Vou torcer muito pelo Brasil na Copa, a despeito de todos os desmandos que proliferaram na preparação para recebê-la. Precisamos separar uma competição esportiva, arraigada que está em nossa cultura, dos problemas que enfrentamos, desde sempre. Está muito em voga o discurso de que se a seleção brasileira triunfar, ganha o governo. Discordo. Na Copa das Confederações, as manifestações e vaias não impediram a torcida de evocar o hino nacional a plenos pulmões, empurrando o time. Ali, separava-se o joio do trigo.
Também remo contra a maré quando dizem que o fiasco na organização seria determinante para a derrocada do governo nas eleições e o contrário seu catalisador. A Copa termina em um mês, mas os nossos problemas ficam. É com eles, ou sua ausência, que a população votará em Outubro. Por que um sujeito determinaria seu voto influenciado por uma competição esportiva ocorrida três meses antes? É possível que nos tempos do regime militar, o triunfo do tricampeonato tenha sido usado politicamente, mas vivíamos em uma ditadura, o acesso à informação era restrito, a censura reinava soberana e a população era muito menos educada do que é hoje. Não há termos de comparação. Em 2002, o pentacampeonato não evitou uma mudança de governo. A euforia por um possível hexacampeonato duraria uma semana, não mais que isso.
Precisamos de um basta nessa conversa fiada camuflada de protesto, o já famoso ´não vai ter Copa´. Teremos Copa, e já sabíamos disso há muito tempo. De que adianta reclamar às vésperas do evento, que dura não mais que trinta dias? Oxalá esse sentimento cívico persista após o mês de Julho, terminado o torneio, quando nos depararmos com os problemas que ficarão conosco, ainda à espera de uma solução ou de uma luz no fim do túnel que os encaminhe. A hora de protestar com veemência chegará em breve, diante de uma urna.
E se chegamos até aqui, com os percalços de sempre, temos que fazer o melhor possível. É masoquista quem deseja ver o Brasil em situação vexatória por conta de má gestão do evento. Ninguém ganha com o lema ´quanto pior, melhor´. A Copa não pertence a um partido político. A maioria esmagadora das milhares de pessoas que estão trabalhando nas diversas frentes relacionadas a ela não são filiadas a nenhum deles, são gente comum, como eu e você, fazendo o seu trabalho. O êxito de uma Copa sem sobressaltos, se ocorrer, deverá ser creditado a eles e não poderá ser atribuído aos oportunistas de plantão, sempre à espreita para panfletar em causa própria.
E que o Brasil jogue bola, e bem. O futebol, além de ser parte indissociável da nossa cultura, é um dos poucos motivos de orgulho nacional, por estarmos muito bem posicionados no panteão das grandes potências. No futebol, o brasileiro é competitivo, busca eficiência, organização, talento, criatividade. O dia que esse nível de exigência transbordar para outras áreas, o país dará um salto inquestionável de qualidade. Ninguém tem o direito de sequestrar o futebol dos brasileiros. A Copa está aí, vamos fazer o melhor dela, e ganhá-la!