Reflexões covidianas III – Uma cruzada contra os mortos

O MS fica preocupado com a repercussão do número de óbitos, quando na verdade deveria gastar sua energia em evitar o colapso dos sistemas de saúde e garantir que as pessoas doentes tenham atendimento adequado, além de coordenar o esforço nacional de combate à pandemia, executado pelos Estados e Municípios.

Mudar as regras de classificação no meio do jogo somente para aparecer melhor na foto é de uma insensatez extraordinária. Esse receio é sustentado pelas declarações recentes de Carlos Wizard, novo colaborador do Ministério da Saúde e pelo fato de que o site está em manutenção desde ontem à noite.

Na prática, a quantidade de óbitos será medida em números totais pelos cartórios e não há como ocultá-los. Se em uma determinada região normalmente morrem X pessoas por mês e com a pandemia falecem 2X, está claro que lá o bicho pegou. Ao contrário, se o número X de pessoas que morrem permanecem X, o vírus não teve efeito. E esses números eram até então compatíveis com o andamento da pandemia e sua severidade nos diferentes estados. Alguns fortemente afetados, outros passando à margem da doença.

As autoridades de saúde deveriam fazer o máximo possível para evitar os óbitos e não ficar debatendo como contá-los.

Ao invés de promover essa cruzada contra os falecidos, o MS deveria nos prover informação diária sobre volume de internações e ocupação de leitos em todo país. Isso é o mais importante.

Ouve-se falar muito de super e sub notificações. Ao final da pandemia, os totais de óbitos registrados nos cartórios nos contarão a verdade. Direcionar esforços para recontagem de óbitos a essa altura do campeonato, com quase 90 dias de curva, é uma demonstração de que seguimos batendo cabeça.

Tenho receio de que esse site esteja completamente descaracterizado quando voltar ao ar. Espero estar errado. Seria uma vergonha. Mais uma.

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