implementação dos Pólos Petroquímicos em São Paulo (Cubatão) e na Bahia (Camaçari);
    – Investimentos na prospecção de petróleo no fundo do mar que redundaram na descoberta da bacia de Campos em 1976;
    – Construção do Porto de Itaquí e do terminal de minério da Ponta da Madeira, na Ilha de S. Luís, no Maranhão;
    – Construção dos maiores estádios, ginásios, conjuntos aquáticos e complexos desportivos em diversas cidades e universidades do país;
    – Promulgação do ‘Estatuto da Terra’, com o início da Reforma Agrária pacífica;
    – Polícia Federal;
    – Código Tributário Nacional;
    – Código de Mineração;
    – Implantação e desenvolvimento da Zona Franca de Manaus;
    – IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal;
    – Conselho Nacional de Poluição Ambiental;
    – Reforma do TCU;
    – Estatuto do Magistério Superior;
    – INDA – Instituto de Desenvolvimento Agrário;
    – Criação do Banco Central (DEZ 64);
    – SFH – Sistema Financeiro de Habitação;
    – BNH – Banco Nacional de Habitação; (***)
    – Construção de 4 milhões de moradias;
    – Regulamentação do 13º salário;
    – Banco da Amazônia;
    – SUDAM;
    – Reforma Administrativa, Agrária, Bancária, Eleitoral, Habitacional, Política e Universitária;
    – Ferrovia da soja;
    – Rede Ferroviária ampliada de 3 mil e remodelada para 11 mil Km;
    – Frota mercante de 1 para 4 milhões de TDW;
    – Corredores de exportações de Vitória, Santos, Paranaguá e Rio Grande;
    – Matrículas do ensino superior de 100 mil em 1964 para 1,3 milhões em 1981;
    – Mais de 10 milhões de estudantes nas escolas (que eram realmente escolas);
    – Estabelecimentos de assistência médico sanitária de 6 para 28 mil;
    – Crédito Educativo;
    – Projeto RONDON;
    – MOBRAL;
    – Abertura da Transamazônica com instalação de agrovilas;
    – Asfaltamento da rodovia Belém-Brasília;
    – Construção da usina hidrelétrica de Boa Esperança, no Rio Parnaíba;
    – Construção da Ferrovia do Aço (de Belo Horizonte a Volta Redonda);
    – Construção da Ponte Rio-Niterói;
    – Construção da rodovia Rio-Santos (BR 101);

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