E o Oscar da burocracia no meio da Pandemia vai para … Terra do Chucrute!

Pois é, amiguinhos, desde que voltei para terra do Chucrute tenho tentado entender o que anda se passando no processo de vacinação na Alemanha.

Sobre o processo de vacinação no Brasil, que também está aquém de estar acontecendo sem percalços, recomendo a leitura da publicação Assim é se assim lhe parece do meu colega de PDB Marcelo Guterman.

Bom, voltemos ao Papo Reto de Boteco do Dia. Temos essa mania horrorosa de achar que tudo é lindo, perfeito, claro, correto fora da República das Bananas, mais conhecida como Brasil. No entanto, vou te contar uma coisa, digo, já comecei a contar na publicação Mas todo dia é mesmo um 7 x 1? que não é bem assim.

E, impressionantemente, no assunto vacinação também não é um 7 x 1 aqui não. Pois é …  

“Mas, Anna, desembucha logo. Divida conosco suas impressões. Acalme logo esse coração que vive nessa eterna síndrome de vira-lata”.

Tá bem, tá bem, vou contar um pouquinho para vocês. Mas, entendam, são impressões minhas. Não assumo nem civil, nem criminalmente a veracidade de cada informação. Pois são apenas… impressões. 😉

Voltemos ao Chucrute frio. Hoje temos algo em torno de 11 a 12% população alemã vacinada, variando de estado para estado. E, lembrando, que iniciaram em torno de um mês antes da vacinação do Brasil (que hoje está em quase 8% da população vacinada).

Para mim me pareceu pouco, e fui tentar entender o porquê…

*Negociação via União Europeia (EU): sim, é e foi um imbróglio ter que negociar tudo via UE, e que pagaram, sim, investiram, sim, menos por dose. Houve uma certa negligência, atraso nas negociações. Digamos, um menor senso de prioridade, sim, às vacinas se comparados com países como Reino Unido, EUA e Israel, sendo que os primeiros além de tudo dividiram, digamos, mais riscos com as indústrias farmacêuticas, investindo mais, e mais cedo. Esse parece ser o fator mais conhecido. Mas quais outros fatores têm afetado a velocidade da vacinação na Alemanha? Seguem minhas impressões:

*Nada de “Deutschland zuerst” (“Germany First”): Minha professora de alemão fala que “presidenta” Merkel virou meio mamãe da UE 😂😂 e, então, acaba fazendo meio de campo com todas as nações. E se para um país já é complexo gerenciar decisões numa pandemia, imagina ter que lidar com todos os países da União Europeia, seus interesses, cultura, orçamento, expectativas etc.? 

*Ausência de Fábricas de vacinas locais: não há fábricas próprias como o Brasil, o que poderia ajudar enormemente. Errata: A BioNTech (empresa que desenvolveu a vacina em parceria com a Pfizer) possui uma planta fabril em Mainz e acabou de expandir para Marburgo, registrada recentemente pela EMA – Agência Europeia. Interessante também notar que há planos para Alemanha ter novas plantas fabris também para Curevac, Johnson & Johnson, AstraZeneca, Novavax, além da BioNTech. A ideia é ter capacidade de produção independente a partir de 2022. Para isso uma força-tarefa deve elaborar um conceito até maio de 2021. É a pandemia mudando o “Supply-chain Global”. Globalização, União Europeia, China, Índia? Que nada, é a pandemia mudando o mundo. Vacina pouca, minha planta fabril primeiro!

*Demora da EMA (European Medicines Agency) para aprovar a 1ª vacina: EMA demorou mais tempo para aprovar a 1a vacina (em torno de 1 mês após o Reino Unido).

*Autoridades alemães e EMA criticam vacina AstraZeneca/Oxford:

1º: Poucos dados para maiores de 65 anos: Autoridades alemãs fizeram observações na mídia dizendo que a vacina AZ/Oxford não tinha sido intensamente testada em maiores de 65 anos. Resultado: muitos alemães estão relutantes para receber a vacina da AZ/Oxford, se recusando, ou até cancelando seus agendamentos. Pois ficaram com mensagens subliminares de que a vacina não é segura, principalmente para tal idade (acho que nós, brasileiros, podemos entender bem que tudo que sai da boca seja do presidente como de outras autoridades sobre esse assunto pesa…).

2º: Suspensão do uso da Oxford em relação aos eventos trombóticos pós uso da vacina: por razões que acredito estarem ligadas a um preciosismo MAIS excesso de zelo MAIS uma pitada de politicagem (pois a Oxford há tempos não vem priorizando, entregando, assim como na maior parte dos países, o que havia prometido à Europa) houve suspensão do seu uso por alguns dias pelo EMA, suspensão já retirada. Hoje há guias diferentes para uso em alguns países da Europa. Exemplo: França limitou uso para acima de 55, enquanto Espanha abaixo de 55 anos, e agora Alemanha abaixo de 60 anos. Confuso não?!

3º: Nova suspensão do uso da vacina para menores de 60 anos: hoje, dia 30 de março, a Alemanha novamente suspende o uso da vacina da Oxford devido a eventos relatados, apesar de muito, muito raros, de trombose venosa cerebral. Há matérias que indicam que não mais será aplicada na Bavária e em Berlim, outras que dizem que poderá ser em futuro próximo, após definição de guias, dependendo do caso e, até, dependendo se o paciente assim se responsabilizar.

Fico aqui imaginando a chuva de informação e ‘efeito sugestão’ de reportar qualquer evento nessa linha, havendo ou não uma análise de potencial relação.

Mas, que seja, pensemos que é excesso de zelo mesmo. Que os alemães são muito mais rigorosos na análise de eventos. O que não entendo é como um país como o Reino Unido vacinou mais de 15 milhões com tal vacina e não encontrou em seus relatórios nada estatisticamente relevante e, mais, é sabido que quem tem quadro de covid severo tem chance três vezes maior de desenvolver tromboembolismo venoso em torno de um mês depois da recuperação. Fora, vamos lá, a relação risco versus benefício.

Aí a gente se questiona:

“Tomo vacina e arrisco ter quem sabe um evento super, super raro” OU “Não tomo vacina e arrisco pegar COVID que também pode culminar com …. efeitos trombóticos?”

Se vacinar o bicho pega, se não vacinar o bicho come? Complexo mesmo.

**Processo burocrático: imaginem que idosos precisam seguir todo um processo burocrático de registro em sites, que variam, por estado, podendo até pedir envio de documentos em pdf, recebimento de e-mail para cada um, confirmar horário e agendamento etc. Só para ilustrar: os pais da minha professora eram para ter se vacinado dia 17 de janeiro. Eles queriam registrar-se juntos, mesmo e-mail, não foi aceito! Tanto é enrolado o processo, principalmente para idosos, que demorou quase 1 mês entre idas e vindas para esclarecerem e de fato se vacinarem. O que não falta são humoristas fazendo piadas do processo aqui… infelizmente.

**Não aparecimento para vacinar-se: E para ajudar, acreditem, pasmem, muitos agendaram e NÃO apareceram para vacinar-se. Fora os que se recusaram a receber a vacina da Oxford. O que é perfeitamente entendível, devido aos imbróglios e declarações das autoridades. O que, obviamente, resultou em desperdício de vacina, insumos, tempo. 

**Mais vacinação com a da Pfizer, mais tempo de vacinação: como muitos só querem a vacina da Pfizer, e ela pode desencadear reações alérgicas, mais tempo na espera, no período de observação pós vacina. Uma vez que é necessário aguardar 15 minutos para verificar se cada vacinado sofrerá alguma reação. 

**Centralização da vacinação: não temos tantos postos de vacinação como no Brasil, tudo só funciona com agendamento e havia uma reclamação de não poder ser no “Hausartz” (médico de família) o que facilitaria a vacinação. Pois traria também mais confiança e os médicos sabem quem deve ser priorizado (o que não mais demandaria soluções centralizadas dos grupos prioritários). Esse processo finalmente começou a acontecer e os médicos de família já podem agendar e receber os pacientes para vacinação. 

Finalmente, sei lá, me parece que os alemães querem realmente ganhar o Oscar da burocracia… e no meio da pandemia. Fora que, “literalmente” querem ser mais reais que o rei da Inglaterra 👑😂

Fico aqui no aguardo das cenas do próximo capítulo da novela alemã.

E, por fim, eu termino essas mal traçadas linhas deixando aqui meu apelo:

Exmo Ministro Queiroga, Exmo Presidente Bolsonaro, Exmo Governador Dória, Exmo Prefeito Covas… por favor, lhes rogo encarecidamente guardar minhas vacinas de direito. Sou brasileira e não desisto nunca. Quero me vacinar!

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