Brasil e aversão a risco: um casamento feliz

A excessiva burocracia no Brasil foi um meio que o Estado encontrou para proteger-se de seus cidadãos, sempre suspeitos. Toda regra burocrática é justificável como medida para evitar fraudes ou maracutaias. Ao tentar destravar o sistema, um desavisado empacaria em uma lei de mil novecentos e bolinha, feita para dar mais segurança a alguma transação.

Empilhadas, essas regras burocráticas, que nos fazem provar que estamos vivos, tornam o Brasil um dos ambientes mais inóspitos para se fazer negócio no planeta. Nos acostumamos a isso e nem percebemos o quanto somos lesados pela irritante e improdutiva burocracia que nos cerca. Aos que defendem um ambiente mais protegido, desafio que se espelhem em outras sociedades inclinadas ao risco e desburocratizadas, bem mais desenvolvidas que nosso mundão tropical.

O ambiente já não ajuda e a mentalidade brasileira média também não é lá muito fã da tomada de risco, tanto que as carreiras mais desejadas no país ainda estão vinculadas ao serviço público, com sua aclamada estabilidade e previdência privilegiadas, sem dúvida uma opção que minimiza incertezas.

Outro exemplo vem da indústria de crédito, onde as noções de risco e recompensa são aplicadas a todo momento. O que dizer das maiores taxas de juros do planeta? Típicas de uma cultura de aversão a risco. Taxas dessa natureza garantem retornos polpudos mesmo em empréstimos concedidos a uma população inclinada ao calote. Concedê-los com spreads de 30-40% ao ano (ou muito mais, em alguns casos) é bem mais fácil que fazê-lo com 10%. No último caso, toma-se risco, no primeiro, protege-se dele.

A indústria do litígio torna empresas e empreendedores extremamente cautelosos. Por muito pouco, um passivo trabalhista pode criar imensas dores de cabeça e até levá-los à bancarrota.

Se por um lado, podemos dizer que o brasileiro é um povo criativo, obrigado historicamente a enfrentar múltiplas crises, também é possível afirmar que essa criatividade convive com uma desagradável aversão a risco. Infelizmente, é uma característica impregnada em nosso tecido cultural. Uma pena.

O que seria de um Steve Jobs ou Bill Gates se tivessem nascido no Brasil? Será que conseguiriam construir empresas capazes de se transformar em gigantes mundiais, criando produtos revolucionários para a humanidade? Deixo a resposta em aberto para sua reflexão…

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