Após breve recesso, aproveito a madrugada de uma segunda-feira para elaborar sobre um assunto que me chamou atenção ao longo da semana. Remete ao nosso DNA macunaíma. Será que nós brasileiros já nascemos com os genes da malandragem ativos? Tomo por exemplo uma situação banal em um jogo de futebol, que pode ser amplificado para outras passagens do nosso cotidiano.
Semi-final do fraquíssimo campeonato carioca, Vasco e Fluminense se enfrentam por uma vaga na decisão. Jogo truncado, tecnicamente pobre. Um jogador do Gigante da colina faz uma falta leve em um adversário, impedindo-o de avançar, com a mão sobre o seu peito. O tricolor faz uma encenação absolutamente desnecessária, coloca as mãos sobre o próprio rosto, simulando uma cotovelada que não houve e cai no chão, esperneando por uma dor que nunca existiu. O árbitro marca falta e ignora a performance do ator-jogador. Os comentaristas passam batido pelo lance, que nem chega a causar repulsa. Tentativas de enganar a arbitragem são comuns em nosso futebol. É o velho ‘ se colar, colou’, mesma prática aplicada pelos donos de lanchonetes na zona sul do Rio de Janeiro, que cobram até o dobro de turistas desavisados, por qualquer item no cardápio. É assim que uma reles porção de omelete de camarão atinge a exorbitante marca dos R$ 100! Em ambos os casos, temos graves desvio da conduta ética, socialmente aceitos em nossa cultura tolerante com pequenos delitos e orgulhosa da malandragem.
Por que consideramos normal um jogador de futebol enganar o árbitro? Vale ganhar de forma ilegal?
A malandragem faz parte do jogo. Faz? Desviar dinheiro público também?
Campeonato alemão de 2014. Um atacante é supostamente derrubado dentro da área e o árbitro marca pênalti. O jogador vai até ele e confirma que tropeçou sozinho. Por conta disso, o árbitro volta atrás na decisão. Aparentemente, não houve represália dos colegas ou da torcida com a honesta confissão. Dizer a verdade, mesmo sob o risco de ser prejudicado em seu objetivo final ( vencer o jogo), é uma prática corriqueira. Transponha essa situação para o Brasil. É impossível imaginar nossos malandros tomando esse tipo de atitude, e caso o fizessem, é facílimo imaginar a contestação que sofreriam dos colegas, da torcida e até da imprensa.
Essa desgraça nacional somente será eliminada se passarmos a praticar a tolerância zero com a malandragem. É difícil, pode levar mais que uma geração. Poderia ter começado no Domingo, com o árbitro expulsando o jogador do Fluminense por encenação, após marcar corretamente uma falta leve sobre ele…imaginem a reação da malta, era capaz do juizão apanhar em campo…