Liberté, Égalité, Fraternité… finalement!?

Não me perguntem o porquê, mas sempre tive uma ligação forte com a França. Parece que lá já vivi, antes de ter de fato vivido, essa língua já falava, antes de aprendê-la. Algo com vidas passadas? Não sei. Talvez seja só uma impressão ou muitos “déjà vu” juntos que brincam com meu cérebro. 

Sempre tive a seguinte leitura de sua sociedade: são “super fier” (orgulhosos) de sua língua, comida, cultura, e, mais ainda, de seu passado. Não há francês que eu conheça que não exalte os governos do passado. Parece aquele time de futebol paulista, sabe, um tal de São Paulo que canta com orgulho “as tuas glórias, vêm do passado”… 😁

E, “pardonnez-moi” (me perdoem), mas até os mais à direita tem um pezinho na esquerda. Uma vez falei isso em sala de aula na França e minha professora quase me trucidou. A gente perde o respeito, tira zero na prova, mas não perde a piada 🤪.

“Enfin”, mas vamos ao Papo Reto de Boteco de hoje.

Não é segredo para ninguém que nos últimos anos tem havido uma certa ‘invasão’ de imigrantes e, principalmente, uma certa tendência ao abrir as fronteiras, principalmente para os muçulmanos, ao mesmo tempo que vinham fechando os olhos para a panela de pressão com radicais islâmicos. Acho que a melhor definição seria: não queriam mexer no vespeiro.

E nesse caminho do politicamente correto, de serem justos, corretos, tratarem todos como iguais, vi inúmeros exemplos de como eles acabam sendo mais ‘lenientes’ com os imigrantes ilegais e/ou que chegam com uma mão na frente e outra atrás. Explico: talvez para fugir do rótulo de xenofóbicos, ou acreditando que o lema da Revolução Francesa: “Liberté, Égalité, Fraternité” (Liberdade, Igualdade, Fraternidade) se resumia a abraçar o mundo, não necessariamente os franceses e os contribuintes, vinham aceitando, ou melhor, não dando a devida importância a vários absurdos.

Aí você me pergunta: “Mas quais absurdos, Anna?”. Deixa eu listar alguns exemplos… Absurdos desde: bairros dominados pelos muçulmanos, os quais não aceitam em certos locais mulheres, enviam suas crianças para escolas clandestinas e não para as escolas regulares de “la République”; exigência de que piscinas e academias tenham horários específicos só para muçulmanos; crescimento enorme de atestado médico para mulheres com “alergia ao cloro” da piscina (sinal que, obviamente, há emissão de atestados médicos falsos); exigência e emissão por parte de certos médicos da chamada “Certidão de Virgindade” e vários outros. Não posso deixar de mencionar que, hoje, há certos bairros e regiões, guetos, conhecidas por serem um “forninho” para o radicalismo.

Vale enfatizar que nessas escolas clandestinas a lei ensinada é o Alcorão. Não a lei da República. 

Em 2017 eu morei em Nice, na França, com uma senhora nascida na Holanda. Ela mora na França há quase 50 anos, onde casou-se, teve três filhos, trabalhou e aposentou-se. E antes de eu explicar toda a história, ela é uma pessoa super liberal, já viajou o mundo, não se identifica em nada com a direita, com Trump, com Bolsonaro, com Marine Le Penn.

Apresentação e esclarecimentos feitos, ela contou-me que todo santo ano, ela tinha que carregar um dossiê até à “préfecture” (órgão que valida vistos e outros documentos afins) para validarem a “Carte de Sejóur” (tipo de documento que dá direito a morar legalmente na França). Todo ano eles inventavam uma exigência nova, perdiam documentos etc.

Pois é, caro amigo conterrâneo brasileiro, já ouviram sobre situações assim em algum lugar do Brasil? Mais uma da série: não é só no Brasil que essas pataquadas acontecem…

Pois bem, ano vai, ano vem, as mesmas presepadas aconteciam. Até que, um dia, ela cansou. E disse para o funcionário: “ah, se eu chegasse a nado da África, remando, sem documentos, sem nada, só com a roupa do corpo, aposto que minha documentação sairia rapidinho, sem exigências. Já eu que pago meus impostos, sou aposentada, tenho família, sou tratada com pouco caso. Como se vocês estivessem me fazendo um grande favor”.

Aposto que o funcionário ficou boquiaberto. E a partir desse dia, ela decidiu ser só uma holandesa que morava na França. “Simplement comme ça” (Simples assim)! 

Para ratificar tal exemplo, me contava um dono de uma loja de vinhos casado com uma brasileira, como em 1 (um) a 2 (dois) anos tais imigrantes ilegais conseguem o direito a uma bolsa auxílio mensal entre 500 e 600 euros, e acabam ficando pendurados nesse benefício por anos, sem trabalhar e, portanto, sem contribuir. De fato, nos últimos anos a imigração cresceu e continua crescendo (exemplo: 22% em 2018). Já a esposa desse senhor, mesma história da holandesa. Levou quase 10 (dez!!!) anos para de fato receber sua “Carte de Séjour” de 10 anos.

Esses são exemplos de como acredito que a França caiu de joelhos para o politicamente correto e, tendo isso na cabeça, acabava tratando de maneira desigual a todos. Daí uns serem mais “iguais” que outros. “Égalité?! Pas de tout!” (Igualdade?! Nada disso!).

E antes de falar do processo que hoje a França passa, quero deixar algo bem claro. Nunca fui muito fã do Emmanuel Macron, atual presidente da França. Morei em Nice na época de sua eleição e início de mandato e vi como ele tem certos vieses até por vezes autoritário. Estranho que soe, considerando o slogan do seu partido “La République en marche” (A República avança), é fato.

Hoje mudei um pouco minha visão sobre Macron. Melhor dizendo, tenho que dar mão à palmatória ou, pensando bem, um voto de confiança, pois o que ele está tentando fazer requer muito é culhões. É o que estão chamando de “plan contre le separatisme islamique (plano contra o separatismo islâmico), o qual será apresentado em 09Dez2020.

Macron fez questão de distinguir que o plano não é contra a população muçulmana, mas contra o separatismo islâmico, contra o islamismo radical, o qual tem como ideologia afirmar que suas leis são superiores as leis “de la République”. E, ainda afirmou, que o “Islã é uma religião em crise”.

Tal plano será apresentado no formato de projeto de lei (PL) e consiste em medidas como:

Em tempo, este PL visa reforçar uma legislação de 1905 que estabelece oficialmente a separação entre a Igreja e o Estado, que separa a religião da vida pública. A famosa “laïcité”.

Obviamente há críticas de todos os lados e das mais diversas, tais como:

É, muito ainda a acompanhar sobre o tema e seu desenrolar. Por ora, fica aqui “mes felicitations” (meus parabéns) a esta ação. Que obtenha sucesso.

“Libertas quae sera tamen” (Liberdade, e acrescento, sim, igualdade, ainda que tardia).

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