UOL faz crítica tosca a artigo sobre IVM

Metapesquisa do tratamento com ivermectina

Enfim, o artigo “Preliminary meta-analysis of randomized trials of ivermectin to treat SARSCoV-2 infection” do Dr. Andrew Hill foi publicado em 19 de janeiro, sem revisão por pares, no Research Square.

É um artigo consistente, bem organizado, com 37 páginas e repleto de tabelas no final.

Afinal, de onde veio isso?

O Dr. Andrew Hill leciona na Universidade de Liverpool, atua na Unitaid, ligada à OMS, além de ser um pesquisador prolífico, com mais de 200 artigos publicados sobre hepatite C, AIDS etc., incluindo nos 2 mais reputados periódicos do mundo (New England Journal of Medicine e The Lancet). Ou seja, ele não “nasceu” em 2020, como muitos.

Dr. Andrew teve ainda um importante papel na mudança no início desse ano do status da Ivermectina de contrário para neutro, nas recomendações oficiais da NIH (National Institute of Health).

Primeiro, um vídeo dele vazou, enfim resultou no artigo acima citado. Para acompanhar essa história melhor, que inclui um e-mail do Dr. Andrew para mim, leia aqui.

A UOL chega para detonar!

Muito rapidamente a UOL preparou uma reportagem intitulada “Covid-19: por que estudo que indica eficácia da ivermectina não é confiável”, assinada por Giulia Granchi, cujo objetivo é massacrar o artigo.

Giulia é repórter do UOL, novinha, e trabalha no “Bem Estar”. Se formou jornalista em 2017 na Cásper Líbero.

Dr. Marco Bittencourt é convocado para o linchamento

Giulia Granchi pescou então o especialista Marcio Sommer Bittencourt com doutorado na USP em cardiologia finalizado em 2014 (pela foto, pouco mais de 30 anos), para dar um ar de respeitabilidade à sua matéria (falácia da autoridade).

O que Dr. Marcio falou no passado sobre a pandemia?

Pelas postagens passadas em tempos de pandemia, desde março de 2020, dá para ver que ele é do tipo que não dá nada para pacientes, sem que esteja rigorosamente demonstrado por estudos anteriores, ainda que eles venham a falecer por falta de qualquer opção medicamentosa.

No tempo da H1N1, provavelmente o Dr. Marcio não teria receitado Tamiflu, por exemplo, antes de ter sido provado de forma cabal que o remédio funciona. Isso, aliás, matou muita gente à toa.

Quando alguém em maio ranqueou lugares perigosos para contágio de COVID-19 em ordem decrescente, colocando locais como hospitais, academias, e transportes públicos (faltou por boate) na frente da lista e a casa em último, o mesmo Marcio Sommer Bittencourt disse, de forma irresponsável, colocando todos os lugares no mesmo balaio:

“Ranquear os lugares não faz sentido porque o contágio depende de quantas pessoas estão circulando lá, o quão próximas elas estão e quanto tempo se passa dentro do ambiente, Por isso a ideia do isolamento físico, usar máscara e ficar a dois metros de distância.”

Em suma, segundo Marcio Bittencourt, na sua própria casa você passa a ser forçado a usar máscara, ficar a 2 metros de distância, e a manter isolamento físico. Ou seja, não nasce mais ninguém….

De volta à vaca fria

Sem mais delongas, vamos dissecar o artigo da UOL, ponto por ponto, em 5 itens:

Item 1: preconceito in natura

Sobre o artigo, o douto Marcio Sommer Bittencourt inicia dizendo: “É tão mal feito que não dá para tirar qualquer conclusão, o que os próprios autores reconhecem no fim do artigo”

𝙍𝙚𝙨𝙥𝙤𝙨𝙩𝙖: Essa frase é tão eivada de preconceitos que me dá engulhos. Se os próprios autores tiveram a humildade de reconhecer as limitações de forma clara, não tem nada de errado. Isso é muito comum em papers.

Item 2: mentira cristalina

Única frase da própria Giulia: “O estudo é uma meta-análise, o que significa que primeiro é feita a coleta de forma sistemática de todos os dados disponíveis —sem quaisquer filtros específicos”

𝙍𝙚𝙨𝙥𝙤𝙨𝙩𝙖: É mentira dizer que a metapesquisa não tem filtros, o paper diz claramente “foram excluídos estudos de prevenção e estudos não randomizados ou controlados por casos. Identificamos e incluímos 18 RCTs”

Item 3: cerejas com melancias, dá para acreditar?

Marcio Sommer Bittencourt desarvora: “Esse novo estudo, no entanto, não seguiu todas essas etapas, e as que foram seguidas não foram feitas de forma correta … Em uma explicação leiga, imagine que o estudo quer saber quantas frutas as pessoas comem por dia. Só que um analisa cerejas e indica que as pessoas comem 50 unidades, e outro analisa melancias, que diz que as pessoas comem um terço. Não são dados compatíveis e por isso as pesquisas não devem ser analisadas juntas”

𝙍𝙚𝙨𝙥𝙤𝙨𝙩𝙖: Mais uma tonelada de preconceitos do senhor Marcio Sommer Bittencourt. Ele comparou uma seleção de 18 randomized controlled trials (RCTs) em pessoas com análise comparada de cerejas e melancias. Piada completa.

Item 4: não deu tempo, brother

Marcio Sommer Bittencourt continua sua artilharia: “Outro problema é que a maioria dos artigos escolhidos para a meta-análise não foram publicados e revisados por pares, o que garantiria a checagem da qualidade”

𝙍𝙚𝙨𝙥𝙤𝙨𝙩𝙖: Claro!!! Não houve tempo suficiente para todos artigos serem revisto por pares. Isso pode levar meses. Essa é uma premissa que o artigo teve que se submeter, para poder acontecer. Estamos em uma pandemia. Dos 18 artigos, 5 são revistos por pares.

Item 5: mentira + acusação sem provas ou evidências

Marcio Sommer Bittencourt fuzila: “A maioria dos estudos escolhidos não é duplo-cego nem possui grupo placebo, então, o médico sabendo, ele pode resolver tirar alguns participantes do estudo, caso avalie o quadro de determinada pessoa como grave”

𝙍𝙚𝙨𝙥𝙤𝙨𝙩𝙖: Mentira parcial, pois 11 dos 18 artigos são duplo cego (DB) e 7 dos 18 artigos usam placebo. A segunda parte é uma acusação frontal de fraude em várias das pesquisas usadas, sem qualquer evidência ou prova. Ainda que exista chance de fraude, não se pode afirmar isso a priori.

O que a UOL não disse

A reportagem não disse quem é Dr. Andrew Hill, seu papel junto a OMS através da Unitaid, sua atuação junto a fundações Bill e Melinda Gates e Fundação Clinton (do Bill Clinton) e finalmente sua atuação junto a NIH norte-americana para mudar o status da ivermectina.

Isso tudo não interessava à causa. Afinal, a conclusão do artigo da Giulia já estava pronto antes dela começar a redigi-lo.

Em relação ao artigo em si, a reportagem deixou de falar o problema mais relevante com os artigos usados na metapesquisa, embora Dr. Andrew Hill e seus colegas foram transparentes na tabela final.

Na tabela de avaliação de risco de viés, cada artigo é avaliado como risco baixo, alto ou pouco claro com base nos critérios pré-especificados estabelecidos no índice de risco Cochrane de vieses. Com base nisso, a qualidade de evidência por artigo é limitada em 12 dos artigos, OK em 5 dos artigos e boa em apenas 1 dos 18 artigos.

Ainda bem que o próprio Dr. Andrew Hill disse que estudos maiores e melhores estarão chegando logo, para que ele finalmente possa ter argumentos mais conclusivos para convencer a OMS a mudar o status da ivermectina para COVID-19.

Há precedentes

Outro exemplo deplorável foi a doutora e escritora brasileira Natália Pasternak (assídua colaborada da grande imprensa), que publicou em julho de 2020 um artigo triste de “divulgação científica” na revista Questão de Ciência, onde debocha e descarta a ivermectina, chamando-o pejorativamente de remédio contra minhocas.

Conclusão

Não sou contra criticar nada, mas é preciso fazê-lo de forma sóbria, relativamente isenta e embasada; podemos dizer que isso é tudo que o artigo da UOL não é. Ele desqualifica o trabalho de um time de pesquisadores de forma leviana, sendo que a jornalista deu voz a um professor com PhD (falácia da autoridade), embora com um currículo muito mais modesto que o do Dr. Andrew Hill.

Preconceituoso, nojento, lamentável, tosco e triste.

Epílogo

Para quem ainda não leu, penso que é bem interessante ler os artigos sobre tratamento precoce de COVID-19 recentemente publicados: o meu e o ótimo artigo de Rodrigo Losso, complementares entre si, sóbrios e neutros; do ponto de vista político.

Update (23/Jan): Saiu um novo vídeo do Dr. Andrew Hill detalhando o paper dele, que saiu preprint em 19 de janeiro. São 45′ com legendas em inglês, mas eu recomendo fortemente para os interessados.

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