Opinião

2026: Quem Vai Pagar a Conta do Brasil? – Parte 2: A Fila de Herdeiros Querendo o Cartão

Na primeira parte da nossa conversa, vimos que o presidente Lula enfrenta um cenário complicado: a economia não ajuda e sua popularidade patina fora de seus redutos. Com o campeão parecendo vulnerável, a grande questão é: quem está pronto para desafiá-lo? Com Bolsonaro fora do jogo, a direita brasileira se tornou um campo de batalha. Vários nomes se apresentam como herdeiros legítimos, mas todos enfrentam o mesmo paradoxo: como herdar os milhões de votos de Bolsonaro sem herdar também sua imensa rejeição?

O Dilema do Herdeiro

O primeiro dado a ser compreendido é que o “toque de Midas” de Bolsonaro evaporou. As eleições municipais de 2024 foram um massacre para os afilhados diretos do ex-presidente. Um levantamento detalhado mostrou que dois em cada três candidatos a prefeito apoiados publicamente por ele perderam. Nas capitais, o vexame foi ainda maior: 10 de seus 13 pupilos foram derrotados.[1] A lição é dura, mas clara: o endosso de Bolsonaro não é mais um passaporte para a vitória; pode ser, inclusive, um abraço de afogado. Ignorar sua base, no entanto, continua sendo suicídio político. É nesse fio da navalha que os pretendentes precisam se equilibrar.

Os Concorrentes e Suas Estratégias

  • Tarcísio de Freitas, o Equilibrista: O governador de São Paulo é, hoje, o favorito na bolsa de apostas. Sua estratégia é um balé político complexo. Ele intensifica viagens, entrega obras e se reúne com a elite da Faria Lima, projetando uma imagem de gestor presidenciável. Ao mesmo tempo, envia acenos à base bolsonarista, afirmando que pode ser candidato se for “convocado” pelo ex-presidente.[2] O desafio de Tarcísio é manter esse equilíbrio. Um recente discurso em tom mais agressivo e ideológico, típico de Bolsonaro, mostra como essa corda bamba é perigosa.[3]
  • Romeu Zema, o Franco-Atirador: O governador de Minas Gerais escolheu um caminho oposto. Zema já se lançou abertamente como pré-candidato à Presidência.[4] Sua estratégia é a da clareza e da confrontação direta. Ele adotou uma retórica ferozmente anti-PT, prometendo “varrer o PT do mapa” e criticando abertamente o STF.[5] Sua força está em seu discurso coeso e em sua base sólida em Minas Gerais, o estado-chave de qualquer eleição.
  • Ratinho Jr., o “Plano B” da Moderação: Correndo por fora, mas com um potencial imenso, está o governador do Paraná. Com índices de aprovação estratosféricos em seu estado, Ratinho Jr. (PSD) é posicionado como o “plano B”, a alternativa de centro-direita.[6] Sua estratégia é fugir da guerra cultural e da polarização, focando seu discurso na gestão e nos resultados. Ele é a personificação do caminho “desbolsonarizado” que muitos acreditam ser a única forma de derrotar o PT.[7] Com o apoio do presidente de seu partido, Gilberto Kassab, ele se movimenta para construir uma candidatura baseada na imagem de um administrador competente.[8]

Michelle Bolsonaro, a Dama de Copas

Michelle é a peça que pode virar o tabuleiro. Sua posição é um estudo de caso em ambiguidade estratégica. Publicamente, ela nega qualquer ambição presidencial.[9] Contudo, em entrevistas à imprensa internacional, ela admite que pode, sim, disputar as eleições, dependendo da vontade de Deus e de Jair Bolsonaro.[10]

Essa aparente indecisão não é fraqueza, mas uma jogada de mestre. A “candidatura” de Michelle não é um projeto político real, mas uma ferramenta de poder e chantagem nas mãos de Jair Bolsonaro. Inelegível, ele precisa se manter como o centro gravitacional da direita.[11] Ao manter a candidatura da esposa em aberto, ela funciona como um freio de arrumação. Se Tarcísio se mover demais para o centro, a ameaça de uma candidatura de Michelle — que dividiria o voto da direita radical — pode ser usada para trazê-lo de volta à linha. Ela é o mecanismo pelo qual um líder ausente continua a ditar as regras do jogo.


Temos os perfis, as estratégias e as ambições. Tarcísio, Zema, Ratinho Jr. e a sombra de Michelle formam o baralho da direita para 2026. Mas em Brasília, os verdadeiros donos do jogo não costumam aparecer nas pesquisas. Eles operam nos bastidores, controlam a máquina e decidem quem terá a chave do cofre e o tempo de TV. Quem são os verdadeiros ‘donos do bar’ que podem fabricar o próximo presidente? E o que os números frios das pesquisas nos dizem sobre essa briga? Na parte final, vamos à hora da verdade: quem realmente manda na eleição e quem está na frente na corrida pelo Planalto.


Referências

  1. 2 EM CADA 3 candidatos apoiados por Bolsonaro perderam eleições. The Intercept Brasil, 28 out. 2024. Disponível em: https://www.intercept.com.br/2024/10/28/2-em-cada-3-candidatos-apoiados-por-bolsonaro-foram-derrotados-nas-eleicoes/. Acesso em: 18 out. 2025.
  2. TARCÍSIO admite disputar Presidência em 2026 e mantém aberto plano de reeleição em SP. Brasil de Fato, 24 ago. 2025. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2025/08/24/tarcisio-admite-disputar-presidencia-em-2026-e-mantem-aberto-plano-de-reeleicao-em-sp/. Acesso em: 18 out. 2025.
  3. TORQUATO, Gaudêncio. Os horizontes de 2026. Jornal da USP, 15 set. 2025. Disponível em: https://jornal.usp.br/articulistas/gaudencio-torquato/os-horizontes-de-2026/. Acesso em: 18 out. 2025.
  4. ROMEU Zema confirma presença na disputa pela Presidência em 2026. Publicado pelo canal Jovem Pan News. 2025. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Zs8wh6V9OfU. Acesso em: 18 out. 2025.
  5. ROMEU Zema fala em “varrer o PT do mapa” em lançamento de pré-candidatura à presidência. Publicado pelo canal CNN Brasil. 2025. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fjjUORVkAHA. Acesso em: 18 out. 2025.
  6. RATINHO Jr. ganha força como “plano B” da direita em 2026. Publicado pelo canal CNN Brasil. 2025. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=guosA7Lv49w. Acesso em: 18 out. 2025.
  7. O CENTRO desbolsonarizado e 2026. JOTA, 25 fev. 2025. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/o-centro-desbolsonarizado-e-2026. Acesso em: 18 out. 2025.
  8. RATINHO Jr. dá mais um passo para consolidar sua candidatura ao Planalto. VEJA, 22 jul. 2025. Disponível em: https://veja.abril.com.br/coluna/maquiavel/ratinho-jr-da-mais-um-passo-para-consolidar-sua-candidatura-ao-planalto/. Acesso em: 18 out. 2025.
  9. MICHELLE descarta Presidência e defende Jair Bolsonaro como candidato em 2026. Publicado pelo canal Jovem Pan News. 2025. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Ptctmu8gz9c. Acesso em: 18 out. 2025.
  10. MICHELLE Bolsonaro diz que pode ser candidata em 2026; Beraldo e Vilela comentam. Publicado pelo canal Jovem Pan News. 2025. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=K7sS67qgc4s. Acesso em: 18 out. 2025.
  11. PINHO, José Antonio G. de; SANTOS, Renata Cristina Nogueira; SOUZA, Érika Maria Ribeiro. A nebulosa e estratégica eleição presidencial de 2026. Cadernos Gestão Pública e Cidadania, 22 maio 2025. Disponível em: https://periodicos.fgv.br/cgpc/announcement/view/404. Acesso em: 18 out. 2025.

Barnabe da Silva Jr

Brasileiro, paulista de Santo André, Casado, um filho. Engenheiro (Escola de Eng. Mauá), MBA em MKT pela FGV, mestre em Engenharia (planejamento energético) Poli/USP , e doutorando Engenharia (planejamento energético) pela Poli/USP (um dia acabo). Executivo de empresas nacionais de TI até 2017, pesquisador em energia (atualmente armazenamento de energia elétrica me chama a atenção), e professor convidado, de pós graduação apenas, até o início da pandemia. Desde dezembro de 2019, sou sócio de uma empresa de consultoria soluções em energias renováveis, com ênfase em regulação energética e na análise de viabilidade técnico-econômica de projetos de geração distribuída de energia. Desde o início da pandemia (março de 2020) moro em um sítio afastado da cidade de Mogi das Cruzes, onde por sorte consegui, as minhas custas, por um link de internet banda larga, assim posso desenvolver a maioria de minhas atividades em home-office. Não pretendo voltar morar na cidade: Só visitas pessoais e profissionais. Meus hobbies: Leitor voraz de livros (a maioria digital, amazona Kidle), fã de ficção cientifica (filmes, series e livros), prático em habilidades manuais que me deixem mais independente da infraestrutura das grandes cidades: Aprendendo a fazer facas artesanais; planto 60% dos alimentos que como, frutas, verduras, legumes e plantas medicinais, e plantas alimentícias não comerciais. Acabei me tornando especialista em fungos, mais conhecidos com cogumelos comestíveis, ênfase champignon e shimeji: Tenho 7 estufas de porte comercial, onde atualmente planto shimeji. Cristão protestante praticante.

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