Vídeos de inteligência artificial pipocam na minha timeline com uma frequência quase diária. Alguns são hilários, como aqueles que colocam vozes adultas em versões infantis de artistas — os do cantor Leonardo, então, estão impagáveis.
Outros exploram contrastes mais sérios: imagens de alguém décadas atrás lado a lado com sua aparência atual. Para quem já tem quilometragem rodada e conheceu esses personagens no passado, as marcas do tempo saltam à frente e se tornam protagonistas da reflexão. Afinal, o tempo não poupa ninguém — nem as celebridades, nem nós, anônimos que também nos deparamos com nossa “versão 30 anos depois” diante do espelho.
Há também os vídeos de artistas já falecidos. A IA recupera imagens antigas e as contrasta com registros mais recentes, muitas vezes mostrando um sorriso de despedida. É curioso como só então percebemos a quantidade de gente conhecida que já partiu. Em muitos casos, são atores de papéis secundários — “um filme aqui, uma novela acolá” — que nos arrancam aquela reação surpresa: “Nossa, havia esquecido que fulano já tinha morrido!”
Essa sensação inevitavelmente transborda para o nosso círculo pessoal, aguçando a percepção da passagem do tempo e das pessoas — especialmente em quem já entrou na “segunda etapa da vida”.
Mas o ponto central que me intriga não é o tempo, e sim a própria IA. Hoje ela apenas costura vídeos, mas não tardará para que, a partir de textos, áudios, fotos e gravações, seja capaz de recriar alguém que já partiu. Não só em imagem, mas em interação — conversas que podem ser bem mais intensas do que lembranças protocolares e, quem sabe, quase tão profundas quanto as de quando a pessoa estava viva. Claro, não espere reencontrar seu bisavô em versão digital — faltam registros suficientes. Mas para quem se foi recentemente, deixando rastros digitais abundantes, a possibilidade é real.
Nós, que estamos apenas iniciando o “segundo tempo da vida”, podemos até imaginar um futuro em que deixaremos versões nossas em IA como legado para filhos, netos e bisnetos. Uma herança imaterial, mas capaz de simular presença.
Louco, não?