Porque sou contra o passaporte vacinal

Um assunto polêmico, mas que traz consigo reflexões importantes sobre a interferência do Estado nas liberdades individuais

Individualmente, não sou impactado pelo tal passaporte sanitário, uma vez que já tenho as duas doses de vacina no braço, mas coletivamente entendo a medida como autoritária e seguindo meus princípios liberais, me oponho à sua implementação.

Fossem as vacinas atuais um porto seguro contra a contaminação e ao contágio das diversas cepas do corona vírus, poderia se argumentar que a obrigatoriedade fomentava o bem coletivo, que prevaleceria sobre as liberdades individuais. Afinal, somos obrigados a tomar a vacina contra a febre amarela para entrar em alguns países em determinadas circunstâncias e não reclamamos, não é mesmo?

Mas não é bem assim. Sabemos que embora a vacinação  nesse caso seja completamente recomendável, pois dimimui substancialmente as chances do indivíduo desenvolver um caso grave ou mesmo de vir a falecer por covid, ela não impede que uma pessoa contraia a doença e a transmita a terceiros.

Ou seja, un restaurante que só tenha deixado entrar gente plenamente vacinada poderá ser uma fonte de disseminação do vírus se um de seus frequentadores estiver “positivado”. Nesse caso, a obrigação do passaporte terá sido inútil.

Ha também a constatação de que pessoas que já tiveram a doença desenvolvem anticorpos e em muitos casos podem estar mais protegidas que as vacinadas. Essa realidade está sendo ignorada na implantação dessa política.

Não menos importante considerar também as situações diferentes para grupos de risco distintos. Idosos com mais de 70 anos, mesmo vacinados, tem mais chance de contrair a doença e serem hospitalizados do que adultos entre 40-50 anos não vacinados (obtive essa informação de um estudo Israelense a respeito do contágio da variante delta). Em outras palavras, um idoso com passaporte vacinal é fonte de maior risco do que um adulto com menos de 50 anos não vacinado. O que dizer a respeito disso?

Três exemplos banais, mas reais, que servem para provar que o tal “passaporte” não tem embasamento  estatístico algum, trata-se apenas de uma coerção, intimidando as pessoas a se vacinarem.

Na prática, se as autoridades estivessem mesmo preocupadas em conter a disseminação do vírus, exigiriam um teste de anticorpos ou o de PCR negativo. Nesse caso, teríamos muito mais garantias de que um local estaria realmente imune.

Muito embora eu seja favorável à vacinação (qualquer análise de risco e recompensa endossa a minha conclusão), não concordo com a obrigatoriedade e tampouco com a transformação dos não vacinados em “párias” (na prática, essa é a intenção real da proposição, uma espécie de constrangimento).

Nessa situação especificamente, como eu já disse, estou do lado que não se constrangerá. Mas, e se a moda pega e no futuro outras arbitrariedades similares fossem estipuladas pelo Estado, sem que o cidadão tenha o direito ao livre arbítrio?

Volto a destacar o fato de que as vacinas atuais não previnem a contaminação, tampouco a transmissão, embora sejam úteis e válidas no combate à maldita pandemia, certamente essenciais.

Me parece que essa é mais uma situação na qual estamos diante de um efeito “manada”. De repente, assume-se como correta uma decisão sem ao menos verificar seus detalhes técnicos ou  sua eficácia. O vírus emburreceu a humanidade.

Eu gostaria que 100% da população adulta se vacinasse espontâneamente, mas entendo que não se pode obter esse tipo de adesão na base do “porrete”, fere os princípios da liberdade individual. Contesto e lamento a atuação dos “antivax”, que atrapalham a efetividade do combate à pandemia, muitas  vezes disseminando “fake news” ou meias verdades, mas como meu mundo não é binário, o fato de eu não concordar com esse “segmento” (felizmente minoritário) não quer dizer que eu tenha que me alinhar automaticamente ao seu oposto….

Sair da versão mobile