Aquecimento Global Antropogênico – uma ameaça climática ou retórica?

A pauta das mudanças climáticas vem ganhando muita popularidade nos últimos anos, com o público sendo conduzido a crer num pretenso “consenso de 97% dos cientistas (alguns dizem que é 99%)” e que o tal aquecimento antropogênico seria algum tipo de verdade científica incontestável. A realização da COP 26 reacendeu muitos desses debates.

Mas, de forma resumida, o que representa a hipótese tão defendida pelo IPCC?

Ela se baseia na premissa de que o planeta, desde o início da Revolução Industrial, vem sofrendo um aquecimento causado por influência direta da humanidade através da emissão de gases de efeito estufa.

Além do tão falado consenso, jornais e a mídia em geral trazem constantes notícias sobre eventos climáticos “sem precedentes”, tentando demonstrar com isso que de fato caminhamos para uma realidade catastrófica, baseados sempre em “estudos de especialistas na área”. Opiniões e até fatos contrários à narrativa têm sido ignorados e antagonizados a ponto de se considerar os que ousam fazê-lo como “negacionistas”, como se isso fosse equivalente a ser terraplanista na atualidade. Artigos têm sido escritos denegrindo a imagem de tais cientistas, colocando em questionamento sua reputação e lisura na defesa de suas ideias. Há os que ainda afirmam que com uma quantidade tão grande de artigos científicos falando do assunto, torna-se praticamente impossível questioná-lo cientificamente – seja pela incapacidade de refutar tantos argumentos ou mesmo pela impossibilidade de conhecê-los todos.

Curiosamente há um certo “esquecimento” a respeito de como o método científico funciona. Uma única pessoa, ao descobrir um fragmento de informação que coloque em xeque todo um arcabouço científico, uma vez confirmada a veracidade dele por análises feitas por colegas de pesquisa (peer review), tem para si o mérito da mudança da “verdade” e do desmonte de qualquer “consenso”. Inúmeros exemplos de situações como esta podem ser citados ao longo de nossa história. A ciência vive de questionamentos e, portanto, deve abraçá-los como a um amigo querido.

E quanto ao assunto em questão? O que se afirma condiz com a realidade? Deixo isso para a opinião do leitor. Para ajudá-lo a tirar suas próprias conclusões, vou começar trazendo um pouco de história do período considerado para a análise das mudanças climáticas que começa na revolução industrial (por volta de 1850) e vai até os dias de hoje. E em próximos artigos pretendo explorar diversos aspectos do assunto, complexo e fascinante. E com eles, fica um convite para questionarmos e repensarmos.

Eventos Extremos

Sexta feira, 17 de junho de 1859. No condado de Santa Bárbara, Califórnia, à 1h da tarde, as pessoas iniciavam o trabalho da tarde quando foram surpreendidas por um vento vindo do Noroeste. Ele queimava de tão quente. Às 2 da tarde o termômetro oficial da cidade marcava a temperatura recorde de 56°C. As pessoas, apesar do calor insuportável dentro de suas casas, mantiveram suas portas e janelas fechadas. Ninguém saiu às ruas. Um pescador chegou do mar com seus braços queimados pelo evento. Animais silvestres da região, como coelhos e pássaros foram encontrados mortos pelo vento quente. Às 5 da tarde a temperatura ainda estava em 50°C, baixando para 25°C às 7 da noite e permanecendo neste patamar até o dia seguinte. “A grande perda está entre os vegetais; árvores frutíferas queimaram, peras e maçãs foram literalmente cozinhadas pelo calor”, disse um morador ao jornal da época.

Neste mesmo mês, em Sacramento, CA, a temperatura manteve-se em 38°C por mais de 10 dias consecutivos, chegando à marca de 41°C em diversos momentos. No domingo, dia 19 de junho, o termômetro de San Andreas também marcou 41°C. Diversas cidades ao longo do estado da Califórnia marcaram temperaturas semelhantes nesta mesma semana.

Algumas semanas mais tarde, no dia 2 de agosto, jornais de diversas regiões dos EUA davam conta do aparecimento de auroras boreais em latitudes onde raramente esse tipo de evento era observado. O evento se intensificou, e entre os dias 28 de agosto e 2 de setembro auroras austrais (que ocorrem na Antártida) podiam ser vistas em Queensland, nordeste da Austrália.

O evento, chamado de Carrington Flare (em homenagem ao cientista Richard Carrington que estudou o evento na época), causou disrupções intensas nas redes de telégrafos da época. Ela foi causada por uma ejeção de massa coronal solar que ocorreu apontada diretamente para a Terra. Este evento ocorreu no máximo observado no 10° ciclo solar observado pelo homem e passou a ser chamado de Evento de Carrington.

Se este evento tivesse ocorrido hoje, provavelmente teríamos tido um blackout sem precedentes em nosso sistema de energia e comunicação em escala global. Um evento muito menor ocorrido em agosto de 2003 foi responsável por derrubar o sistema elétrico de uma grande região do Canada e EUA.

Dois anos mais tarde a Califórnia foi novamente afetada por outro extremo climático – tempestades torrenciais oriundas do Pacífico causaram inundações tão intensas que levaram o estado a declarar falência ocorreram entre dezembro de 1861 e janeiro de 1862, destruindo um quarto de todas as propriedades do estado. Estima-se que uma tempestade de proporções similares nos dias de hoje causaria um prejuízo da ordem de USD 700Bi.

Já em 1895, 1905 e 1906 foi a vez da Austrália passar por ondas de calor que levaram as temperaturas a 45°C em grande parte do país por mais de uma semana consecutiva. Neste último ano São Francisco foi consumida em chamas depois de um terremoto sem precedentes.

20 anos depois, em 1926/1927, a humanidade se viu no ano conhecido como o pior ano da história dos desastres para a Cruz Vermelha Norte Americana. Este ano testemunhou uma quantidade jamais observada de tornados e enchentes, que causaram danos equivalentes a USD 1Bi (USD 16Bi em valores atuais) em prejuízos à infraestrutura.

7 anos mais tarde, em 1934, o mundo enfrentou um de seus piores anos em termos climáticos. Jornais noticiaram o derretimento das calotas polares em escala sem precedentes. Mudanças climáticas foram percebidas em todo o planeta, indo de ondas de calor e secas a invernos intensos e prolongados. Ondas de calor afetam a Europa Central e causam seca na Inglaterra; foram também percebidas na Ásia, África e Austrália, além de todo o continente americano. Invernos mais longos afetaram diversos países europeus e da América do Sul. Secas históricas afetaram países africanos e a Inglaterra. Os EUA foram assolados por uma seca e ondas de calor sem precedentes. Nos EUA essa situação se repetiu em 1936, sendo considerado o ano mais quente de toda a história do país. Por mais de uma semana a temperatura média no meio oeste americano permaneceu em 40°C.

Finalmente, chegamos aos anos 1970 com a crença de que o mundo estaria entrando em uma nova era glacial. Relatórios do NOAA informaram ao governo norte americano da possibilidade e recomendaram ações preventivas.

E como estamos hoje em dia? Para responder a essa pergunta, temos sempre que recorrer ao passado. Sempre que um evento é noticiado como recorde, deve-se seguir a pergunta: recorde se comparado a quando? Usualmente encontraremos algum momento no passado onde esse máximo já ocorreu. Como posso afirmar isso tão taxativamente? Muito simples. Observando o histórico passado mensurado pelos paleoclimatologistas, ou mesmo em documentos como os apresentados neste texto. Curiosamente a humanidade cresceu em habitantes e vem testemunhando muito desses eventos ao longo de sua história recente. Vou entrar em detalhes sobre isso mais adiante, mas basta dizer que se estivéssemos piorando, deveríamos não somente observar mais eventos como os citados acima, como deveríamos estar percebendo o impacto disso em vidas humanas e danos materiais.

Mas é o que os dados nos mostram? Vejamos nos próximos gráficos:

Quanto ao número de ondas de calor, sempre citadas como recorde nos dias de hoje e sempre seguidas de expressões como “sem precedentes”? Segundo o “Climate Science Special Report” em sua edição de 2017, a “magnitude das ondas de calor [nos EUA] atingiram um máximo nos anos 1930” e “a era de 1930 permanece como a referência em secas e eventos extremos de calor [nos EUA] na história”.

Em relação ao custo dos desastres naturais em % do PIB, como estamos se acompanharmos a era pós-revolução industrial? Veja o seu custo original comparado ao avaliarmos os mesmos eventos passados como se ocorressem com a infraestrutura que temos hoje:

Mas é impossível mencionar eventos extremos sem nos referirmos a furacões. O número deles aumentou? Segundo pode ser visto neste gráfico, não se percebe alteração significativa que possa ser apresentada como tendência:

E nem a intensidade dos mais recentes pode se comparar ao grande furacão de 1780, conhecido como Furacão de São Calisto, considerado o mais mortífero da história registrada, tendo ceifado a vida de mais de 27.000 pessoas, devastando o caribe com ventos que chegaram a 320 km/h. Curiosamente este ano é considerado por ter a mais desastrosa temporada de furacões da história, não tendo sido superado por nenhum ano desde então.

E quanto isso representa em impacto recente no PIB mundial? Estamos vendo uma piora ou uma melhora no impacto dos desastres naturais se avaliarmos tempos recentes? Pode-se ver abaixo que o custo em % do PIB está apresentando uma tendência média de queda.

A conclusão de tudo isso que foi apresentado não pode ser mais clara: se há um impacto tão significativo do aquecimento global em eventos extremos, esse impacto não está sendo demonstrado em números.

Observa-se também que o desenvolvimento da infraestrutura da humanidade está acompanhando o seu crescimento populacional trazendo consigo medidas de segurança e prevenção eficazes em reduzir o impacto destes mesmos eventos.

Com tudo isso, qual a razão de mudanças em políticas públicas relacionadas ao clima? Elas realmente são tão necessárias como está sendo dito? Para responder a essa pergunta precisamos ir um pouco mais a fundo, analisando o contexto em que tais questões são analisadas.

Este será o tema do meu próximo artigo!

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