Errata: a provável narrativa mentirosa do ‘Mais Médicos’

Há uma semana, escrevi sobre o tema do Mais Médicos (artigo anterior a esse), onde emiti um juízo de valor embasado em premissas que se mostraram completamente equivocadas. Esse texto é praticamente uma errata.

Após às corretas exigências de Bolsonaro, Cuba anunciou a retirada imediata de 8.300 médicos do programa, e o senso comum dizia que o governo brasileiro enfrentaria um grande problema para repor esses profissionais, pois segundo a versão oficial, não havia interesse suficiente dos médicos brasileiros em assumir posições nos rincões mais pobres do Brasil e essa seria a principal razão para o acordo com a ditadura caribenha, costumaz exportadora desse tipo de mão de obra para países subdesenvolvidos.

Gradualmente, a realidade desmentiu vários fatos disseminados pela imprensa como verdades absolutas. Primeiro, a crença de que os cubanos estavam alocados somente em cidades pequenas ou lugarejos distantes. Apesar da ausência de estatísticas confiáveis, foram noticiados inúmeros casos em grandes centros urbanos e cidades bem longe de serem consideradas inóspitas. Centenas de prefeituras espalhadas pelo país se aproveitaram do fato de que o programa seria subsidiado pelo governo federal e dispensaram seus médicos. Na prática, nunca houve carência de profissionais nesses locais.

Também descobrimos através de vídeos, mensagens e áudios à época do lançamento, que o programa havia sido concebido por Cuba e apresentado ao governo brasileiro ainda no período Lula. Já estava pronto para ser implementado a toque de caixa em Julho de 2013 de maneira a evitar a aprovação do Congresso, fechado com uma entidade não governamental vinculada à Cuba (OPAS, Organização Panamericana de Saúde). Há sinais claros de que a primeira preocupação do governo petista era transferir receita à ditadura Castro, e de quebra, resolver o problema de disponibilidade de médicos. Os cubanos que substituíram brasileiros nas grandes cidades são a prova disso. Fosse um programa preocupado com a eficiência, essa seria uma prática proibida. A ‘experiência’ custou R$ 7 bilhões aos cofres públicos.

E para dirimir qualquer dúvida sobre as premissas mentirosas disseminadas na versão oficial, somos surpreendidos pela notícia de que em apenas dois dias após a abertura do processo para a substituição dos cubanos, houve mais de 19.000 inscritos e quase 90% das 8.300 vagas já estavam preenchidas. Em outras palavras, a dificuldade para contratação de médicos brasileiros não existe.

Difícil crer que em cinco anos o cenário tenha se modificado tão radicalmente. O salário, de R$ 11 mil, é bem razoável para profissionais em início de carreira. O grande interesse demonstrado nesses poucos dias é prova disso. Muito embora só tenhamos a certeza do sucesso dessa iniciativa quando esses profissionais estiverem atuando, os primeiros indícios são bastante animadores.

Ainda existe o questionamento sobre a disponibilidade de médicos para locais pouco atrativos, e de fato pode ocorrer que em uma primeira leva tenhamos centenas de cidades desassistidas. Qualquer que seja essa quantidade, será resolvível e um problema muitas vezes menor do que o inicialmente divulgado.

O que realmente surpreende é como a desinformação sobre o assunto reinou soberana por tanto tempo, sem ter sido questionada com ênfase pela imprensa ou oposição. Mesmo hoje, números críveis são escassos. É assustador constatar que narrativas falaciosas bem planejadas são capazes de iludir uma nação. Valeu para o ‘Mais Médicos’ da era petista, pode valer para outro assunto. Para vacinar-se contra esse mal, somente adotando o ceticismo como mantra.

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