A quem esse empoderamento está servindo

Quero dizer a todos que tem criticado meu posicionamento sobre Anitta, dizendo que sou recalcada, invejosa e que não respeito a cultura dos bailes funk da favela: podem criticar à vontade, mas a verdade é que essa cultura leva às consequências mais nefastas justamente para as meninas mais vulneráveis do país, que muitos dizem defender.

O índice de gravidez de adolescentes na Brasilândia, periferia de São Paulo, é 15 vezes maior do que em Pinheiros, bairro nobre da capital. Pesquisas confirmam que 10% das adolescentes engravidaram em bailes funk e não sabem ao menos identificar o pai de seus filhos, visto que elas tem relação com múltiplos parceiros.

No Brasil, um em cada sete bebês é filho de mãe adolescente. A grande maioria delas terá que criar o filho sozinha, pois apenas 20% continuam o relacionamento com o pai de seus filhos. Elas acabam abandonando a escola, seus sonhos e a possibilidade de uma vida melhor. E assim se perpetua o ciclo da pobreza, com meninas sem estudo, sem perspectiva e crianças crescendo num ambiente desestabilizado, com grande propensão a entrar no mundo do crime.

Em um lar onde as crianças são bem cuidadas, com pais presentes lhes educando e ensinando bons valores, a chance de uma gravidez na adolescência é pequena (embora não inexistente). Mas são as meninas de famílias desestruturadas (que acabam se criando na rua) as mais vulneráveis e propensas a se inspirar e imitar suas artistas preferidas.

Portanto, acredito que além de fazer sucesso e ganhar rios de dinheiro, musas do pop atual fariam um grande bem ao país se preocupando também em exercer uma boa influência a seus fãs, principalmente às meninas adolescentes que estão ainda com a cabeça em formação.

Enquanto artistas e influenciadores continuam estimulando e aplaudindo essa cultura da hipersexualização, chamando-a frequentemente de empoderamento feminino, é justamente as camadas mais vulneráveis da população brasileira, principalmente as mulheres, que eles estão machucando mais.

Até quando?

Tatiana Poroger

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