Não faz muito tempo, escrevi que 2015 poderia ser reconhecido como o pior da história do Brasil, pela completa ausência de boas notícias e a conjunção de tragédias, escândalos e um ‘miserê’ na economia que surpreendeu até os mais pessimistas. Poucos meses se passaram e o ano segue nos brindando com muita lama, deterioração incessante no cenário político-econômico e revelações tragicômicas nos múltiplos esquemas de corrupção que proliferam país afora.
Imaginem vocês se todas as conversas em Brasília fossem gravadas. O Brasil implodiria, submergiria no oceano, seríamos a Atlântida contemporânea!
Guiado por Murphy, aquele da lei maldita, o ano ainda nos ofereceu a lama de Mariana, uma epidemia de microcefalia no Nordeste causada por um vírus de nome sugestivo (Zika – carregado pelo mosquito da dengue), uma empreiteira (Andrade Gutierrez) assumindo que ‘subornou geral’ para ganhar as obras da Copa, e um presidente da Câmara mais enlameado que os cardumes do Rio Doce. Como se não bastasse, o Corinthians foi campeão brasileiro de maneira incontestável, sem deixar chance para reclamação. Não citarei as trapalhadas e os discursos desconexos de nossa chefe de estado, pois esses já fazem parte do anedotário popular e divertem nosso cotidiano.
Um ano que escancarou nossas mazelas. Para esquecer? Não. Para ser lembrado e relembrado. Que figure nos livros de história como o momento da guinada de um país que anseia pelo fortalecimento de suas instituições, para que elas prevaleçam sobre governo e pessoas e sustentem o estado democrático de direito. No meio de tanta desgraça é inegável a constatação de que o país e evoluiu. A velocidade da mudança é inferior às nossas expectativas, mas pouco a pouco o vigor institucional vai debilitando a picaretagem. E quanto ao ‘miserê’ na economia? Nesse caso, não podíamos ser ingênuos a ponto de acreditar que as escolhas erradas da maioria seriam impunes. Esperemos que o sofrimento não seja em vão e que mais uma década perdida nos ensine a votar…
Apesar de todos os pesares, fica a esperança de que para todo esquema de bandalheira minuciosamente planejado para enriquecer uns poucos em detrimento de um país, haverá a partir de agora a ameaça da punição. E que a voz firme da opinião pública siga vigilante e capaz de produzir resultados surpreendentes, como o 59×13 do Senado. Que os minúsculos feixes de luz desse ano sombrio ganhem proporções estelares no futuro. ‘Vade retro, 2015! Já deu para você.’