A população está cuspindo todos os sapos que engoliu ao longo 513 anos de história. Essa é a maneira mais simples de explicar o que está ocorrendo no Brasil. A digestão de sapos é parte do nosso DNA cultural, salvo raras exceções que surgem muito esporadicamente e que apenas confirmam a característica passiva do brasileiro diante dos abusos cometidos pela casta que governa o país. De forma inesperada, o protesto contra o aumento de tarifa precipitou essa indigestão generalizada e tudo de ruim que nos cerca veio à tona sob forma de gigantescas manifestações. Aparentemente, o brasileiro se cansou de pagar imposto ´norueguês´ e ter a contrapartida em serviço ´senegalês´.
O momento atual é de desabafo. Afinal, são muitos sapos sendo expelidos ao mesmo tempo e seria impossível imaginar que houvesse um conjunto estruturado de revindicações. A sociedade observa, atônita, as demonstrações do monstro que hibernou por tanto tempo. O risco é que as manifestações, cujo princípio é pacífico, sejam obscurecidas pela participação dos arruaceiros de plantão, sempre disponíveis para depredar o patrimônio público, causar baderna e confrontar a polícia, que sob pressão também pode se equivocar nos excessos de repressão, como já aconteceu nas últimas semanas. Esse cenário de instabilidade com violência seria péssimo para todos. Para que seja evitado, é preciso transformar a reclamação em medidas concretas. Como em qualquer situação de crise, quando incêndios surgem de todos os lados, é indispensável eleger prioridades. Em outras palavras: foco.
Seria um bom começo. É óbvio que uma lista com as mazelas brasileiras é centenária, mas um movimento popular vitorioso em causas relevantes tem condições de iniciar um processo efetivo de mudança nas práticas nefastas da nossa política ´tupiniquim´. Para isso, não adianta fazer uma passeata contra a ´violência´, ou contra a ´corrupção´. Seria bonito, mas muito genérico e inócuo. É preciso exigir algo concreto. E a insatisfação mais latente da população hoje diz respeito aos dois assuntos acima, então o mais lógico seria escolher um seleto grupo de medidas que atacassem esses males, com probabilidade de execução rápida.
Os políticos estão atordoados com a voz das ruas. Confusos, não sabem lidar com um movimento sem lideranças. Fossem um pouco mais conectados aos anseios de quem os elegeu, perceberiam que nem é preciso dialogar com quem quer que seja. Deles, precisamos de menos conversa fiada e mais ação. Não basta ´ouvir´, é preciso agir. O Brasil está cansado de discursos carismáticos, anunciando uma terra prometida que jamais se materializa. Posicionem-se!!!!
Quanto a todos nós, insatisfeitos, cabe a missão de transformar pelo menos alguns sapos em príncipes. Para isso, precisamos superar a fase do desabafo, priorizar algumas propostas críticas e manter a chama acesa, com resiliência e sem violência. Estamos diante de uma oportunidade histórica e não podemos desperdiçá-la!