Semana passada mais um factóide infestou os noticiários Brasil afora: em uma questão de filosofia na prova de um colégio do ensino médio em Brasília, os estudantes foram solicitados a completar a letra de uma música de Walesca Popozuda, definida como pensadora contemporânea de ´ Terra Brasilis´. Nessas breves três linhas, temos um extenso material para dissertação…
Como é de praxe por essas bandas, a superficialidade dominou a maior parte das discussões, concentradas no fato da cantora ser classificada como pensadora do Brasil contemporâneo. Waleska, cujo maior atributo até semana passada estava presente em seu sobrenome artístico, não tem culpa nenhuma nessa história e foi brindada com sua marca na mídia por alguns dias seguidos, um presente para quem vive disso. Li diversas opiniões que esculhambavam com o status de pensadora ao qual a cantora havia sido promovida e algumas que defendiam a livre escolha de quem poderia ser classificado como filósofo de relevância. Se um professor qualquer considerou que a ‘ Popozuda’ exerce influência sobre a juventude a ponto de ser considerada uma referência no pensamento contemporâneo, ele pode estar sendo sincero ou irônico, e nesse caso, o nobre docente reiterou que irônico ele não foi, seu desejo era promover o debate. Talvez tenha sido apenas uma fanfarronice, um desejo incontrolável de fazer espuma e aparecer. Mas isso não tem nenhuma importância.
O segundo tema que sempre me incomodou e coincidentemente está presente de forma indireta nessa história, é o fato de filosofia ser obrigatório no ensino médio. Certamente um houve um lobby muito forte para que essa invencionice inútil fosse encaixada na grade curricular. As centenas de horas dedicadas ao seu estudo são subtraídas de matérias bem mais críticas: língua portuguesa e matemática, só para ficar nas duas mais básicas. Nada contra o tema, mas trata-se de cadeira universitária. Seria igualmente absurdo exigir que o ensino médio abordasse noções de engenharia ou direito. Mas algum educador criativo, certamente respaldado por outros tomadores de decisão, achou que em um país onde nem o ‘ feijão com arroz’ se faz com decência, os alunos precisam estudar filosofia antes de ingressar na faculdade. Por aí notamos quais são os princípios que a sociedade valoriza.
Formamos pseudo-pensadores, que praticamente não leem, são incapazes de interpretar um texto difícil, encontram dificuldade em fazer uma regra de três, mas sabem letras de música como ninguém. O que esperar desse contingente de filósofos formados pelo nosso ensino médio, após ingressarem na faculdade? A resposta está nas posições que o Brasil ocupa nos rankings de matemática, ciências e interpretação de texto. Beijinho no ombro para a nossa educação e para todos nós, habitantes da República Federativa de Bovinolândia.