Notas dissonantes

Quatro noticias desagradáveis preencheram as manchetes do dia e são indícios de que o governo está desajustado a alguns compromissos assumidos com seus eleitores.

O Banco Central propõe consulta pública para uma regulamentação que afrouxará o monitoramento sobre movimentação financeira de parentes de pessoas politicamente expostas. Também pretende subir o limite mínimo para o qual uma transação é verificada, de R$ 10 para R$ 30 mil reais. Por se tratar de consulta pública, ainda é uma carta de intenções, mas não consigo enxergar benefício algum nessa proposta. Nem deveria ser pautada, pois a flexibilização dos controles facilita a corrupção e vai na contramão do discurso moralizador do presidente.

Hamilton Mourão, no exercício da presidência, assinou um decreto que facilita a conversão de documentos governamentais como sigilosos, agora uma prerrogativa que pode ser aprovada por funcionários do segundo escalão. Trata-se de um atentado à transparência, princípio que norteou a campanha vencedora. Segundo Mourão, ajudará a desburocratização, pois o inverso também vale, já que facilitaria a retirada do sigilo. Eu não gostei.

Mourão, em declaração recente, descartou a privatização dos Correios, uma empresa estatal monopolista que consegue ser deficitária. Independente de qual é o momento adequado para uma ação desse porte, o vice presidente deveria abster-se de comentar assuntos sobre os quais ele não tem ingerência.

Na mesma linha que coloca em dúvida o caráter liberal dessa gestão, noticia-se a sua intenção de manter viva a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), elefante branco que consome quase R$ 700 milhões anuais, concebida na gestão do presidiário para ser a BBC brasileira e que ostenta traço de audiência, ninguém assiste. Para mostrar que tem compromisso com a eficiência, o governo pretende reduzir a folha de pagamento em 30%, passando de 2500 para 1700 funcionários. À prineira vista, pode parecer um tema menor, mas é uma questão de princípios. Essa empresa, que prima por sua inutilidade, teve sua existência criticada durante a campanha.

A partir de Fevereiro, acabará o período de aquecimento. Com o Legislativo sob nova direção, o caráter reformador do novo governo será colocado à prova. Os sinais emitidos pelas notícias acima são desanimadores. É verdade que todas podem ser revertidas, mas seria melhor que elas não tivessem existido. Estou me esforçando para manter as expectativas otimistas, mas admito que ao ser exposto a fatos como esse, sou abduzido pela desconfiança.

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