“Ame, não julgue, o próximo como a ti mesmo…”

Quanto mais tenho refletido sobre esse ensinamento e sobre os supostos cristãos, o que me parece é que a grande maioria julga o próximo, na verdade, como a ti mesmo. Digo, julga as atitudes do próximo  com suas próprias condições, conceitos e experiências.

Assim, deixam de lado a empatia, compaixão, compreensão de que cada um experimentou essa vida de maneira distinta, teve estruturas familiares, financeiras, psicológicas, autoestima, de enfermidades, de inteligência emocional, e até nutricionais distintas. E, para os espíritas, há que se considerar também as vidas passadas. 

E, vejam, já me peguei nessa algumas vezes e, por vezes me pego… sim, mea culpa também… por isso, acredito, comecei a prestar atenção nisso. 

Tá, por vezes, até acredito que haja alguma legítima tentativa de procurar dar conselhos de acordo com a própria vivência.

Mas a partir do momento que usam dessa própria vivência para julgar, de fato, a atitude de um próximo, julgando que o mesmo foi fraco, covarde, mimizento, preguiçoso, etecetera em não conseguir enfrentar uma adversidade com uma postura, eloquência, coragem, atitude “mais adequada” aos olhos desse locutor, me digam… isso é cristão? Independente de ser cristão, não seria isso um tipo de preconceito? E, finalmente, quem seria você para definir a melhor atitude? Deus? 

Não seria mais justo, nobre, humano, empático procurar acolher as diferenças e não achar que o problema é a reação ao problema e não o próprio problema? 

Não seria mais cristão, ou humano mesmo, procurar trabalhar em sociedade para diminuir tais problemas, sejam problemas educacionais, bullying, preconceito, preterir ou diminuir o outro por uma característica etc? 

“Ah mas eu sofri isso, agi assim e tirei de letra”. Jura, você quer um troféu por isso? Uma salva de palmas… Parabéns pra você, então 🙄. Vai direto para o céu! 

Lembro-me de uma época no mundo corporativo que a grande maioria dos meus colegas tomavam ansiolítico, antidepressivos e eu não… nossa, mereço um troféu por isso? “Ah como eu era F&d@ e os outros que eram fracos.”

Não, longe disso, por algum motivo, que desconheço, fora do meu controle, meu equilíbrio psicológico, inteligência emocional (?!), neurotransmissores, estrutura cerebral etecetera são diferentes. Para mim stress pegava na minha cervical, ATM e cólon… 

Eu, por ex, sofri assédio moral onde trabalhava e por razões que a própria razão desconhece, mas também por condições financeiras, psicológicas e familiares, resolvi enfrentar pro tudo ou nada … e acabou dando muito certo, não que meus “triggering points” acima não tenham sofrido… e aí, mereço um troféu por isso? Quem não faz, enfrenta de peito aberto, e não denuncia é fraco? Covarde? 

Fica essa reflexão… seja gentil com o próximo e como cada um enfrenta um problema. 

Afinal de contas, o tempo passa batido, mas pode também passar batendo e deixando muitos hematomas e feridas, as quais não enxergamos a olho nu.

O próximo pode parecer ser “fraco” aos seus olhos, mas pode ser que ele esteja enfrentando o problema no nível máximo que ele consegue. E, entenda, que raios que vale esse seu julgamento? Quem é você na fila do pão do julgamento? Não seria melhor estar na fila da divisão do pão?

Se você, de fato, é cristão … tá lá na Bíblia: “Portanto, deixemos de julgar uns aos outros. Em vez disso, façamos o propósito de não pôr pedra de tropeço ou obstáculo no caminho do irmão”. Romanos 14:13

E finalmente, existe um pensamento atribuído a Madre Tereza de Calcutá que reza: “Quem julga as pessoas, não tem tempo para amá-las”.

E assim tudo se conecta… amar ao próprio como a ti mesmos. Já julga-las? Além de não lhe competir, não condiz com a maior máxima cristã ou de quem diz praticar a compaixão. 

Quer amar? Ame, mas ame mesmo o próximo, não o julgue, como a ti mesmo. E não deixe para amanhã, pois, parafraseando Renato Russo, o amanhã na verdade não há.

Ou, simplesmente assuma: “que amar o quê?! Eu posso. Eu sou melhor. Julgo mesmo. Eu sou Deus.” 

Não serei eu que irei te “julgar”. 

Fica só a dica: Lúcifer caiu dos céus pela soberba, em se julgar melhor que Deus. 

In memoriam: da minha mãe, falecida em 30 de junho de 2021, bem como toda sua família, a qual procurou me passar ensinamentos do cristianismo, do espiritismo e da caridade. 

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