Mas todo dia é mesmo um 7 x 1?

Hoje resolvi falar de um assunto mais leve… nada de extremistas, islamismo, COVID, PCC Chinês, campos de concentração, políticas identitárias, politicamente correto etc. Ufa, estava precisando mesmo. Se tiverem um pouco de sal grosso, um banho de ervas para doar, eu aceito 😊

Fiquei aqui pensando e resolvi dividir com vocês as impressões iniciais de uma brazuca em terras germânicas. Tenho certeza de que esse será um assunto recorrente nas mesas de boteco da Vila Madalena e adjacentes quando eu estiver no Brasil.

Não acredito que nada é muito novo. As redes sociais e blogs pelo mundo estão cheios de comentários e exemplos. E, claro, toda impressão tem um caráter bem individual. Assim, não tenho a menor intenção de que a minha leitura seja única e inquestionável.

Ainda há os mais sonhadores, mas eu não cheguei pensando que iria ser não tudo mil maravilhas. E isso não significa que estou cuspindo no prato que estou comendo não. Calma! Não sou dessas… 😉

Mas vamos como “Jack o estripador”, por partes:

Língua: sim, falemos de obviedades. “Gott” (Deus), mas que linguinha difícil de aprender. Me disseram que a parte boa é não haver tantas regras (aham), e pouquíssimas exceções. Ufa, já é alguma coisa. Mas acostumar-se com a ‘música’ gutural germânica, é bem complicado. Eu diria que em ordem de dificuldade (do mais fácil para o mais difícil), seria: primeiro a leitura, segundo a escrita (pois é, acho mais fácil escrever), terceiro o falar e o mais difícil, sem sombra de dúvidas, é entender que raios o outro está falando. São tantos sotaques, sons guturais, “Rs” diferentes, que tem hora que parece que não sei nada. Nem vou começar a falar do “Bayerische”, dialeto próprio da Bavária, senão eu choro… Gol da Alemanha? Nada disso, é uma bolada na cara todo dia 😳.

Burocracia e papelada: Juro, estou para ver um povo que gosta mais de um papel, de uma cartinha de banco que o alemão. Muito do que poderia ser resolvido por internet, não é. Sei lá, parece que há um certo preconceito aqui. Uma amiga minha de ascendência alemã já havia me avisado: “Anna, se existe um problema, não se preocupe. Haverá um formulário e dossiê específico para ser seguido”.

Tenho que dividir que fiquei um pouco decepcionada quando o processo para a famosa “Aufenthaltskarte” (Autorização de Residência) levou 3 meses, ao invés das 6 a 8 semanas que o website do Consulado alemão informava. E mais um pouco decepcionada quando ao discutir o processo com outras brasileiras fiquei sabendo que nem sempre eles exigem os mesmos documentos, nem sempre prestam atenção se de fato o proprietário do apartamento que assinou um certo formulário e, achei mais ainda surpreendente, quando ouvi que o prazo de validade da autorização de residência varia de pessoa para pessoa, sem muita explicação. Dependeria do humor do atendente? Há certas regras que eles não abrem para a arquibancada ? Não sei.

E, finalizando, o mesmo documento provisório que usei logo no início dos famosos “lockdowns” iniciais da 1ª onda da pandemia para entrar via trem na fronteira da Alemanha com a França foi aceito tranquilamente, já do meu enteado questionaram e queriam deixá-lo na Áustria quando foi a passeio com a escola. Ou seja, tudo é aberto a interpretações do funcionário público? Pois é, não sei. Então, para mim, nada de Gol da Alemanha aqui. Está mais para bola fora.

Impostos, taxas, planos de saúde. Vou listar em itens, pois acho alguns bem interessantes:

“Ah, tudo bem, Anna… mas tudo deve funcionar maravilhosamente bem, não?”. Olha, não posso negar que a parte do transporte, no geral, funciona muito bem e os horários são claramente dispostos em telas, que horas chega etc. Tudo muito claro e organizado. Mas também já passei por situações onde o UBahn (metrô) para do nada, você não sabe o porquê, e fica esperando 10, 20, 30 minutos. Sim, claro, nada comparado à frequência paulistana. Então para esse ponto, gol da Alemanha.

Outro assunto muito discutido nos grupos de brasileiros, e que ainda não tive o desprazer, ou prazer, de passar, é o:

Aí você me pergunta, seria para atendimento médico e exames gol da Alemanha?

Neste momento, prefiro parar o jogo e pedir auxílio para o bandeirinha, ou ainda o famoso VAR para eu julgar. Aquele que mistura sentimentos de amor e ódio, como tão bem discutido nessa publicação do Papo de Boteco. E, ainda, seguir o jogo. Mas, parece que estou sentindo o músculo da coxa fisgar. Tempo para atendimento médico…

Outro ponto que incomoda muuuuuito 😳:

E agora vamos falar de algo bem importante:

Assim, no item geral entregas e qualidade de produtos, é bola na trave atrás de bola na trave, com algumas exceções.

Por falar em garrafas (“Pfand”), vamos falar sobre:

Por todos esses pontos, está mais para gol da Alemanha, mas … talvez eu peça novamente o auxílio do VAR, pois essa história de ainda usarem 40% de sua eletricidade via carvão mineral me incomoda muito.

Mudando de alhos para bugalhos, obviamente há pontos que são incomparáveis de fato ao Brasil:

Não podia deixar de mencionar o que nos forra o estômago e nos dá energia todo dia:

Ao contrário de muita gente, comida é algo que não me incomoda nem um pouco. Adaptei-me super bem, apesar que não há como negar como sinto falta de um verdadeiro churras com amigos. E, modéstia à parte, eu piloto bem uma churrasqueira. É, “faça churras como uma garota”… 😂😂

A única vez que fizemos na nossa varanda, lá veio vizinho reclamar pois estava subindo cheiro de carne e fumaça. Valha-me Deus! Assim, aqui nada de gol. Há suas vantagens e desvantagens. Segue o jogo.

“E do COVID e o gerenciamento, você não vai falar nada?” Pera, amiguinhos, isso daria uma publicação inteira a respeito. Então vou falar só de dois pontos interessantes:

“Ah Anna, sei não, há tantos outros fatores na Alemanha: grande quantidade de testes, controle por meio de apps dos infectados e contatados, o sistema de leitos e atendimento etc.”. Sem dúvida, todos esses pontos são muito importantes. Mas, novamente, como já disse na minha 1ª publicação: se nem dona OMS tem acertado, pois até recentemente disse que nunca advogou para lockdown nacional, quem sou eu?! Só mais uma pobre latino-americana palpitando nesse Blog.

E para terminar, vou falar de algo que interessa a todo mundo… aquele líquido, dourado ou não, que sorvemos, junto com uma refeição ou petiscos, tão desejado por muitos:

Pois é, mudar de país não é nada fácil. Não tenho respostas para tudo (ou quase nada, na verdade). Nem sei se um dia terei ou essa será a verdade absoluta. O que acho hoje, pode mudar amanhã. Como diria meu caríssimo Raul Seixas: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante”.

E, como eu sempre digo, toda “verdade” tem vários lados. Assim como todo gol, falta, pênalti, bola fora pode ter várias interpretações. Com ou sem VAR.

Ainda tenho muitos planos para o ano que vem para turbinar de vez meu aprendizado com a língua e a cultura (como um programa de socialização entre estudantes da língua com idosos chamado: “Das Hallo Project”, que obviamente o seu COVID não deixou este ano)

De qualquer maneira, para mim algo é claro. Nunca tudo serão flores, há sempre pontos positivos e negativos em qualquer lugar do mundo e não adianta ser resistente às mudanças. Observe-as, aceite-as, abrace-as.

O negócio é não viver no mundo de Alice, arregaçar as mangas, entender que serviços são caros, e também não menosprezar as riquezas da terrinha. Parafraseando seu Lula da Silva, quem diria, hein, Anna: “o brasileiro e sua síndrome de vira-lata”. Valorize-se também.  

É isso… Willkommen in Deutschland. Mas não espere um 7 x 1 em tudo 😉

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