“ A verdade não importa, o que importa são as versões “. Ouvi essa frase de um antigo chefe, há aproximadamente 15 anos, quando ainda engatinhava na vida corporativa. Eu e um amigo, então jovens inexperientes e idealistas, nos horrorizamos com essa afirmação. Na verdade, ainda éramos muito ‘verdes’ para entendê-la. Essa foi uma daquelas situacões que ficam marcadas para a vida toda. Uma frase singela em uma reunião qualquer, nem me recordo mais qual era o contexto, mas que ficou armazenada em nossas mentes, e ao longo de todo esse período foi correlacionada com distintas situações da vida. E hoje, uma década e meia depois e alguma quilometragem na bagagem, a frase não me causa mais revolta, pelo contrário, é uma demonstração de sabedoria em relação à complexidade das relações humanas do mundo em que vivemos.
Os fatos são incontestáveis, mas a interpretação deles pode ser extremamente variada, o que amplifica a confusão entre verdade e versões. Exemplo típico são as crises conjugais ou societárias, onde muitas vezes não há culpados pelo desgaste da relação, que pode se tornar insuportável somente pelas opiniões diametralmente opostas sobre as circunstâncias. Cada protagonista adota ferrenhamente a sua versão como verdade, para a felicidade dos advogados…
No mundo corporativo, recordo-me de uma situação vivida em Londres, onde o gestor de uma determinada área apresentaria a situação dela na Europa para a CEO do Reino Unido. Na minha opinião, tal área era carente de profissionais competentes nos países e seus processos eram em geral sofríveis. Enfim, algo próximo a um fiasco. Surpreendentemente, correu tudo bem na reunião. Concluí: ‘O que não faz uma boa apresentação…’. Será que a minha interpretação era muito crítica? Pode até ser. Tomei como verdade, algo que era a minha versão dos fatos…
Vivenciei várias situações onde as opiniões sobre um determinado evento eram amplamente contraditórias, dependendo do interlocutor que as emitiam. Quando se adiciona uma pitada de subjetividade, mesmo que mínima, a um fato qualquer, a verdade se transforma em versão. Não há nada de errado em abraçá-la, desde que se tenha consciência que seu vizinho pode ter outra bem distinta da sua…
Lideranças carismáticas são capazes de explorar as versões tão bem que proporcionam a sua metamorfose em ‘causa’. Em muitos momentos da história, multidões julgaram que a ‘causa’, por mais irracional que fosse, era uma ‘verdade’.
Diferenciar verdades e versões é tão complicado quanto discernir as nuances entre conteúdo e forma. Quantas vezes não nos deparamos com sujeitos brilhantes, mas por terem um déficit razoável em sua capacidade de comunicação, não conseguem se destacar? Da mesma maneira, quantas vezes não presenciamos pessoas perderem uma discussão pela forma com que se expõem, apesar de terem razão?
Verdade e conteúdo andam juntas, tal qual versões e forma. A comunicação é a ponte que os conectam, por isso ela é tão essencial – talvez a mais importante virtude desse princípio de terceiro milênio. Luis Ignácio esta aí como prova viva dessa tese…